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Aumento do IVA vai gerar «efeito claramente recessivo»

Empresários da região mostram-se preocupados com medidas de austeridade anunciadas pelo Governo

O anúncio de um novo aumento da taxa de IVA, de 21 para 23 por cento, está a provocar uma preocupação generalizada entre os empresários do distrito da Guarda. Há até quem garanta que será «inevitável» o despedimento de alguns funcionários com a entrada em vigor desta medida a partir de 1 de Janeiro de 2011.

O presidente da AENEBEIRA – Associação Empresarial do Nordeste da Beira, apesar de não colocar em causa «a premente urgência» das medidas anunciadas dada a situação financeira do país, considera que vão gerar um «efeito claramente recessivo na actividade económica» e uma «diminuição do consumo». «São extremamente negativas para os cidadãos em geral e para o tecido económico, que vai sofrer garantidamente uma redução do consumo, uma vez que há uma diminuição do poder de compra, um aumento da carga fiscal e cortes salariais na função pública», sublinha António Oliveira. É que este conjunto de medidas vai ter «um efeito negativo no rendimento disponível dos portugueses e isso vai sentir-se na actividade económica». Por outro lado, o aumento da taxa de IVA em dois pontos percentuais «vem agravar ainda mais a desvantagem competitiva em relação ao mercado espanhol», avisa, pelo que vai ter «algum impacto» em termos da actividade económica local dada a nossa proximidade com o país vizinho.

«Este novo agravamento torna as coisas ainda mais complicadas dado o diferencial do IVA já existente entre os territórios português e espanhol», refere. O dirigente considera «inevitáveis» as medidas anunciadas pelo Governo, tendo em conta que o país corre o risco de «perder credibilidade internacional e não conseguir que mais ninguém lhe fie». «Vivemos de crédito do exterior e há um momento em que se não nos emprestam dinheiro temos que cortar por algum lado», salienta, perspectivando que vai haver, «quase seguramente, um crescimento negativo do PIB no próximo ano». No entanto, não crê que o aumento do IVA possa vir a provocar despedimentos ou mesmo o encerramento de algumas pequenas empresas associadas da AENEBEIRA: «Não acredito que seja o caso, mas naturalmente que não facilitará. Antes pelo contrário, complicará a situação das empresas», vaticina. Mais radical é Francisco Andrade, do Ecomarché de Vilar Formoso, que ainda tem «esperança» que o aumento do IVA «consiga ser travado, porque seria o caos se fosse para a frente», assegura. «O Governo tem a obrigação de arranjar uma fórmula que não nos penalize. Se a solução é ir buscar sempre dinheiro ao bolso dos mesmos, qualquer um pode ser primeiro-ministro», ironiza.

«Vou mandar as pessoas irem ter com o Sócrates»

O empresário realça que a taxa de IVA em Espanha é de 18 por cento e, caso a proposta do Governo vá avante, haverá uma diferença de cinco pontos percentuais e o aumento do desemprego será uma consequência «inevitável»: «Se isso acontecer, vou antecipar-me à crise e vou mandar as pessoas irem ter com o Sócrates. A única coisa onde podemos cortar é no pessoal», assegura. Francisco Andrade prevê ainda um regresso das pessoas a Espanha para fazer compras, sendo que, «primeiro, vamos sofrer nós, que estamos mais perto da fronteira, e depois todo o distrito da Guarda». Por seu turno, António José Baptista, gerente do Hotel Mira Serra, de Celorico da Beira, sustenta que se o IVA for aumentado, será uma «péssima estratégia, porque não vai levar a lado nenhum, a não ser à diminuição do consumo». «O que devia ser feito era ir buscar dinheiro onde ele existe, que é à banca, onde têm sempre tremendas taxas de lucro», contrapõe. Nesse sentido, o empresário teme que o seu negócio possa «ficar pior» no futuro, já que a subida do IVA vai reflectir-se na vida das pessoas, avisa. «Esta unidade hoteleira limita-se a sobreviver e a acreditar no futuro. As pessoas podem retrair-se de ir para os hotéis, mas acho que as maiores dificuldades serão mesmo para os empresários», considera.

António Pedro, do grupo Santiago, mostra-se resignado com a subida da taxa do IVA: «Não temos outro remédio se não queremos afundar o país de vez. É um mau geral que já devia ter sido feito no ano passado», sublinha. Contudo, o empresário de Trancoso sugere ao Governo outra forma de reduzir custos: «O mais importante seria diminuir o número de deputados. 50 ou 60 chegavam bem para fazer o que fazem e ajudaria a diminuir a despesa», sustenta. O aumento do IVA terá «impacto», mas «se a dívida disparar, a despesa daqui por dois ou três anos ainda vai aumentar mais e o país pode cair mesmo na bancarrota», daí que seja um «mal inevitável nesta altura», atendendo aos «erros que se cometeram no passado». Quanto a Rui Gonçalves, do grupo Gonçalves & Gonçalves, que, entre outras empresas, é proprietário das áreas de serviço da BP do Alto do Leomil, na A25, no concelho de Almeida, diz-se «muito mais preocupado com o corte nos ordenados dos funcionários públicos do que com o aumento do IVA, dada a realidade económica desta região, porque isso vai afectar o poder de compra das pessoas». Em relação ao futuro do negócio nas bombas de combustível que estão localizadas perto da fronteira com Espanha, o empresário assegura que não está preocupado porque «é impossível vender menos do que aquilo que lá vendemos neste momento», garante.

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