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As “cidades perdidas” da Beira Interior

A Beira Interior conta, ainda, com muitos enigmas arqueológicos por desvendar. Um desses enigmas diz respeito à localização das cidades romanas que há cerca de dois mil anos pontuavam a paisagem da região.

Salvo raras excepções, os locais onde se presume que tenham existido as cidades capitais de município romano não são “minas de antiguidades” como se poderia pensar. Aos nossos olhos e tendo em conta os conceitos actuais de cidade, pode parecer impossível que um núcleo urbano, capital de uma região, possa desaparecer sem deixar avultados sinais. Mas, na verdade, a acção humana ao longo de quase dois milénios fez desaparecer os edifícios romanos, públicos e privados, habituais em qualquer cidade romana. Os vestígios dessas construções são, mesmo, praticamente invisíveis para o cidadão comum menos familiarizado com as antiguidades.

Sabemos através de diversas fontes históricas que no século I foram criadas, na Beira Interior, diversas cidades capitais de “civitates” entre as quais se destaca a capital da “Civitas Igaeditanorum”, actualmente sepultada no subsolo da aldeia histórica de Idanha-a-Velha. Para além desta capital apenas se conhece a localização de mais duas capitais: a da cidade dos Cobelcos, estabelecida no sítio conhecido como a Torre e Almofala (concelho de Figueira de Castelo Rodrigo) e a cidade dos Aravos que se esconde no subsolo da actual aldeia da Devesa de Marialva (Concelho da Meda). As restantes cidades capitais permanecem incógnitas, ou quase. São elas a cidade capital dos Taporos, a cidade dos Lancienses Opidanos, a cidade dos Lancienses Transcudanos, a cidade dos Meidubrigenses e a cidade do Interanienses.

As diversas propostas de localização destas antigas cidades romanas da Beira Interior não passam de meras hipóteses. Por outro lado, conhecemos sítios com vestígios romanos que terão pertencido seguramente a cidades romanas cujos nomes ainda são insondáveis. É o caso dos vestígios arqueológicos de Viseu.

Um dos sítios da região que tem sido apontado como o local onde existiu uma cidade romana é um terreno abandonado das proximidades da Malhada Sorda (concelho de Almeida). Com efeito, no local conhecido como Moradios ou Verdugal têm aparecido diversos objectos de origem romana como moedas, restos de cerâmica, pedras trabalhadas e, inclusivamente, um fragmento de inscrição latina. A existência destes vestígios tem suscitado o interesse de alguns autores que não têm hesitado em localizar naquele local a capital dos Lancienses Opidanos. No entanto, essa proposta carece de fundamento pois os vestígios ali encontrados parecem mais apropriados à existência de uma grande casa agrícola romana ou, eventualmente, a um “vicus” ou aldeia romana.

De qualquer modo, só uma intervenção arqueológica no local poderia esclarecer definitivamente o tipo de aglomerado que terá existido há quase dois mil anos no sítio dos Moradios.

Estes e outros assuntos estarão em discussão nos dias 3 e 4 de Setembro nas “I JORNADAS DE ESTUDO SOBRE MALHADA SORDA E REGIÃO” em boa hora organizado por um grupo de naturais desta aldeia raiana.

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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