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As portagens: um roubo definido por lei!

Editorial

1. Com a introdução das portagens em eixos rodoviários da relevância da A25 e da A23, as assimetrias foram impulsionadas de forma exponencial e as possibilidades de coesão territorial foram definitivamente encarceradas. Viajar de e para o interior passou a ser muito caro porque as duas autoestradas que prometeram «desencravar o interior» sobrepuseram-se ao perigoso IP5 e à velha e abandonada Nacional 18 sem, no entanto, incluírem alternativas. Ao ultraje, respondeu-se com brandura; ao vitupério, opuseram-se poucos e com meros buzinões. Em três anos de políticas de austeridade, nada foi tão maléfico para a economia do interior como as portagens.

A Comunidade da Beira Baixa manifestou-se pela redução das portagens na A23 em 50 por cento. Aguarda-se que a Comunidade das Beiras e Serra da Estrela faça o mesmo. Só com um movimento dinâmico de intervenção, com algum ruído e muita força política, poderá haver uma mudança de estratégia em relação às ex-SCUT.

Entretanto, o secretário de Estado dos Transportes promete reorganizar o sistema de utilização das SCUT de forma a que «só se pague o que se anda», levando os autarcas de Aveiro, Viseu e Guarda a concluírem que viajar na A25 será menos dispendioso. Obviamente, que não é mais do que uma manobra político-partidária (são todos do mesmo partido) para ludibriar os cidadãos sobre as portagens mais onerosas do país. O que se espera e exige é a eliminação das portagens. O que se quer é que as autoestradas sejam um contributo efetivo para «desencravar o interior» e não mais um látego para a economia débil do interior.

(Há três anos promovi uma petição contra a introdução de portagens. Recolhi mais de quatro mil assinaturas. Fui à Assembleia da República. Repudiei o sentido da introdução das portagens na A23 e A25. Procurei demonstrar aos deputados o atentado e a injustiça que representava a introdução de portagens. Percebi que o parlamento está povoado por uma maioria de palermas (os deputados) eleitos em nome dos distritos e nos lugares disponibilizados pelos partidos. Enquanto evidenciei o óbvio, os deputados não me ouviram por estarem muito ocupados a manusear os gadgets ou a dormitar. E concluíram, sem saber do que estavam a falar, que sim, os que concordavam, e que não, os que discordavam. Infelizmente, no parlamento decide-se de acordo com a voz do chefe. Para dizer sim e para dizer não… Quando tivermos no parlamento deputados com um mínimo de categoria, alguma cultura e um bocadinho de inteligência… talvez as pessoas voltem a ter algum interesse pela política. Até lá, vamos ter de continuar a conviver com o ultraje de nada acontecer em prol da cidadania… nas portagens como no resto. Entretanto, a região mais pobre da Europa paga as portagens mais caras de Portugal. Mais caras que as de Lisboa onde o rendimento médio é quatro vezes mais alto…).

2. A eleição de “secretários” para a CIM das Beiras e Serra da Estrela parecia merecedora de aplauso e aceitação generalizada. Os currículos profissionais de António Ruas e José Gomes garantiam capacidade e competência na dinamização da CIM e apoio dos 15 presidentes de câmara da CIM. Mas faltava o apoio partidário. E, como sempre, os partidos disputam tudo para os seus boys, para aqueles que, independentemente do perfil ou competência, querem lugares. O PS tem maioria na comunidade e, com razoável surpresa, foi à primeira assembleia impor a sua força: O PS quer os seus boys nos lugares que houver disponíveis – mesmo sendo certo que só se chegou aqui porque o socialista Jorge Brito quis o lugar, mas depois virou costas e foi para Coimbra. Entretanto, o tempo passa e em vez de se andar a projetar o futuro da região, assistimos a discussões de lana caprina, com disputas de lugares e habilidades partidárias. Haja paciência!

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
antonio vasco s da silva vascosil@live.com.pt
Comentário:
No dia 10 de junho vai ter a oportunidade que lhe faltava para expor ao nosso amado Presidente da República o seu e nosso ponto de vista. Mas temo que de nada adiantará, pois também ele está feito com as políticas deste governo. Sendo assim, só nos resta escolher outras formas de nos manifestarmos. Tem razão em tudo o que diz, mas estes senhores do Governo estão cegos e não se importam. Os produtos saídos do interior deviam chegar a Lisboa com o triplo do preço, ou então barrar a passagem dos camiões nas nossas autoestradas com a mercadoria vinda da Europa. Em todo o caso, o senhor faz uma boa abordagem ao assunto, mas vai ter de ficar a falar sozinho, está visto.
 

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