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Arrenda-se!

Editorial

1. A imensa luz do verão é sempre ofuscada pela realidade. Os incêndios que durante dias e noites lavram por toda a região queimam sem apelo o que resta da natureza. O flagelo dos incêndios são, todos os anos, a marca negra de destruição. Perante a força destruidora do fogo há perguntas que se devem fazer. Como é que depois de tantos anos de luta contra os incêndios, há cada vez mais ignições e mais fogos no país? Como é possível que todos os anos o distrito da Guarda esteja entre os que têm mais incêndios? E mais área ardida? O que tem falhado? Que planeamento (não) foi feito para contrariar a tragédia? O que se fez no inverno para evitar o inferno? Que medidas de repovoamento, vigilância, limpeza… foram tomadas por governos e municípios para travar o flagelo? Que propostas e planos apresentaram os nossos deputados no Parlamento para defender a natureza? O que foi feito para além de deitar muito dinheiro sobre o fogo (e assim apaziguar consciências)?…

A morte de um homem no concelho do Sabugal, num incêndio que rodeou as povoações dispersas e incapazes de se defenderem, foi uma tragédia a somar a tantas outras que se repetem todos os anos. Infelizmente.

2. A reabertura do Hotel de Turismo foi, na prática, a “promessa” de Álvaro Amaro há dois anos. O então candidato à Câmara da Guarda tinha a convicção de que, de uma forma ou de outra, o assunto se resolveria sem grandes delongas – até parecia fácil. Quase dois anos após a sua eleição, a reabertura do hotel continua por resolver. E enquanto o edifício se vai degradando, a Direção-Geral do Tesouro e Finanças volta a colocar o Hotel de Turismo no mercado em regime de arrendamento, com opção de compra. O emblemático edifício que já espalhou glamour pela cidade, que foi o ícone do turismo regional e que fechou depois de anos de prejuízos acumulados, poderá agora ser vendido ou arrendado para instalar um hotel, comércio e serviços, nomeadamente de saúde. A inserção de outras atividades no empreendimento turístico hoteleiro faz sentido, considerando nomeadamente a dimensão dos edifícios e a improvável viabilização de um grande hotel na Guarda (segundo especialistas, as obras de requalificação e modernização poderão custar cerca de 10 milhões de euros e o crescimento do sector pode ser entusiasticamente antecipado pelos mais crentes e otimistas, mas os fluxos de turistas sempre anunciados não aparecem). Entretanto, a Câmara da Guarda podia seguir outro caminho e exigir ao Estado o cumprimento do contratado aquando da compra pelo Turismo de Portugal: a transformação do Hotel de Turismo num hotel-escola de nível superior.

Passado o tempo do ajustamento imposto pela “troika”, é tempo de olhar para o futuro e exigir ao Governo do país investimento no interior. Percebido que a aposta num hotel, per si, não atrai investidores, é relevante incluir outros serviços mas também deve ser repensada a posição em relação ao projeto comprometido de hotel-escola (ainda que isso implique a Álvaro Amaro “engolir um sapo” – e seria confrontado com o «não pagamos!»). O presidente da Câmara sabe que até ao outono de 2017 tem de ter uma solução para o Hotel de Turismo e sabe que a terá.

Luis Baptista-Martins

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