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Almeida, uma vila com história militar

Em 1927 saiu de Almeida o último Esquadrão de Cavalaria e com ele a atividade militar que, durante séculos, foi a razão essencial da sua existência

A localização , profundamente marcada pela presença do rio como linha natural de fronteira, aliada à sua evolução histórico-territorial, transformaram o concelho de Almeida num território carregado de simbolismo. O seu património transporta-nos para algumas das páginas mais gloriosas e trágicas da História de Portugal.

No período da Reconquista, mais especificamente em 1190, os cristãos tomaram este território de forma definitiva e a partir daí Almeida foi sucessivamente disputada a Leão, passando para a posse portuguesa com o Tratado de Alcanizes, em 1297. Recebeu foral de D. Dinis (1296), que reconstruiu o castelo, e foral novo de D. Manuel (1510). Junto ao castelo, de planta retangular e com quatro torres circulares, cresceu o núcleo medieval limitado pelas muralhas, traçado que a Rua dos Combatentes acompanha e que define o velho burgo. Naquela fortaleza havia a primitiva igreja matriz que acabou por ser transferida para o convento de Nossa Senhora do Loreto devido à explosão do paiol – em 1810 – durante as invasões francesas e que arrasou grande parte da vila.

A importância desta praça defensiva levou à expansão urbana e institucional, destacando-se os edifícios do antigo Quartel de Artilharia, Vedoria, Tribunal, bem os quarteirões para alojar os militares e a Igreja e Hospital da Misericórdia, de portal clórico – exemplos da arquitetura seiscentista. De realçar ainda o Quartel das Esquadras, edificado em 1762/69 (em frente do qual se fazia a parada militar, zona hoje ajardinada) e a célebre Casa da Roda, criada para recolhimento das crianças rejeitadas. A Praça Forte de Almeida (séc. XVII/XVIII) é o perfeito exemplo da arquitetura militar barroca, com traçado hexagonal em estrela, ao estilo do engenheiro francês Antoine Deville. O acesso faz-se pelas portas duplas em túnel abobadado. Dispõe de seis baluartes, com suas casamatas – galerias subterrâneas onde a população se recolhia em caso de perigo e que também serviram de prisões miguelistas – e revelins com fossos de profundidade média de 12 metros, onde se construiu um Hospital de Sangue e onde se localiza também o Museu Militar.

Durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), Almeida voltou à posse de Espanha, tendo retomado ao domínio português em 1763. Nas lutas liberais tomou partido por D. Miguel, entre 1829 e 1832, acabando por capitular após duras lutas fratricidas, que de novo destruíram as muralhas – reconstruídas a partir de 1853. Em 1927 saiu de Almeida o último Esquadrão de Cavalaria perdendo, desde então, a atividade militar que, durante séculos, foi a razão essencial da sua existência.

Almeida: um nome de origem árabe

Quanto ao nome Almeida, todos concordam que é de origem árabe. Há quem defenda que vem do “Al-Mêda”, que significa mesa, pelo facto desta povoação se encontrar situada num planalto. Por outro lado, há também quem afirme que vem do árabe “Atmeidan”, cujo significado remete para campo ou lugar de corrida de cavalos. Frei Bernardo de Brito, natural de Almeida e cronista-mor do reino, sublinha que a designação atribuída deriva da configuração do terreno onde a vila foi edificada e cujo nome original é “Talmeyda”. A lenda diz que a sua origem vem de uma mesa cravejada de pedras preciosas que, em tempos, existiu naquele lugar.

O que ver?

Castelo, Casa Nobre, Casa Quinhentista, Igreja da Misericórdia, Casamatas / Baluarte de S. João de Deus, Paiol e Casa da Guarda, Picadeiro d’El Rey, Portas duplas de São Francisco da Cruz, Praça Alta, Quartel das Esquadras, Revelim Doble / Hospital de Sangue, Terreiro Velho, Torre do Relógio, entre outros.

Almeida é uma praça-forte situada na zona raiana

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