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Ameaça ou mais-valia para o comércio tradicional?

Abertura do novo centro comercial da Covilhã divide opiniões entre os comerciantes

Encarado por muitos como uma ameaça e, por outros, como uma mais-valia para a dinamização do comércio tradicional, o certo é que a maioria dos comerciantes da Covilhã não ficam indiferentes ao Serra Shopping.

Os mais receosos não têm dúvidas de que a abertura deste grande centro comercial e de lazer, a promover grandes marcas nacionais e internacionais até agora inexistentes na “cidade neve”, irá «rebentar com a baixa comercial» da Covilhã. Pelo menos é esta a convicção de Teresa Castro, proprietária da loja de vestuário irreverente “Tere & Caldera”, na Rua Direita. A lojista não tem dúvidas que a abertura desta grande superfície comercial irá arrastar as lojas locais para uma situação de crise financeira nos próximos tempos. O cenário negativo que Teresa Castro pinta tem por base os exemplos do que as grandes superfícies estão «a fazer em todo o país ao comércio tradicional», aponta, dando o exemplo da abertura do Colombo, em Lisboa. E ninguém melhor do que esta lisboeta, que se mudou de “malas e bagagens” para a Covilhã há oito anos – altura em que abriu a sua loja de roupa – para falar do período sufocante por que passam as lojas locais. Mas, segundo afirma, não é «uma posição pessimista, mas realista». «Tenho profunda consciência que o meu potencial alvo de clientes vai aderir a marcas como a Bershka, Salsa e outras, porque nunca tiveram acesso a elas aqui na Covilhã», aponta.

Por isso, Teresa Castro já tomou uma decisão: «Vou trespassar a loja», garante, visto que não está para «a manter em crise durante dois anos». Uma crise que se arrasta, de resto, há algum tempo neste ramo com a situação económica e financeira do país. Exemplo disso é que nem mesmo os 80 por cento de desconto que está a praticar neste momento nos seus artigos de marca exclusiva a levam a ter sucesso nas vendas. Preocupada está igualmente Maria João Figueira, proprietária da loja de roupa juvenil/adulto “Nico”. A comerciante está consciente que os primeiros tempos de actividade do Serra Shopping serão «muito complicados» para quem mantém uma loja de vestuário no centro da cidade. Isto porque está convicta que a maioria das pessoas irão «aderir em massa» ao novo espaço comercial, até porque é uma «novidade» na região. Apesar dos tempos que se aproximam não serem auspiciosos, Maria João Figueira espera preservar os actuais clientes, pois tem uma «grande vantagem» em relação às lojas do “shopping”, que é a «facilidade de pagamento».

Trunfos do comércio tradicional

Menos preocupado está Jorge Santos Luiz, dono da loja de electrodomésticos “Santos Luiz”. Aliás, este responsável acredita mesmo que o seu negócio «não sofrerá quebras» com a existência da Worten no Serra Shopping, visto que usará os trunfos mais preciosos do comércio tradicional: «A qualidade e a personalização do serviço prestado ao cliente», adianta. Situação que não acontece numa grande superfície, pois os clientes «são vistos apenas como números», atira. Mas também há quem encare o Serra Shopping como uma mais-valia para o comércio tradicional e para a própria cidade. É o caso de Maria da Conceição Ferrão, proprietária da loja “Casa das Peles”. Esta comerciante acredita mesmo que o centro comercial irá «atrair mais pessoas» de outras zonas, para além da cidade ficar «muito mais valorizada» com o empreendimento. Por isso, e apesar do preço ser «elevado», Maria da Conceição Ferrão arriscou em aderir às «oportunidades comerciais» que o “shopping” lhe poderá proporcionar, embora tenha já na cidade duas lojas: uma no Covilhã Shopping e outra na zona nova da cidade, a escassos metros do Serra Shopping. «Vou manter estas duas na mesma. Até pode ser que melhore», espera, augurando as melhores perspectivas para o futuro. Além disso, a sua loja mais próxima do “shopping” poderá ser um bom trunfo, visto terá ali «a maior gama de artigos».

É preciso «valorizar as forças» do mercado tradicional

Para Miguel Bernardo, vice-presidente da direcção da Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor (AECBP), a atitude a manter face ao novo “shopping” é a de «valorizar as nossas forças e minorar as fraquezas». Agora será lógico que «se vier para dividir as quotas existentes de mercado na cidade, será já um problema», alerta. Mas salienta que «não está nem a favor nem contra» esta grande superfície, até porque se trata de uma «tendência de mercado e de novos formatos de comércio» próprios de uma sociedade em constante evolução. Contudo, rejeita que seja o fim do comércio tradicional, pois este tem trunfos muito fortes para cativar e manter os seus clientes. Desde já, a «afinidade» que o comerciante local possui com os seus clientes, havendo mesmo uma «relação de amizade e confiança de parte a parte», para além de proporcionar «produtos diferenciados» dos que existem num grande centro comercial. Outra das vantagens é o «ambiente, ar puro, os pontos de encontro e os pontos de referência urbana» que o cliente poderá encontrar ao fazer compras no centro da cidade.

Assim, e para além do reforço destas vantagens, Miguel Bernardo considera ainda essencial eliminar algumas fraquezas do comércio tradicional, nomeadamente o problema do estacionamento. «Além de se praticarem preços muito elevados, é também limitativo», por não apresentar alternativas de estacionamento, refere. Por isso, sugere à empresa concessionária para baixar o preço das tarifas nos silos à superfície, pois «não pode estar tranquila a pensar que isto se vai resolver com o tempo». Outro dos pontos fracos que aponta no comércio tradicional é a pouca flexibilidade de horários, principalmente aos sábados à tarde, quando a maior parte das lojas está fechada. «É assunto que temos que rever», sublinhou.

Liliana Correia

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