Os alunos da Escola Secundária Afonso de Albuquerque, na Guarda, manifestaram-se nas primeiras horas da manhã de terça-feira, junto à instituição, contra a falta de aquecimento nas salas de aluas.
No pico do Inverno e com as temperaturas a descer naquela que também é conhecida por ser uma cidade fria, os estudantes queixam-se do frio que sentem no interior do edifício e que a situação os obriga a estar de casaco, gorro e luvas, tendo alguns deles surgido de cobertor no protesto de anteontem. Além dos jovens, também os professores e funcionários sentem na pele o mesmo problema. Houve mesmo uma docente que, devido às baixas temperaturas que persistiam nos laboratórios, «acabou por abandonar a aula», adiantou o presidente da Associação de Pais. O problema com o aquecimento deve-se ao facto do equipamento estar «subdimensionado», explicou Joaquim Nércio. «É usado um sistema totalmente informatizado e não adaptado às condições climáticas da Guarda», acrescenta o representante dos pais. A Afonso de Albuquerque foi mais um dos estabelecimentos de ensino intervencionado pela Parque Escolar e é a esta empresa que compete solucionar o caso.
Se o frio tem sido uma constante nas salas, nos últimos dias a situação agravou-se porque dois dos oito compressores que compõem o sistema avariaram, pelo que diminuiu ainda mais a capacidade de aquecimento do edifício. O INTERIOR contactou a direção da escola, que não quis prestar declarações, mandando apenas dizer que dois técnicos da Parque Escolar estão na escola desde a passada quinta-feira para tentar reparar os aparelhos avariados. No entanto, mesmo que a avaria seja solucionada – a escola não consegue adiantar uma data –, o problema vai manter-se e o mais provável é que o aquecimento continue a ser faseado. «A escola tem sido aquecida por partes, não pode ser tudo ao mesmo tempo, pois o sistema não aguenta e chega a deitar frio em vez de calor», afirmou Joaquim Nércio, acrescentando que «no outro dia fizemos o teste e na rua estavam 11 graus centígrados e 9 no edifício».
A mesma situação foi relatada por Rita Alves, do 12º ano, «por vezes damos conta que os aparelhos estão a funcionar, mas deitam frio, além disso o barulho torna-se desconfortável». Para os estudantes, a greve era uma forma de «alertar a comunidade para o mau funcionamento dos aquecedores porque temos de vestir os kispos nas aulas», garante Filipe Branco. O protesto foi convocado pela Associação de Estudantes e Raquel Jorge explica que a direção tem conversado com os alunos sobre este problema: «Disseram-nos que a empresa responsável já está a tentar resolver a avaria, mas consideramos que não há condições de trabalho e por isso convocámos esta greve no período da manhã». Por sua vez, o presidente da Associação de Pais receia que o problema não tenha resolução para breve, pois está dependente da Parque Escolar, mas refere que a direção da escola está «em sintonia com os alunos e tudo tem feito para resolver esta situação, afinal é uma das interessadas». Joaquim Nércio sugere que, de «forma atempada e organizada, numa iniciativa pública, se proteste contra esta situação», procurando assim «criar mais impacto» e se necessário «fechar a escola para que todos possam participar».
Os problemas após a conclusão das obras na Escola Secundária Afonso de Albuquerque já não são novos. A primeira fase da intervenção na escola terminou em setembro de 2010 e em fevereiro de 2014 O INTERIOR noticiou que uma cobertura tinha sido arrancada por uma rajada de vento forte, havia infiltrações de água, nomeadamente no novo pavilhão, e já nessa altura o aquecimento não funcionava idealmente. A modernização do antigo Liceu da Guarda custou mais de 9,6 milhões de euros e renda paga pela escola à Parque Escolar, assegurada pelo Ministério da Educação, é de cerca de 50 mil euros mensais.
Bloco de Esquerda quer que ministro da Educação «atue rapidamente»
A falta de aquecimento nas salas de aula e nos corredores da Secundária Afonso Albuquerque e a consequente greve dos alunos já motivou uma reação da Comissão Coordenadora Distrital da Guarda do Bloco de Esquerda, que está solidária com os jovens.
Em comunicado, o BE considera que «depois de tanto investimento na anterior requalificação, não é admissível que a comunidade escolar tenha que permanecer na escola sem as condições necessárias para o bem-estar de todos, tendo como agravante o clima da nossa região, nomeadamente as baixas temperaturas que são permanentes nesta época». Por este motivo, os bloquistas garantem que vão solicitar ao seu grupo parlamentar na Assembleia da República que questione o ministro da Educação para que atue «o mais rápido possível na resolução definitiva deste problema».
Ana Eugénia Inácio