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Agenda para o IPO

Margarida Ornelas vem de uma experiência muito interessante em Santa Maria da Feira e agora vai gerir o IPO de Coimbra. Maria de Belém Roseira criou uma unidade altamente eficiente na Vila da Feira com experiências de gestão únicas e pagamentos adstritos a objectivos e exigência de qualidade. Mudou mecanismos de armazenamento, mudou modos de contratualização e diferenciou os serviços. Fui visitar o Hospital de S. Sebastião no âmbito de um curso da Escola Nacional de Saúde Pública de “Gestão para Clínicos”, criado e dirigido por Coreia de Campos. Corria o ano de 2002. Em 2010 já não sobrava muito desta experiência. Governos do PS e PSD fizeram questão de ir matando aquela casa. Agora temos uma testemunha deste percurso no IPO. Mas não terá dinheiro, não poderá contratar as pessoas chave, não poderá fazer obras e não saberá como gerir as 35 horas da nova lei para enfermeiros e outros quadros. Melhor ainda, Maria Margarida Ornelas perderá 18 milhões de euros que eram glória das direcções anteriores e o sonho de umas instalações cuja obra não teve nenhum interessado, aparentemente por desajuste do encargo ao pretendido. O IPO definha, afogado em doentes, faz alguns anos. Má gestão também haverá na priorização de obras e menosprezo por manutenção, elaboração de eficiência onde é mais necessária, sobretudo na definição de prioridades e apostas consistentes em produção. O rio de dinheiro que sonhavam secou e o foco de importância nos quadros e na sua diferenciação foi perdida. A instituição insiste em não ter resposta às suas urgências carregando o CHUC os seus doentes aos fins de semana. A instituição insiste em métodos obsoletos de reunião atrás de reunião até conseguir um caminho claro que será o percurso do doente.

Qual o futuro do hospital no outro lado da Av Bissaia Barreto se olharmos da janela do CHUC? A absorção desta Unidade parece bastante clara e fácil. O último administrador foi para o CHUC de onde receberá a sua menina de braços abertos e alguns tubarões já olham para as vantagens do processo imperialista do antigo HUC. Sugando todas as estruturas o CHUC ganha espaço, divide poderes e constrói uma unidade maior que as suas congéneres no Porto e Lisboa. Coimbra passa a ser do CHUC. Este processo de anexação de tudo e todos é um padrão demencial que está em curso para deleite de uma qualquer inteligência perversa e perigosa. Destruir tudo e acabar com tudo para ter um centro único, comandado por alguém que se julgará eterno sobretudo se saírem as leis dos setenta anos. Margarida Ornelas vem para o IPO sem meios e sem capacidade de resposta à hemorragia. O IPO está no fim e em breve terá o destino dos Covões.

Mais silenciosa foi a substituição da equipa directiva do Rovisco Pais. Como o Hospital está lá para a Tocha e no meio da floresta onde ainda restam alguns leprosos idosos ninguém se debruçou sobre o tema. Teremos agora o completo arrepio da lei com a nomeação de Margarida Sizenando a dona de clínicas privadas à porta da Instituição desrespeitando o princípio da incompatibilidade. Pedro Coimbra está a distribuir rebuçados às secções e a tentar manter o partido no seu comando. Prevejo enorme turbulência ali para o mar da Tocha e mais uma casa moribunda. O Rovisco Pais carecia de uma inspecção “à séria” antes de qualquer outra coisa. O Estado da saúde no Centro está agora entre Margaridas e Rosas num destino carregado de flores de enterro.

Por: Diogo Cabrita

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