Começou o Verão. E com ele, a época de banhos, os incêndios florestais e o topless nos Morangos com Açúcar. Desconfio muito se não há aqui planificação central para os meses de estio. Isto é todo um programa para uma geração. Como quem diz, “Vão à praia pela fresca, não frequentem as matas e estejam em casa às 19 horas.” E isto é para os adultos. Os adolescentes vão estar nos festivais de música.
A indústria hoteleira pode vir a não ter razões de queixa com a crise. Por uma razão simples. Os portugueses, habituados a bom trato durante as férias, não vão deixar de alugar uma casa. A única diferença é que, por causa do preço dos combustíveis, passam as férias num aparthotel da cidade onde residem. E com o dinheiro poupado na gasolina jantam fora todos os dias. As famílias de menos posses podem ponderar a hipótese de passar duas semanas numa pensão nas redondezas da sua habitação permanente, alugada entretanto a um casal de alemães ou de suecos a passar férias em Portugal.
Este ano, o destino mais atractivo para viajar é a pacata ilha da Irlanda. Principalmente para todos os interessados em amores de Verão. Mesmo eu, com a altíssima probabilidade de ver recusadas as minhas tentativas de aproximação, poderei usar o estratagema da Comissão Europeia. A cada “não” ouvido, solicito que a nega seja resolvida pela moça em causa, negociamos algumas condições e opting-outs e repito a pergunta até ouvir um “sim”. Nada que não estejam habituados na ilha do trevo.
Com o Verão chega também a praga das melgas. Criaturas interminavelmente chatas, sempre a zumbirem por cima de nós, à espera de pousar para nos sugar mais qualquer coisa. Outras coisas que também me incomodam bastante são os insectos.
O ponto mais alto (literalmente) desta estação do ano é a subida dos ciclistas da Volta à França aos Alpes. É nessa fase que a prova se torna emocionante. Quantas etapas aguentará o “camisola amarela” antes de ser apanhado pelo seu perseguidor ou pelo controlo anti-doping?
Durante o Verão os melhores colunistas portugueses partem para férias e não publicam os seus artigos. O Observatório continuará a sua publicação, uma vez que a direcção considerou que a prática do jornalismo português privilegia a ocupação estival dos espaços habituais com artigos mais superficiais e de qualidade inferior. No caso desta coluna, a impossibilidade de encontrar artigos menos capazes (e de Cláudio Ramos também estar de férias) não permite a ausência da coluna durante todo o período de veraneio. (A propósito, o autor pede desculpa aos leitores por três motivos. Primeiro, por voltar a escrever sandices. Segundo, por impedir que os leitores tenham na mão outro excelente texto de João Pereira Coutinho. Terceiro, por os leitores que queiram ler mais Pereira Coutinho terem de comprar o Expresso.)
Por: Nuno Amaral Jerónimo