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Aldeias da raia medem forças no “Festival do Mundo do Forcão”

Desta vez, o evento que marca o ponto alto das capeias foi transmitido para todo o mundo via internet

Na raia, a tradição dos touros perdura e as gentes das freguesias do Sabugal marcaram lugar na praça do Soito para assistir àquele que já é chamado, de forma inédita, o campeonato do mundo do forcão. Mais de 3.000 pessoas viveram, na tarde de sábado, a acesa disputa entre as oito aldeias participantes, hábeis e experientes na lide do forcão, um saber cuidadosamente transmitido entre gerações.

Desta vez coube ao Soito e ao Ozendo a organização da vigésima edição do Festival “Ao Forcão Rapazes!”, que marca o ponto alto da época das capeias raianas. 2005 foi também o ano da descentralização do espectáculo, realizado desde sempre em Aldeia da Ponte. Por outro lado, e embora a criação do festival remonte a 1986, há muitos anos que não existem vencedores nem vencidos. Mesmo assim, os participantes viveram com grande intensidade a antiga rivalidade inter-freguesias, competindo a Lageosa da Raia, Forcalhos, Foios, Aldeia do Bispo, Soito, Ozendo, Aldeia da Ponte e Aldeia Velha. Uma disputa que também se sentiu nas bancadas, onde desde cedo se instalaram as claques com hinos de apoio e palavras menos próprias lançadas para a arena à medida que as equipas foram entrando em cena. A assistir estava Manuel Santos, que foi repetindo, vezes sem conta, ter medido forças com o touro durante «mais de 50 anos». É por isso grande conhecedor da arte e lá foi atirando palavras de encorajamento ou de decepção para a lide dos rapazes praça. «É bonito quando o touro marra contra o forcão, mas quando não é assim há que lançar umas valentes assobiadelas», garante.

Mesmo ao lado, um outro “habitué” das capeias, Vítor Silva, natural do Soito, vibra com a demonstração de força dos seus conterrâneos: «Repare no ritmo com que mexem os pés, é assim que se vê se são mestres na arte», afiança. E, de facto, na arena 60 pés moviam-se em uníssono, movidos por um ritmo silencioso que, pelos vistos, só a gente da raia parece entender. «Está a ver aquele ali?», perguntou logo de seguida, «é o Moisés, dos Foios, um dos melhores citadores de toda a raia», sublinha, enquanto o jovem em causa enfrentava o touro com uma mestria certamente invejada pelos vizinhos. Apesar de não se tratar de um concurso, sempre existem prémios, que variam das grades de cerveja aos borregos, distribuídos de forma equitativa pelas equipas participantes. Porém, antigamente não era assim. Vítor Silva conta que ao vencedor cabia «uma vitela e grades de cerveja» e para os restantes lugares do pódio estavam reservados «porcos e borregos», que serviam «para fazer a festa nas aldeias premiadas». No entanto, algumas disputas mais acesas entre as freguesias acabaram por ditar o fim do pódio. Ainda assim existem certas regras do jogo que têm de ser seguidas e que a exigente plateia conhece de cor. «O forcão não pode tocar no chão, os rapazes não podem ajoelhar e o boi não pode dominar», adianta José Gonçalves, da organização pelo Ozendo. Mas há mais: «Importa ser corajoso, improvisador e criativo», refere.

A casa esteve a abarrotar, tendo sido colocados à venda quatro mil bilhetes, no valor de oito euros cada. Este ano, o festival primou pela ausência de incidentes de maior, tirando mais uma escapedela de um cabresto gerando o pânico pelo redondel. Pior sorte teve a equipa de Aldeia da Ponte, que foi forçada a largar o forcão em plena praça devido à investida do touro.

Em directo na Internet

Que as gentes raianas não deixam que as capeias caiam no esquecimento é mais do que evidente. Este ano, a autarquia do Sabugal resolveu ir mais longe ao permitir que o evento pudesse ser visualizado em tempo real na Internet. Domingos Malhado, do sector informático da Câmara, foi quem coordenou no terreno o projecto e disse que apesar de terem surgido alguns problemas durante a transmissão, causados por «falhas eléctricas», este será um projecto para continuar. A experiência custou oito mil euros, mas levou «ao mundo uma tradição que é, por excelência, da raia», refere. Feitas as contas no final do evento, assistiram ao festival cerca de 50 cibernautas.

Rosa Ramos

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