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Autarcas da Beira Interior reclamam mais de 30 milhões de euros devido a incêndios

Cerca de 90 por cento das áreas dos municípios do Fundão e Guarda estão reduzidas a cinzas

A região da Beira Interior sofreu este ano os maiores incêndios de que há memória nas últimas duas décadas. Segundo apontam as primeiras estimativas dos municípios atingidos, tudo indica que o Estado português vai ter que pagar um valor superior a trinta milhões de euros (seis milhões de contos) de compensações às autarquias em causa. Os primeiros dados ainda são provisórios, mas a grande maioria das Câmaras da região deverá divulgar os números concretos já na próxima semana, até porque o formulário com os cálculos será enviado ao Governo até à próxima quarta-feira, fim do prazo dado pelo secretário de Estado da Administração Local, Miguel Relvas, na reunião com todos os presidentes de Câmaras afectadas pelos incêndios, no passado dia 20.

Para o balanço dos prejuízos, “ O Interior” contactou autarquias do distrito da Guarda e da zona da Cova da Beira, apurando que Guarda e Fundão são os concelhos mais afectados, com mais de 90 por cento das suas áreas ardidas. Segundo Maria do Carmo Borges, autarca da Guarda, a área afectada no concelho foi estimada em cerca de 23 mil hectares. Quanto ao resto, a presidente recusou-se a falar com «dados provisórios». Já o concelho do Fundão, num relatório preliminar, adianta um número superior a 16 milhões de euros como o montante dos prejuízos deixados pelas chamas. Neste valor foram tidas em conta as perdas de mais de uma centena de colmeias e vasta mancha florestal, assim como estradões, pontões e sistemas de distribuição de água, que tudo somado perfaz um total superior a 15 milhões de euros. O restante milhão refere-se a estragos em infraestruturas sociais (Escola do 1º Ciclo da Ladeira), turísticas e rurais, assim como em equipamento municipal, e não só, e aquisição do mesmo. Falta apenas apurar os estragos em olivais e vinhas pertencentes à autarquia fundanense.

No distrito da Guarda a história repete-se, com excepção dos concelhos de Manteigas, onde não existiu qualquer foco de incêndio até ao momento, e Penamacor, com fogos de pequena dimensão sem necessidade de se contabilizarem os prejuízos. Mas em Gouveia as contas já foram feitas. Segundo o vice-presidente da Câmara de Gouveia, Gil Barreiros, registaram-se cerca de 1.200 hectares ardidos e uma casa de habitação, palheiros, mato e vinhas destruídos, sendo as freguesias de Rio Torto, Folgosinho ou Vinhó algumas das mais atingidas. Também Pinhel perdeu para os fogos 71,65 quilómetros quadrados de 13 das suas freguesias, que «nem os corta-fogos que fizemos em Julho os parou», lamenta o adjunto do presidente, Rui Ventura.

Tratar efeitos colaterais

Já o presidente de Trancoso, Júlio Sarmento, refere terem ardido cerca de quatro mil hectares. À semelhança deste concelho, também Fornos de Algodres e Belmonte não têm os custos contabilizados, registrando-se três ocorrências, neste último, com um total de 90 hectares queimados. Em contrapartida, no primeiro concelho, 14 das 16 freguesias viram vinhas, matos e olivais devastados, principalmente na freguesia de Muxagata, perdendo nos incêndios um total de cerca de 600 hectares. Com cerca de 50 por cento de terreno ardido (2.500 hectares) e 240 mil euros de prejuízos, António Caetano, presidente da Câmara de Celorico da Beira, revela terem sido destruídas três habitações, uma carpintaria, palheiros e mato. Apesar desta contagem servir para assegurar subsídios governamentais, o presidente deixa uma ressalva referente aos efeitos colaterais dos incêndios, como «a limpeza dos leitos dos rios ou a erosão do solo». Estes são problemas que «merecem a preocupação de todos, pois podem prejudicar infraestruturas estatais, como estradas». Já os concelhos de Almeida e Mêda perderam cerca de quatro mil e 604 hectares, estimando-se custos que rondam um milhão e 250 mil euros, respectivamente. Entre mato, pinhal, olivais, vinhas e carvalhos, foram também reduzidos a cinzas armazéns e animais, em ambos os municípios.

«Setembro é sempre pior que Agosto»

Seia foi outra das autarquias que não escapou às labaredas. Cinco mil hectares queimados e 100 mil euros de prejuízos em 12 freguesias, como Alvoco ou Sabugueiro, é o balanço final. Perdeu-se «principalmente espécies biogenéticas no Parque Natural da Serra da Estrela», confessa Paulo Caetano, assessor do vice-presidente. No município de Figueira Castelo Rodrigo, a situação mudou de figura com a morte de um dos bombeiros locais. Os custos estimados pela autarquia ascendem aos 90 mil euros, com cerca de cinco mil hectares de mato ardidos (dez por cento de área total) e a perda de um auto-tanque dos “soldados da paz”. Já a Câmara covilhanense estipula os prejuízos acima dos 1,5 milhões de euros, pois algumas das freguesias ainda não estavam contabilizadas. Das localidades mais fustigadas destaca-se Unhais da Serra e Teixoso. O município de Sabugal também lidou com as labaredas. Com cerca de quatro dezenas de ocorrências de pequena dimensão, o município não apresenta custos elevados, pois ardeu apenas mato, sendo que alguns dos fogos eram originários de outros concelhos. Nas restantes autarquias, os incêndios não consumiram um número significativo de área nem causaram estragos avultados, como aconteceu em Vila Nova de Foz Côa. Mas o período mais devastador, segundo rezam as estatísticas, ainda está para vir. Para Armando Pinto Lopes, presidente da Câmara de Figueira Castelo Rodrigo, «Setembro é sempre pior que Agosto», estando já a decorrer estudos para «evitar esta situação no futuro».

Liliana Machadinha

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