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Arguido no caso “Chicken Charles” considera-se um «bode expiatório»

Após a segunda sessão do julgamento, David Duarte disse aos jornalistas que está «a ser acusado de algo que não fez»

«Como não existem provas, creio que a ideia é a de criar um bode expiatório». É desta forma que David Duarte reage ao julgamento em que é acusado de ser o alegado autor do blogue satírico “www.covilhas.blogspot.com”, onde se contam estórias à volta da personagem “Chicken Charles – O Anti-Herói”, que visava alegadamente aspectos pessoais e políticos do presidente da Câmara da Covilhã.

Apesar de se ter mantido em silêncio nesta segunda sessão do julgamento, que decorreu na última terça-feira no Tribunal da Covilhã, após a audiência, o arguido confessou aos jornalistas estar de «consciência tranquila», acreditando que está a ser acusado de algo que não fez. David Duarte, de 29 anos e designer de profissão, foi constituído arguido do processo por se ter registado um acesso do seu IP ao endereço electrónico chickencharlesol.pt em Maio de 2004, data em que o blogue foi criado, embora conste no processo duas páginas com registos de acesso de vários IP’s àquele blogue. «A única explicação que encontro é a de um ataque informático por causa da falta de segurança do computador», referiu, salientando ter ficado surpreendido por ver o seu nome envolvido no processo. Até porque «não fazia qualquer sentido» ser o autor desse blogue, uma vez que a Câmara Municipal era o seu «principal cliente» nos trabalhos gráficos que produzia. Por ora, o jovem apenas espera ser ilibado de todas as acusações, situação que já teve repercussões no seu trabalho com outras autarquias. «Quero acreditar que são coincidências, mas obviamente que esta situação não me agrada», garante.

Nesta sessão, dedicada essencialmente a aspectos técnicos e informáticos de acesso ao blogue, nomeadamente o IP e a caixa de e-mail, foram ouvidas as testemunhas de defesa, nomeadamente um engenheiro informático e um estudante da área. Ambos tentaram provar que qualquer pessoa poderia ter acedido ao computador de David Duarte. Já os depoimentos dos primos, que moram no andar de baixo e com quem era partilhada a rede de Internet, foram incongruentes no que concerne à localização do cabo de rede.

Queixa-crime contra Joaquim Matias

Esta segunda sessão ficou ainda marcada pelo testemunho de João Canavilhas, que anunciou ter já avançado com uma queixa-crime contra o vereador Joaquim Matias por falsidade do testemunho, difamação e denúncia caluniosa. Em causa está o facto do político ter referido, na sessão anterior, que se «comentava na cidade haver uma ligação» entre João Canavilhas e o arguido do processo. Por outro lado, salientou que os autores do blogue teriam que ter acesso à informação local e que o professor escrevia habitualmente artigos de opinião sobre a gestão camarária num jornal [O Interior]. Perante a juíza Rosa Teixeira, o professor do curso de Ciências da Comunicação na Universidade da Beira Interior (UBI), arrolado como testemunha de acusação pelo Ministério Público, negou relacionar-se com o arguido e ter «qualquer problema» com o autarca. No seu depoimento, João Canavilhas admitiu ter consultado o blogue por «uma questão de curiosidade» e porque estava a desenvolver um trabalho de investigação sobre a blogosfera, realçando, no entanto, nunca ter feito «comentários ou escrito artigos para o blogue em causa». Inquirido sobre os artigos de opinião que escreve semanalmente n’”O Interior”, a testemunha disse debruçar-se não só sobre aspectos políticos da região, mas também de «âmbito nacional» e outros temas que se passam na Covilhã. A próxima sessão do julgamento está marcada para 13 de Dezembro.

Liliana Correia

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