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«Já não podemos viver da subsídiodependência»

Cara a Cara – Francisco Mota

P – Qual é a dinâmica do Oriental de São Martinho quando comemora o seu 59º aniversário?

R – É uma coletividade que sempre teve, ao longo destes 59 anos, muita dinâmica e temos conseguido mantê-la através das múltiplas atividades que desenvolvemos para os sócios e comunidade em geral. Um dos nossos lemas é fazer atividades o mais diversificadas possível para granjearmos um público cada vez mais vasto e com isso conseguirmos manter a coletividade com a dinâmica e a força que ainda tem passados estes anos.

P – Quais são as principais atividades que a coletividade desenvolve regularmente?

R – Temos apostado em atividades que fujam à regra. Na área desportiva temos o pool português e, mais dirigido para o público infantil, uma arte marcial chamada “Kempo Chinês”, além de continuarmos com a ginástica de manutenção, o ioga e a organizar o torneio “Cidade da Covilhã” de ténis de mesa, o segundo mais antigo do país, pois já vamos para a 36ª edição. Temos ainda as damas e o xadrez, que fazem com que muitos sócios ainda se mantenham ativos porque continuam a participar em torneios. Na área cultural destaco os grandes espetáculos musicais que o Oriental tem feito e que têm sido um verdadeiro sucesso. Em boa hora apostámos nessa área porque a Covilhã não tinha quem estivesse a fazer este tipo de atividade e conseguimos trazer muitos jovens e mostrar muitos talentos no canto, na dança e na representação, uma vez que o teatro musical engloba um pouco essas três áreas. O último espetáculo “Uma viagem à Broadway” foi um sucesso, esgotou sempre o Teatro Municipal da Covilhã. Nesta área continuamos também com o ensino da guitarra clássica, temos o grupo de música tradicional portuguesa “Trovas ao luar” e as danças infantil e juvenil. Na cultura e recreio temos as danças de salão, que também são um sucesso e a dança contemporânea. Temos cerca de 300 pessoas em atividade anualmente, o que mostra que somos realmente um clube com uma dinâmica forte.

P – Quantos associados tem? É um número que gostava de aumentar?

R – Temos cerca de 1.200 associados. Acho que é um número positivíssimo. Tendo conhecimento das coletividades como tenho, acho que o Oriental é daquelas que tem mais sócios. Obviamente que qualquer presidente gostaria muito que a sua associação tivesse mais sócios porque isso equivale a mais receita. Agora, sabemos que é difícil porque a Covilhã tem o “handycap” de ter muitas associações e por isso as pessoas habituaram-se a não ser sócias apenas de uma coletividade. A crise também faz mossa porque a quota até pode ter um valor insignificante, mas, como são sócias de vários clubes, tudo somado acaba por dar um valor avultado que faz com que algumas pessoas deixem de ser sócias. Portanto, neste momento 1.200 sócios para o Oriental é muito bom, mas claro que queremos sempre fazer mais e temos feito protocolos, por exemplo, com ginásios e academias para que os utilizadores tenham descontos nesses espaços. Com isso conseguimos também aumentar o número de associados.

P – A crise que se vive há alguns anos tem afetado o associativismo?

R – Tem e não. Tenho uma opinião um pouco diversificada. Se falarmos apenas economicamente, tem feito alguma mossa porque os recursos financeiros disponíveis são menores e isso leva-nos a que não possamos ter tantas atividades e gratuitas. Por outro lado, a crise também tem trazido às coletividades pessoas à procura de algum apoio. Nós oferecemos atividades que outras instituições oferecem a preços menores e aí o Oriental pode beneficiar com a crise, sendo que as associações, de uma forma genérica, têm um papel fundamental nesta crise porque podem ajudar a minimizá-la.

P – De que forma?

R – Ajudando as pessoas. Em pleno século XXI, o Oriental ainda tem pessoas que vêm cá tomar o seu banho. Estamos numa zona que era relativamente pobre e há 59 anos as pessoas procuravam o Oriental para fazerem a sua higiene. Muita coisa mudou, mas atualmente ainda temos pessoas que procuram a associação para isso. Também me chegou ao conhecimento que há pessoas que, no inverno, vêm à associação tomar o café, ver televisão e aquecer-se porque poupam energia em casa.

P – Qual é a atual situação financeira da coletividade?

R – A situação é muito estável. É um clube sem dívidas, sem passivo, que tem sede e fontes de receita próprias, pois já não podemos viver da subsídiodependência. Isso acabou há muito e cada vez mais as coletividades têm que procurar autofinanciarem-se e o Oriental tem tido essa preocupação. Estamos muito longe de sermos ricos, mas temos uma situação muito estável, o que deixa descansado qualquer sócio que queira assumir responsabilidades diretivas.

P – Há novos projetos que a sua direção pretenda implementar?

R – É complicado responder a isso porque o atual mandato termina em fevereiro e eu não posso prever o futuro. Agora, penso que há muitas coisas que o Oriental pode fazer e, com a sua dinâmica própria, tem capacidade e já demonstrou ao longo destes 59 anos que tem um manancial e uma força incrível. Não é à toa que é considerada das maiores coletividades da região. Haverá sempre muitos projetos e isso também depende da dinâmica dos seus dirigentes. Temos uma casa ao lado que está praticamente desocupada e poderemos pensar num projeto para ela. Alargarmos as nossas instalações, promovermos mais atividades nesses campo em que estamos a ter muito sucesso porque movimentamos muitos jovens do teatro musical, por exemplo.

P – Vai recandidatar-se?

R – Não. Este é o meu último mandato como presidente do Oriental. É uma decisão que está tomada. Obviamente que não é uma decisão para sempre. Sou orientalista e serei sempre, mas neste momento penso que também é preciso darmos lugar a outras pessoas. Tenho 35 anos, estou há 17 na direção e há dois que sou presidente. Portanto, dediquei metade da minha vida ao Oriental. Neste momento, estou seguríssimo que vão aparecer outras pessoas, o que demonstra que o Oriental é uma coletividade viva, tem uma massa associativa espetacular e participativa, que nunca vai deixar que o clube caia no vazio, e não vai cair de certeza absoluta.

Francisco Mota

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