As estatísticas demográficas mostram que Portugal é o segundo país da Europa onde nascem menos crianças. Cada mulher em idade fértil tem apenas um filho e um terço. Em Espanha até as mulheres para lá da idade fértil têm mais filhos do que isto. O espectro da crise é tão assustador que até os fetos e embriões se apavoram e já nem querem aqui nascer. Alguns, poucos, recusam-se a nascer em Portugal com medo de serem inconstitucionais.
A Grécia, que vive uma crise pior, ainda apresenta alguns atractivos para nascer. Apesar de tudo, uma visita de estudo ao Pártenon de Atenas é mais aliciante do que às ruínas de Conimbriga. E quem nasce em terras helénicas sabe que, mesmo na pior crise, pode enfiar-se num barco e ir até Míconos, Delos, Santorini ou Séfiro. Neste momento, um pré-nascido em Portugal não sabe se quando chegar à idade adulta pode passar férias na Madeira sem pedir visto e passaporte ou se consegue atingir os Açores num barco a remos.
As cegonhas, que como se sabe não têm faringe e por isso vivem junto dos cabos telefónicos para comunicarem entre si, não têm ajudado à nossa situação demográfica. Os bebés são trazidos dos arredores de Paris por cegonhas que chegam todos os verões a Portugal para visitar os seus familiares, com as suas luzes roxas nas asas e os seus ninhos tipo “le bois”. Com o aumento do IVA da electricidade, os postes de alta tensão deixaram de ser atractivos para os ninhos e as cegonhas de França vêm cada vez menos fazer férias em Portugal.
Na hora de obter um filho e três décimas, a crise não deixa outra solução aos casais portugueses que não seja recorrer ao método clássico da fecundação natural por relação sexual. Razão tinha Marx: os pobres acham que se estão a divertir, mas na verdade só se estão a cansar.
Por: Nuno Amaral Jerónimo