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«Ainda não se vê a meta, mas sabemos que vamos na direção certa»

Cara a Cara – Paulo Pinheiro

P- Sente que a vossa missão foi cumprida?

R- Uma missão destas parece sempre longe de estar cumprida. Cada novo caso que aparece é uma preocupação, cada caso que se resolve um alívio. Atualmente a falta de condições de bem-estar de muitos dos que vivem na nossa região fazem com que a missão esteja muito longe de estar cumprida. Simultaneamente, o esforço daqueles que colaboram com o Banco Alimentar faz com que, por vezes, consigamos pequenas vitórias. Ainda não se vê a meta, mas sabemos que vamos na direção certa.

P- Qual é o balanço que faz destes 15 anos?

R- O balanço é positivo. O Banco Alimentar da Cova da Beira conseguiu exercer um papel positivo na nossa região, tornando-se parceiro de muitas instituições e tentando sempre ser uma parte da solução e nunca uma parte do problema. Conseguimos até hoje distribuir mais de 1.600 toneladas de alimentos (mais de 100 toneladas/ano), o que permitiu que muitas pessoas sentissem que mesmo estando em situações difíceis não estavam tão sozinhas, que há quem se preocupe em melhorar a sua situação. Claro que muitas vezes ficámos aquém do que desejávamos e muitas vezes nos sentimos impotentes por não conseguir fazer mais e melhor. Mas a questão passa por perceber o que teríamos alternativamente se o Banco Alimentar da Cova da Beira nunca tivesse existido e certamente que as instituições que são nossas parceiras teriam muitas mais dificuldades em fazer o seu papel.

P- Neste momento, quantas pessoas são apoiadas pela associação? O número de solicitações é superior ao de pessoas ajudadas?

R- O Banco Alimentar nunca ajuda ninguém diretamente. A ajuda é sempre facultada por intermédio de outras instituições que ajudam quem mais precisa. Isto permite que o Banco Alimentar consiga especializar-se na recolha de alimentos e que estas instituições se especializem mais na prestação de apoio a quem mais precisa. Portanto, através das instituições que são nossas parceiras conseguimos atualmente chegar a cerca de 4.000 pessoas. O número de solicitações às quais não conseguimos dar resposta mantém-se num patamar muito elevado, sendo que há mais instituições que não são apoiadas (apesar de reconhecermos o bom trabalho de muitas delas) do que aquelas que o são. A principal razão para não apoiarmos estas instituições é a falta de recursos do Banco Alimentar da Cova da Beira.

P- Nestes 15 anos como evoluiu o perfil das pessoas que pedem ajuda ao Banco Alimentar?

R- O perfil das pessoas auxiliadas tem evoluído muito pouco. Talvez a maior diferença é que os casos relacionados com a falta de recursos de idosos perderam peso e aumentou (e muito) o peso das crianças apoiadas. Esta é uma nova realidade de pobreza na nossa região. As últimas três instituições a pedir ajuda ao Banco Alimentar da Cova da Beira são instituições que apoiam crianças. Tememos também que haja muitas pessoas que tendo sido vítimas da crise económica que atravessamos (por exemplo ficando desempregadas) não consigam sair dessa situação.

P- Em termos orgânicos, quais os principais problemas que não conseguiram resolver?

R- Ao nível do funcionamento do Banco Alimentar da Cova da Beira o principal problema está relacionado com as instalações. A falta de um armazém com um cais de descarga faz com que, por vezes, a descarga dos alimentos que nos são confiados se faça só dependendo da boa vontade dos voluntários, que chegam a descarregar à mão várias toneladas de alimentos. Também o facto da área do armazém ser pequena faz com que muitas vezes não consigamos entrar em programas onde há uma quantidade mínima de alimentos a ser recebida. O segundo grande problema está relacionado com a falta de uma carrinha própria, o que obriga a estarmos dependentes da “boa vontade” de voluntários e amigos do Banco Alimentar que disponibilizam, muitas vezes, os seus carros pessoais para transportar aquilo que o Banco Alimentar precisa. No entanto, estes problemas vão-se resolvendo com a ajuda de muitos que compreendem a nossa missão e com ela gostam de colaborar.

P- Quais são os projetos que têm para o futuro?

R- Além dos passos que estamos a dar no sentido de ultrapassarmos os problemas atrás referidos, os principais projetos passam por encontrar formas de angariar mais alimentos que facilitem o nosso trabalho. Também estamos a procurar mais voluntários que nos permitam alargar o nosso campo de atuação e dividir por mais voluntários as tarefas. Procuramos aumentar a nossa ligação às empresas (sobretudo as do ramo agroalimentar).

Perfil:

Presidente da direção do Banco Alimentar Contra a Fome da Cova da Beira e professor universitário na UBI

Idade: 46 anos

Profissão: Professor universitário

Currículo: Professor na Universidade da Beira Interior há mais de 22 anos. Doutorado em Gestão pela Universidade da Beira Interior.

Naturalidade: Tortosendo (Covilhã)

Livro preferido: “Mensagem”, de Fernando Pessoa, – uma escolha feita com pena e tantos livros magníficos que ficam de fora.

Filme preferido: “Cinema Paraíso”.

Hobbies: Leitura esporádica, visualização rara de um filme ou série e jogar raramente um videojogo.

Paulo Pinheiro

Sobre o autor

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