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Carpinteiro confirmada como a “terra dos burros”

Primeira concentração de jumentos da aldeia juntou cerca de 30 exemplares no último domingo

Há muito tempo conhecida como a “terra dos burros” entre as outras anexas que compõem a freguesia de Casal de Cinza, a localidade de Carpinteiro decidiu retirar proveito deste epíteto no último domingo. A aldeia, localizada a poucos quilómetros da Guarda, viveu um dia diferente e bastante animado por ocasião da Iª Concentração de jumentos, que reuniu cerca de 30 exemplares, na sua maioria oriundos da aldeia, o que atesta que a raça asinina não está em vias de extinção, pelo menos por estes lados.

«Já que temos a fama, também temos que tirar proveito de ser burros», ironizou João Paulo Santos, da organização, que esteve a cargo da Associação de Melhoramentos de Carpinteiro. Alguns donos esmeraram-se em adornar os seus burros com chapéus, fitas e até óculos houve para enfeitar os asnos. O “Macaco”, com a bonita idade de 34 anos, foi o mais velho a desfilar, ele que deve ter tido alguns descendentes a participar também. Apesar das visíveis dificuldades de locomoção, o “rei dos asnos” lá fez a sua “perninha” para mostrar como um burro pode ultrapassar a barreira dos trinta, apenas com umas ligeiras dores de reumático. «E trabalhou muito», garantiu Joaquim Morgado, o dono, que desconhece a “receita” para o animal ter durado tantos anos, assegurando apenas que o trata bem: «É a primeira coisa que faço todos os dias», revelou o também proprietário de outro burro, este mais novinho, com uns tenros nove anos de idade, de que o dono não se recorda o nome. Também não interessa, porque o mais importante foi o «convívio», sublinhou Joaquim Morgado.

Se o “Macaco” foi o jumento veterano do certame, o “Chico” foi um dos benjamins, com apenas três anos. O seu dono, Humberto Costa, explicou que o animal serve actualmente «para andar com a carroça» e para «lavrar a terra». Apesar de aqui e ali se comentar que era preciso ter cuidado com as mordidelas dos burros e de uns coices acolá, não houve incidentes a registar e até deu para António Antunes “passar pelas brasas” em cima do “Ambrósio”. Em cima de uma carroça, uma senhora aproveitou para fazer, calmamente, mais uns pontos na renda. Já António Rodrigues usou o passeio com o “Januário”, de 17 anos, para mostrar a sua carroça adornada com peças e materiais de carpinteiro. De resto, ainda utiliza o seu burro para «gradear os terrenos onde os tractores não conseguem chegar». A “Princesa” foi uma das “senhoras” a desfilar e o seu dono, Joaquim Santos, elogiou a «grande adesão» que o evento registou.

Satisfeito com a «qualidade» dos jumentos presentes e o «empenho» da população ficou Luís Marques, presidente do júri. O jovem de 22 anos, residente no Carpinteiro, revela que os moradores estão «habituados» a que chamem à aldeia a “terra dos burros” e que essa designação «não os afecta em nada». Já Martinho Rodrigues, presidente da Associação de Melhoramentos, realça que o evento pretende «trazer mais gente» a uma aldeia que tem «estado sujeita a muito isolamento». Também para atrair visitantes, a AMC vai abrir brevemente um pequeno museu na sua sede, onde serão recriadas várias oficinas, do pedreiro ao tosquiador, passando pelo sapateiro, alfaiate ou carpinteiro, entre outras.

Ricardo Cordeiro

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