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Como acabar com o flagelo dos fogos

Os acontecimentos dos últimos dias, em matéria de incêndios, deixaram-me estupefacto face à gravidade das áreas ardidas, dos prejuízos e das vidas perdidas. Os bombeiros, com ou sem meios, pouco poderão fazer em situações com a que vivemos. Feito o balanço negativo destes últimos dias quentes de Verão, que deixou tantas famílias desesperadas e na miséria, permita-me Vossa Excelência apresentar, quanto a mim, a melhor medida de combate aos fogos.

Partindo do velho ditado de que sem rastilho não há fogo, todas as matas deviam ser limpas por todos os arrendatários, concessionários ou proprietários. Para isso, o Governo deveria, na minha modesta opinião, subsidiar a limpeza das mesmas, mas com a obrigação de todos fazerem a limpeza quer das matas ou pinhais, dos secos das propriedades rurais, etc., deveriam ser criadas Brigadas de Fiscalização e estabelecidas coimas para os infractores. Esta medida deveria ser implementada de imediato e as matas, não só de privados, como da responsabilidade do Estrado (Serviços Florestais), deveriam ser limpas todos os anos, até ao inicio da Primavera, o mais tardar até Abril.

Ainda assim, caso os infractores não diligenciassem quanto à limpeza das matas e das terras, o Estado poderia proceder à penhora das mesmas.

Estou convicto que jamais alguém brincaria com os fogos e as florestas que são, ou eram a nossa maior riqueza nacional. Até os criminosos deixavam de brincar. Para além disso, criavam-se inúmeros serviços. Até o Estado poderia mobilizar os desempregados, concretamente para as áreas do seu domínio.

Como se sabe, todos os anos os fogos consomem milhares de hectares de floresta. É a Protecção Civil, são os bombeiros e os dispendiosos meios aéreos. Em suma, gasta-se quantas vezes mais que fazer cumprir uma simples medida que, aplicada a rigor, não só poupava dinheiro ao Estado, como travava o desaparecimento das nossas florestas, que tanta falta fazem à fauna, flora, espécies, o oxigénio que respiramos e ainda a paisagem negra com que ficamos. Não tenho dúvidas que reduziria a menos de 90 por cento o flagelo dos fogos.

A medida que sugiro foi em devido tempo, e já lá vai muito mais de uma dúzia de anos, apresentada ao então Senhor Primeiro Ministro, Dr. Mário Soares. Agradeceu-me na altura a minha preocupação e sugestão, mas não passou disso.

De resto, também seria oportuno pensar-se numa urgente reflorestação e, porque não dizê-lo, testar os solos a outros tipos de árvores, com o devido respeito pelo pinheiro bravo. A evolução também passaria pela nossa modernização neste domínio. Mas não ficaria por aqui. Obrigava também os proprietários ou inquilinos das casas de habitação a limparem as suas chaminés, à semelhança do que sucede em muitos países da Europa, nomeadamente da Comunidade Europeia.

Manuel Lopes de Figueiredo, Guarda (carta enviada ao Primeiro Ministro e Ministro da Administração Interna)

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