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Autarcas unem-se contra portagens na A23

Presidentes da Câmara de Castelo Branco, Abrantes, Nisa, Gavião e Mação aderiram ao protesto da CUABI

Centenas de carros buzinaram na última sexta-feira em Castelo Branco contra a intenção do Governo colocar portagens na A23. A marcha lenta, organizada pela Comissão de Utentes da Auto-Estrada da Beira Interior (CUABI), começou em vários pontos da região, mas foram os automobilistas vindos de Abrantes, Nisa, Gavião, Vila Velha de Ródão e da zona Sul do distrito albicastrense que conseguiram parar o trânsito nas várias vias de acesso a Castelo Branco. Só então automobilistas e transeuntes albicastrenses se juntaram à caravana para dizer “não às portagens”.

Mas o ponto alto do protesto aconteceu com os autarcas de Castelo Branco, Mação, Abrantes, Nisa e Gavião a recriminarem o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, António Mexia. «A A23 foi a porta aberta para o desenvolvimento da região. Tivemos agora a auto-estrada que esperávamos há mais de 20 anos», começou por dizer o autarca albicastrense Joaquim Morão (PS). «Colocar portagens é andar para trás», acrescentou, defendendo o cumprimento da promessa deixada por Durão Barroso na região em Julho de 2003, quando garantiu que esta auto-estrada nunca iria ter portagens. Mas foi o presidente da Câmara de Abrantes, Nelson Carvalho (PS), que mais criticou o Governo liderado por Pedro Santana Lopes, acusando-o de querer «interromper o desenvolvimento» de regiões «votadas ao abandono» há muitos anos. «Colocar portagens na A23 é um recuo insuportável e não estamos disponíveis para o aceitar», avisou, relembrando o actual primeiro-ministro que Cavaco Silva e Guterres construíram os troços da auto-estrada sem portagens e que o seu antecessor, Durão Barroso, «garantiu ao país que a A23 não iria ter portagens».

Prometendo mais luta, o edil de Abrantes lembrou que este é apenas «o primeiro argumento» para dizer a António Mexia e ao Governo que esta é uma «má decisão», pois a A23 «não é só uma auto-estrada, mas um instrumento para o desenvolvimento da região. Ela não é um problema. Este Governo é que é um problema do país e de todos nós», criticou. Também o autarca de Gavião, Jorge Martins (PS), apelou à luta «contra um Governo que não representa a população» e que «quer roubar o investimento», assumindo ainda que estes autarcas deram «o exemplo contra o comodismo» de muitos outros da região. Já a presidente da Câmara de Nisa, Gabriela Tsukamoto (CDU), ameaçou «vir para a rua e cortar a A23», advertindo ainda o Executivo de Santana Lopes que os autarcas «não estão à venda» e que não irão ceder. «Façam o favor de ser inteligentes, pois também pagámos para o litoral», acrescentou. A surpresa da noite foi o autarca social-democrata Saldanha Rocha, que juntou a sua voz à dos restantes colegas para exigir «o mesmo desenvolvimento, oportunidades e a mesma qualidade de vida que no litoral». Para o edil de Mação, a introdução de portagens na A23 irá originar apenas mais desemprego e a desertificação desta zona interior, para além de a fazer «regredir» 25 anos. «E eu não admito isso», advertiu Saldanha Rocha, prometendo «tolerância zero» para com o Governo do seu partido, pois este «não é um problema político, mas da região».

Para Jorge Fael, porta-voz da CUABI, o buzinão e a marcha lenta foram uma «grande acção de protesto e de descontentamento» face a uma medida que vai colocar muitas empresas da região na falência. «Estamos a tratar de emprego e desenvolvimento regional», sustentou, adiantando que será organizado ainda este mês um protesto com a Comissão de Utentes do IP5/A25. «É inaceitável haver portagens a Sul e a Norte», disse, considerando ser «ilegítimo colocar portagens naquilo que foi pago há muitos anos», contestou Fael. Uma opinião partilhada por Luís Esperança, outro elemento da CUABI, para quem a acção de protesto que juntou automobilistas, os sindicatos de Castelo Branco e autarcas «espelha a vontade» da região. «E se o ministro António Mexia não vê a vontade de uma região, é mais cego que os cegos», criticou.

