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As II Jornadas de Património da Beira Interior e a “Lusitanea”

Nos Cantos do Património

Já lá vão seis anos desde a realização das I Jornadas do Património da Beira Interior, em 1998. Desde esse ano que a investigação sobre o passado da Beira Interior progrediu imenso, sobretudo no que respeita à época romana. Impunha-se, pois, a realização de umas II Jornadas que reunissem os especialistas e os investigadores sobre temas do património e, especialmente, da Proto-história regional. Uma vez mais a cidade da Guarda apresentava-se como o local propício para a reunião, a realizar nos próximos dias 21 e 22 de Outubro, para se debater os caminhos trilhados pela investigação.

Desta vez, a Ara – Associação de Desenvolvimento, Estudo e Defesa do Património da Beira Interior – que organizou as I Jornadas, associou-se ao Centro de Estudos Ibéricos, entidade da Guarda incontornável na organização de encontros científicos nesta cidade.

Nestas II Jornadas debater-se-á a presença dos Lusitanos e dos Romanos no nordeste da Lusitânia, região que incluía quase toda a Beira Interior e parte do actual território espanhol. A presença de arqueólogos espanhóis, nomeadamente do “Consejo Superior de Investigaciones Científicas”, impunha-se como obrigatória. Muitos desses investigadores espanhóis têm colaborado com os arqueólogos portugueses que trabalham na Beira Interior e, portanto, a troca de experiências, de ideias e de informações na cidade da Guarda permitirá dinamizar novos projectos comuns e apontar caminhos para futuras investigações.

Consta do programa das jornadas um conjunto de comunicações diversificadas que vão desde o interessante conjunto de gravuras da Idade do Ferro do Parque Vale do Côa, apresentado por Martinho Baptista, até ás mais recentes novidades sobre as cidades romanas do interior português e da zona fronteiriça de Espanha.

Mas os estudos sobre os Lusitanos da época anterior à conquista romana não são pacíficos. Recentemente, a propósito do Euro 2004, investiram-se fortunas em campanhas publicitárias pomposamente intituladas “Lusitanea” para a promoção da região centro. Não sabemos quais os efeitos práticos de tal campanha na economia ou se houve algum tipo de retorno, mas também isso pouco nos interessa para este texto. O que nos despertou particular atenção foi o facto da mesma campanha publicitária se denominar “Lusitanea” invocando, certamente, os famosos Lusitanos que, em termos históricos, viveram durante o período que geralmente se identifica como a Idade do Ferro. No entanto, curiosamente, na Beira Interior – no “coração” da Lusitânia – este período histórico é praticamente desconhecido. A principal razão desse “buraco negro” do conhecimento da Idade do Ferro – leia-se, dos Lusitanos – prende-se com os escassíssimos apoios institucionais para a realização de uma investigação aprofundada sobre o que foi a época dos Lusitanos na Beira Interior.

Sabe-se pelas fontes escritas da Antiguidade que os Lusitanos ocupavam uma vasta zona do Interior da Península Ibérica, sobretudo na zona interior mais próxima do oceano atlântico, ou seja, na região que hoje conhecemos como Beira Interior. Mas nesta mesma região rareiam as escavações em povoados verosimilmente ocupados pelos Lusitanos durante a Idade do Ferro. É com o objectivo de discutir todos estes (e outros) problemas que faz todo o sentido realizar umas II Jornadas.

Por: Manuel Sabino Perestrelo *

* perestrelo10@mail.pt

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