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América proibida

Observatório de Ornitorrincos

Na quarta-feira da semana passada, o Mundo acordou com lágrimas de sangue. 60 milhões de americanos tinham defraudado o planeta. Três milhões e meio de americanos a mais tinham preferido George W. Bush contra John Kerry. Os americanos, esses grandessíssimos imbecis, esses estúpidos interesseiros, esses egoístas vergonhosos, elegeram Bush para um segundo mandato. A vontade do Mundo, dos europeus, do The Guardian, de Luís Osório não contou para nada. O Ohio voltou a votar republicano e a Casa Branca continuará a soldo dos mercenários das armas e do petróleo. Os eleitores americanos votaram de acordo com os seus interesses particulares. Que diferença com a Europa, essa grande entidade continental, demográfica e política, onde nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, órgão transnacional, ninguém discutiu política interna. Nem em Portugal, país com democracia jovem, a campanha se fez em redor do governo nacional. Não, os europeus quando votam pensam na fome do Uganda, na guerra civil do Sri Lanka, nas favelas cariocas, na condição social dos esquimós da Lapónia e na chacina das baleias no mar do Japão. A Europa é o grilo falante do Mundo.

A Europa, continente moral e intelectualmente superior, nunca elegeria um grunho para a governar. Na Europa, nunca um populista xenófobo chegaria sequer à segunda volta de umas eleições presidenciais. Na Europa, líderes com tentações totalitárias, intolerantes e racistas são e sempre foram imediatamente rejeitados. Não há na história da Europa nenhum caso registado de déspotas idiotas. O pensamento ditatorial não nasceu na Europa. Os líderes são afinal o reflexo perfeito dos seus povos. Os europeus, cultos e tolerantes, os americanos, tolos e fanáticos e – já que se fala nisto – os africanos, corruptos e preguiçosos (embora os africanos nem sempre possam escolher os seus líderes através de eleições).

A administração norte-americana gastou e pretende continuar a gastar biliões de dólares em investigação e acções para combater a SIDA em África. Sacanas. Devem ter alguma na manga. De certeza que querem é manter as populações vivas para poderem trabalhar para as multinacionais deles por menos dinheiro. Sacanas. Veja-se a França, por exemplo. Intervém militarmente em grande parte dos países da costa ocidental africana por motivos despreocupados. No princípio desta semana, Abijdan, capital da Costa do Marfim acordou – se chegou a adormecer – com tropas francesas a patrulhar as ruas. Jacques Chirac, desta vez, não achou que a ONU fosse importante e nem lhe passou cartão. Afinal, ele é Presidente da Terra da Revolução, do País da Enciclopédia.

Até a treta da super-potência é uma galga bem metida. Os Estados Unidos, país de broncos e Charles Bronsons, têm apenas 44% dos prémios Nobel atribuídos até hoje. Como é que querem ser “a” super-potência e não ter conseguido pelo menos metade dos prémios? É claramente sinal de uma nação de analfabetos funcionais.

No fundo, e no fim das contas, o Senhor Professor Presidente do Conselho dizia, com muita razão e a sua sabedoria de Santa Comba, que deixar as pessoas ignorantes votar podia ser um grande desastre para a Pátria e quem sabe para o mundo. Felizmente que a sua Governação nos poupou durante 48 anos à terrível possibilidade de termos tido algum Bush em Portugal. Sim, que os portugueses eram um povo tão analfabeto que poderiam bem ter cometido a estupidez de eleger para primeiro-ministro alguém que não fosse tão culto e tão preocupado com o futuro do Mundo e da Nação como o Senhor Professor, como é o caso deste senhor Bush. As vozes chorosas da semana passada deram-lhe razão. Obrigado e paz à sua Alma.

PS: Os europeus nunca perdoarão aos americanos a ingerência de 1945. Não fosse essa intromissão e o sonho de uma Europa unida sob a protecção de Hitler ou Estaline tinha chegado há cinco décadas. Razão tem a esquerda em dizer que os EUA pugnam pela divisão da Europa.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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