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Bater no Fundo

Quebra-Cabeças

Embora o primeiro ministro seja quem detém mais poder, no sentido sobretudo da sua capacidade para fazer mais mal, ou mais bem, ao maior número de pessoas, é apenas a terceira figura na hierarquia do estado. À sua frente, em sucessivos graus de importância, figuram o presidente da assembleia da República e o presidente da República. Penso que não temos tido muita sorte com as pessoas que têm exercido esses cargos. A bem dizer, desde o Marquês de Pombal que a qualidade dos primeiros ministros tem vindo a cair. Quanto a presidentes da República, basta lembrar os nomes de Eanes e de Américo Tomás, sendo que em relação a este último temos a desculpa de o não ter escolhido. O mesmo podemos dizer dos presidentes da Assembleia da República, na prática escolhidos pelo partido com maior peso parlamentar entre as suas figuras de segunda linha.

Quando os três primeiros da hierarquia não prestam, ou não são suficientemente bons, que podemos esperar dos outros? O que não irá por aí de incompetência, ignorância, da mais ignara boçalidade, entre deputados, ministros, secretários e sub-secretários de estado, directores gerais, autarcas, gestores públicos e demais produtos das fábricas partidárias? É por isso que deveríamos exigir que pelo menos os cargos mais importantes sejam ocupados por pessoas de reconhecido mérito, isto a acreditar que o pais mantém ainda alguma capacidade de discernimento.

Não posso deixar de mostrar alguma inquietação perante a real perspectiva de podermos vir a exibir perante o Mundo, num futuro próximo, Santana Lopes como presidente da República, Durão Barroso como primeiro ministro e Alberto João Jardim como presidente da assembleia da República. Estou a falar a sério. É o Expresso que diz que o PSD pode dar o lugar ao Alberto João como forma de permitir a abertura da sucessão na Madeira, são as sondagens que catapultam Santana para a frente, é a nossa tradicional má sorte que apresenta Barroso como o mais provável sucessor de si próprio.

Que fizemos para chegar a este ponto? Tenho uma teoria. Há em Portugal seis milhões de portugueses infelizes. É uma ampla maioria, maior do que a de qualquer partido que alguma vez tenha governado Portugal. Quando são maltratados pela minoria, vingam-se. Quando são roubados, roubam de volta, mesmo que por interposta pessoa. Foi por isso que Vilarinho aconselhou o voto no PSD (que veio a ganhar as eleições). Ou então, pior ainda, desinteressam-se. Eu, por exemplo, não voto desde que percebi que o Benfica não volta tão cedo a ganhar o campeonato.

Por: António Ferreira

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