Decorre por estes dias, em Paris, a Cimeira do Clima com a participação de cerca de 200 países, na qual se pretende produzir um compromisso que permita definir uma política internacional de combate às alterações climáticas. Este compromisso passa por evitar o aumento da temperatura num valor superior a 2º graus Celsius, em vez dos 3º graus Celsius atuais.
Estas medidas resultam do facto do clima da Terra ter vindo a mudar ao longo da história do nosso planeta. Muitas dessas flutuações são padrões passageiros, mas os movimentos de ar, água e massas continentais contribuem para uma mudança a prazo. Também, e é neste ponto que a conferência procura chegar a consenso, o impacto humano é bastante significativo nestas alterações. Foquemos a nossa atenção nos fatores naturais e deixemos os fatores antropogénicos para os decisores políticos.
A Terra formou-se há cerca de 4.600 milhões de anos, mas existem poucos indícios de mudanças climáticas em quase 90% do tempo de vida do nosso planeta. Durante o longo período sem vida antes do aparecimento das algas – as primeiras formas de vida – há cerca de 3.500 milhões de anos, os gases produzidos pelas erupções vulcânicas provavelmente acumularam-se para formar a atmosfera e os oceanos que permitem a existência de vida na Terra. Enormes quantidades de poeiras vulcânicas foram lançadas para o ar e refletiram a energia do Sol, permitindo assim que o planeta arrefecesse: outra contribuição para um ambiente propício à vida na Terra. Algures no tempo, entre 2.700 e 1.800 milhões de anos, os glaciares e os campos de gelo foram muito espalhados. Desde então, o clima da Terra tem aquecido e arrefecido por períodos longos.
Mudança a longo prazo
Muito antes das pessoas se mostrarem preocupadas com o efeito de estufa acentuado sobre o clima atual em mudança, os cientistas já tinham uma perceção de que houvera uma série de mudanças climáticas nos 4.600 milhões de anos da história da Terra. Estas mudanças a longo prazo foram causadas por uma teia complexa de forças, incluindo as circulações de ar, água, massas terrestres e a própria Terra. O Sol fornece a energia que impulsiona os nossos sistemas atmosféricos, por isso as modificações na energia solar recebida têm causado efeitos assinaláveis no clima da Terra. Há inúmeras razões para justificar o porquê de a energia solar recebida à superfície da Terra poder mudar. Uma colisão de meteoritos, grande, seria capaz de produzir uma nuvem gigantesca de poeira que poderia circundar a Terra, bloquear o Sol e dar origem a um período extenso de arrefecimento. A colisão com um cometa, ou até mesmo um encontro próximo, poderia produzir uma diferença assinalável na quantidade de energia solar que chega à atmosfera terrestre. Evidências geológicas indicam que houve cinco extinções maciças de flora e de fauna, que podem ter ocorrido devido a mudanças climáticas acentuadas.
De todas as forças que afetam a mudança climática a longo prazo, as mais influentes são o Sol e os oceanos. Na década de 1930, um geólogo jugoslavo, Milutin Milankovitch, descobriu que as variações periódicas na maneira como a Terra orbita em torno do Sol, alteram a exposição à radiação solar. A análise de sedimentos dos fundos oceânicos tem revelado indícios de que esses ciclos se repetem em períodos de 19.000, 23.000, 100.000 e 433.000 anos. As mudanças nos padrões de circulação podem durar entre os poucos anos e alguns milénios. As erupções vulcânicas podem ter contribuído para as idades de gelo. Até o processo inexorável da deriva continental, com as suas massas terrestres em movimento, alterou o clima da Terra.
Ainda assim, os fatores antropogénicos têm contribuído de forma bastante significativa para as alterações climáticas em especial nos últimos anos, com o aumento do consumo de combustíveis fósseis nos países em desenvolvimento. Daí que a obtenção de um acordo em Paris seja fulcral para reduzir o ritmo de crescimento da temperatura média do planeta nas próximas décadas.
Por: António Costa