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Atchim, senhor ministro

Entrementes

Aaatchiiimmm!…

Pois é, caros leitores, estou com uma daquelas gripes de alto lá com ela. Apesar disso cá estou na escola pública desta espécie de país gerido por uma espécie de governantes. Perguntarão vossorias porque esconsa razão estará este escriba na escola quando, em boa verdade, deveria estar a pôr em prática a sabedoria popular que aconselha para estes casos o “abafa-te, abifa-te e avinha-te”. E perguntariam muito bem não se desse o caso de à escola ter chegado um documento oriundo da Direção Geral de Planeamento e Gestão Financeira do Ministério da Educação e Cultura (Ofício Circular nº 3/DGPGE/2013) a pôr, preto no branco e em letra de forma, o seguinte:

“Há lugar a perda total de remuneração sempre que o trabalhador faltar por motivo de doença nos primeiros três dias (…)”. E pronto, está assim explicado o porquê de este vosso concidadão ter agarrado no último cobertor de papa que tinha em casa (daqueles que ainda eram feitos em Maçaínhas), numa mão cheia de pacotes de lenços, mais uns xaropes e uns comprimidos e aqui estar na frente dos seus muito esforçados e compreensivos alunos. E não o faz, assumidamente, por paizão (que tem) pela profissão, mas pela imperiosa necessidade de não perder os poucos euros que o sempre mãos-largas Estado lhe põe na conta depois de lhe ter sonegado muitos em impostos e outras artimanhas que tais.

Será até caso para dizer que isto de ficar doente custa os olhos da cara… Mas será esta mais uma medida a bem da nação (onde raio já ouvi eu isto?… ) e trará sem sombra de dúvida um grande aumento de produtividade e ganhos, muitos ganhos, ao nível da qualidade da educação neste nosso cantinho.

Agora mais a sério que a coisa merece. É de todo horripilante que, em pleno século XXI e num país que se arroga o estatuto de pertencer ao grupo dos ditos desenvolvidos, se publique legislação deste teor. Ainda que se reconheça que existem trabalhadores que faltam recorrendo a estratagemas pouco transparentes, não é com este tipo de diplomas que se moraliza o sistema. De facto isto mais parece a velha anedota do médico que, diagnosticada gangrena na perna esquerda do doente, lhe amputa a direita… Ora, ou muito me engano ou diríamos deste clínico que era mau profissional. E, analogia puxa analogia…

Mas como, segundo parece, manda quem pode, obedece quem deve (raios!… Lá estou eu a recuar umas décadas no tempo…) o tal documento não se fica por aí e, num outro ponto alerta para o facto de, se o trabalhador faltar mais de trinta dias por ano por motivo de doença, lhe ser descontado o tempo que excede esses primeiros trinta dias em termos de antiguidade. Se a outra medida me parece profundamente injusta para aqueles que têm efetivamente o azar de adoecer que dizer desta?… Que culpa terá o trabalhador de, longe vá o agoiro, lhe ser diagnosticada doença grave e prolongada?… Que culpa terá o trabalhador se o ministério o colocar a dezenas ou centenas de quilómetros de casa e ele tiver um acidente que o atire para uma cama de hospital durante, mera hipótese, dois meses?… E se ao trabalhador for diagnosticada doença contagiosa? Indo trabalhar poderá depois ser julgado por ter espalhado a doença e criado uma epidemia?… Pronto, está bem, só por esta vez deixem-me ser demagogo…

Todos sabemos que existem casos de trabalhadores que exageram e utilizam subterfúgios os mais diversos para se poderem ausentar do seu local de trabalho mas, legislar deste jeito não será “confundir o género humano com o filho do Ti Germano”?…

PS: Por tudo o que temos passado, mas sobretudo para defender o futuro dos muitos que agora não o entrevêem, lá estive no sábado passado, em Lisboa, a exercer o meu direito à indignação.

Por: Norberto Gonçalves

Comentários dos nossos leitores
fernando capelo fernandopereiracapelo3@gmail.com
Comentário:
Bem, muito bem, como sempre.
 

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