Reacções

Joaquim Morão

Presidente da Câmara de Castelo Branco

«Estamos solidários com esta marcha porque a A23 foi a porta aberta para o desenvolvimento na região. Tivemos agora a auto-estrada que esperávamos há mais de 20 anos».

Saldanha Rocha

Presidente da Câmara de Mação

«Que fique bem claro e que não haja mal-entendidos, pois este não é um problema político, mas um problema da região. Por isso é que juntei a minha voz aos meus colegas. Colocar portagens na A23 é voltar 25 anos atrás. E eu não admito isso. Alternativas zero, tolerância zero».

Nelson Carvalho

Presidente da Câmara de Abrantes

«Este é o nosso primeiro argumento para dizer a António Mexia e ao Governo que esta é uma má decisão e exigir que o Governo recue nesta matéria. A A23 não é só uma auto-estrada, mas um instrumento para o desenvolvimento de uma região que está votada ao abandono há muitos anos. Esta é a oportunidade de nos equipararmos a outras regiões do país e o Governo quer interromper esse desenvolvimento. A A23 não é um problema. Este Governo é que é um problema do país e de todos nós».

Gabriela Tsukamoto

Presidente da Câmara de Nisa

«O meu distrito quer dizer não às portagens na A23. Os autarcas não estão à venda e não cedemos nesse aspecto. É necessário investimento e discriminação positiva para todos. A A23 é fundamental. Por isso, façam o favor de serem inteligentes, pois também pagámos para o litoral. Esta luta não pode acabar aqui e também sabemos vir para a rua e cortar a A23».

Jorge Martins

Presidente da Câmara de Gavião

«Temos que lutar contra a intolerância e a arrogância. Temos que ser capazes de afirmar que não há questões irreversíveis e que não pode ser um Governo que não representa a população a querer vir roubar o investimento»

PCP questiona financiamento comunitário das SCUT

Eurodeputados querem saber quanto gastou a Comissão Europeia na A23 e A25

Os eurodeputados do PCP Ilda Figueiredo e Sérgio Ribeiro pretendem informações da Comissão Europeia sobre os montantes dos apoios comunitários à construção das auto-estradas sem custos para o utilizador (SCUT) em Portugal. O pedido é feito num requerimento dirigido à Comissão Europeia, divulgado terça-feira pelas Comissões de Utentes da A23 e A25. Os eurodeputados comunistas referem que «em Portugal foram construídas várias vias rodoviárias de circulação rápida, promovendo acessibilidades onde as alternativas eram deficientes, escassas e nalguns casos nem sequer existiam», adiantando que algumas daquelas vias foram construídas «beneficiando de fundos comunitários, no quadro da criação de redes transeuropeias», como é o caso de várias IP, nomeadamente, as IP6/A23, IP5, IP4, entre outras. «Como o Governo pretende passar a cobrar portagens nestas vias, o que tem sido contestado pelos utentes que têm formado comissões de protesto, solicitamos à Comissão que nos informe dos montantes de financiamento comunitário que foram atribuídos para a construção destas vias», questionam os deputados eleitos pelo PCP, que no Parlamento Europeu integram o grupo Esquerda Unida. Neste contexto, o porta-voz da Comissão de Utentes da Auto-Estrada da Beira Interior (CUABI), Jorge Fael, já considerou ser «um erro cobrar portagens, quanto mais implementar dupla tributação em troços que já estão pagos». Aquele responsável apontou como exemplos o troço da A23 entre Castelo Branco e Soalheira (ainda inaugurada durante a governação de Cavaco Silva, então como IP2), de Abrantes a Torres Novas (IP6) e um dos túneis da Gardunha, «tudo concluído antes de António Guterres ter implementado o regime SCUT». Para este mês está prevista uma acção de protesto conjunta com a Comissão de Utentes do IP5/A25.

Liliana Correia

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