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ARS avalia suspeitas de favorecimento do filho do director clínico

Fernando Andrade já solicitou processo completo ao Hospital da Guarda

O presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro prometeu segunda-feira avaliar «todo o processo» em que o filho do director clínico do Hospital da Guarda recebeu mais de 11 mil euros pela prestação de serviços. Fernando Andrade disse que irá pronunciar-se sobre este caso de alegado favorecimento ainda esta semana, mas só depois de analisar todo o concurso público, ganho pelo filho de José Cunha, para realizar a digitalização das plantas do Sousa Martins e elaborar o seu Plano de Emergência.

Para tal, o presidente da ARS Centro solicitou segunda-feira o processo completo do concurso ao Hospital da Guarda para esclarecer «quaisquer dúvidas» sobre o sucedido e responder ao pedido de «apuramento de toda a verdade» lançado pelo Bloco de Esquerda (BE) no final da semana passada. Para tal, o BE enviou ainda uma exposição do caso à Inspecção-Geral da Saúde e ao presidente da ARS Centro exigindo a realização de um «completo e rigoroso inquérito» perante as suspeitas de alegado favorecimento. Em comunicado, aquele partido avisa que, a confirmarem-se os factos que envolverão alegadamente o filho de José Cunha, poder-se-á «estar perante uma situação de favorecimento, incompatível com os deveres éticos e o clima de transparência que devem nortear os titulares dos cargos públicos». Entretanto, o administrador-delegado do Sousa Martins, Luís Figueiredo, negou qualquer ilegalidade ou favorecimento no âmbito do concurso público em causa, alegando que a proposta escolhida foi vencedora de um concurso público aberto para o efeito e ao qual concorreram alegadamente três propostas.

De resto, o responsável justificou o serviço com a necessidade daqueles documentos numa candidatura a apresentar pelo hospital ao Programa Saúde XXI para a realização de obras de remodelação na instituição. Luís Figueiredo disse ainda ter sido uma comissão composta por elementos internos e externos ao hospital, nomeadamente do serviço municipal de Protecção Civil, quem seleccionou a proposta de Tiago Coelho Santos, formado em Engenharia Civil. Contudo, Álvaro Guerreiro, vereador responsável pelo pelouro da Protecção Civil na autarquia guardense, já esclareceu que nenhum dos seus subordinados participou «a título oficial» no júri de tal concurso. Como se não bastasse a coincidência de ser o filho do director clínico, recém-formado, a prestar o serviço, o caso está ainda rodeado de fortes suspeitas pelo facto do Instituto de Emprego e Formação Profissional ter aprovado um pedido de financiamento apresentado pelo hospital para a realização de um Programa de Estágio Profissional, de 15 de Dezembro de 2003 a 4 de Setembro de 2004. Outra ocorrência estranha neste processo, tanto mais que o nóvel engenheiro justificou o seu trabalho com uma declaração de “acto isolado”, datada de 12 de Dezembro de 2003, tal e qual um empresário prestador de serviços por concurso, que remete para a morada de José Cunha. Situação que outros técnicos da área já explicaram a “O Interior” ser «altamente prejudicial» em termos concorrenciais, uma vez que o concorrente escolhido oferece preços «muito mais baixos» que os praticados por um profissional. Acresce ainda que a digitalização das plantas do Hospital e a elaboração do Plano de Emergência poderiam ter sido feitos por profissionais ligados ao Sousa Martins. Mais um imbróglio por esclarecer no Hospital da Guarda, que viveu mais uma semana agitada.

Luis Martins

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