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Aumento do preço compensa quebra na produção

Freguesia do Ferro tem cerca de 80 produtores que não tiveram mãos a medir na recente Feira da Cereja

Apesar de uma quebra de produção de menos 50 por cento em relação ao ano anterior, os cerca de 80 produtores de cereja do Ferro, no concelho da Covilhã, acabaram por não sofrer grandes prejuízos devido à subida do preço daquele fruto tão procurado na Cova da Beira. A “sorte” da cereja daquela freguesia amadurecer mais cedo que a do Fundão também fez com que os danos provocados pelo mau tempo não fossem tão elevados como no município vizinho.

«A campanha acabou por não correr mal de todo por causa do preço. É a lei da oferta e da procura», sublinha Paulo Tourais, presidente da Junta de Freguesia do Ferro. Deste modo, o facto de ter havido «menos oferta, fez aumentar o preço e ajudou a compensar o prejuízo», explica. De resto, apesar de saber que os produtores da freguesia sofreram alguns danos, à Junta não chegou qualquer pedido de apoio formal, isto apesar de se ter registo uma diminuição na produção de cereja de «menos 50 por cento» do que em anos anteriores. Uma contingência que não impediu que a Feira da Cereja organizada na freguesia no início deste mês tenha sido um sucesso, com as cerca de três toneladas vendidas a serem poucas para os perto de 15 mil visitantes que passaram pelo certame e que vieram de vários pontos do país. «Tivemos excursões do Porto e de Leiria, fora os visitantes que vieram a título individual, e não vendemos mais porque não tínhamos, apesar de todos os dias se terem feito colheitas», assegura o autarca. Um claro sinal de que a cereja da Cova da Beira está em alta e tem «qualidade superior», mercê do «micro-clima existente e da exposição». No caso concreto do Ferro, beneficia ainda de estar inserida entre duas serras, a da Estrela e a do Ferro, o que também ajuda a explicar que relativamente ao concelho do Fundão a cereja desta freguesia do concelho da Covilhã «amadurece mais cedo», uma vez que «temos uma exposição diferente da da Gardunha», realça. Produtores registados «só na freguesia» rondam os 80 e com tendência «para aumentarem», já que a cereja «está a ter um incremento muito forte», frisa. No êxito que a cereja da Cova da Beira tem tido, Paulo Tourais reconhece que o trabalho de promoção levado a cabo pela Câmara do Fundão tem contribuído para suscitar ainda mais interesse para uma das “rainhas” da região. Aliás, o autarca enaltece que o Interior «tem coisas maravilhosas e fantásticas que, por exemplo, Lisboa não tem, nem nunca terá. Têm é que ser devidamente promovidas e divulgadas», garante, considerando que a cereja traz uma «notoriedade muito grande e atrai pessoas ao Fundão e aos concelhos vizinhos».

Prejuízo de 10 milhões de euros no Fundão

A Câmara do Fundão e as associações de produtores de cereja da Cova da Beira vão pedir ajudas ao Governo devido aos prejuízos provocados pela chuva na produção daquele fruto, que estimam em 10 milhões de euros. O anúncio foi feito, na semana passada, em conferência de imprensa pela Cercobe – Cooperativa de Fruticultores da Cova da Beira e Apizêzere, que representam perto de 500 produtores dos concelhos de Belmonte, Covilhã e Fundão, que alberga cerca de 70 por cento do total. As associações estimam que das 8 mil toneladas de cereja previstas para a campanha deste ano não se salvem mais de duas mil. A chuva provocou o fendilhamento da cereja, um fenómeno em que o fruto fica rachado e que acontece todos os anos com parte da produção, «mas não com a dimensão» deste ano. Assim, «esta é uma campanha perdida», frisou Marques Francisco, director da Cercobe. Este ano houve mais chuva e humidade que o normal, o que provocou prejuízos «só semelhantes aos de 1995 e 1997», em que o Governo accionou medidas de apoio, recordou Paulo Águas, da Apizêzere. Já o presidente da Câmara do Fundão referiu que os prejuízos ascendem a 10 milhões de euros, isto «sem empolar o preço», explicando que foi considerado o preço base de dois euros por quilo. «Não queremos que o Governo suporte todos os prejuízos. Mas pedimos que active todos os mecanismos ao dispor», de modo a que «os produtores não desanimem e abandonem os terrenos e para que garantam a capacidade de investimento para o próximo ano», sublinhou Manuel Frexes. A criação de linhas de crédito bonificadas é uma das sugestões do autarca, «tendo em conta que há centenas de famílias que vivem da cereja». A situação vai ser exposta numa carta dirigida ao primeiro-ministro, ao ministro da Agricultura e à Direcção Regional de Agricultura.

Ricardo Cordeiro

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