Sinal dos tempos no mundo vitivinícola da Beira Interior, a Adega Cooperativa de Pinhel está a dificultar a entrada de novos sócios para preservar e até melhorar a qualidade dos seus vinhos. Atualmente, só entra quem consegue cumprir vários requisitos, entre os quais o de ter, no mínimo, uma das castas Síria, Touriga Nacional, Alicante Bouschet ou Syrah.
«Se não tiver nenhuma delas não entra», garante Agostinho Monteiro, presidente da direção de uma instituição com 1.580 associados e que produziu este ano mais de 2,5 milhões de litros de vinho engarrafado. «Há muita gente a pedir e já houve recusas por parte da direção porque não passaram num crivo técnico muito apertado, que inclui uma vistoria do nosso técnico às vinhas para verificar a sua exposição, o tipo de solo e o vinho produzido, além das castas usadas», adianta o dirigente, que não está muito preocupado. «Nesta campanha, cerca de 1.500 sócios devem ter entregue as suas uvas, o que significa que estamos com uma estrutura bastante forte e com matéria-prima de qualidade», exemplifica, estimando que, em 2016, a colheita poderá chegar aos 16 milhões de quilos de uvas. «Todos os anos temos aumentado em meio milhão a quantidade de uvas, pelo que também é necessário pôr algum travão a novos sócios porque a nossa capacidade de laboração não é elástica», acrescenta Agostinho Monteiro.
Atualmente, a Adega de Pinhel está a viver uma mudança de paradigma. O D. João I ainda é o seu vinho mais vendido, mas a cooperativa começa a dar cartas no mercado dos DOC e topo de gama com marcas com o Pinhel Síria (branco) e os tintos D. Manuel e Varanda do Castelo. «Este ano ganhámos sete medalhas de prata em concursos nacionais e internacionais, o que significa que já lá vai o tempo em que se reduzia o nosso vinho ao vinho de mesa e ao D. João I, de que nos orgulhamos e que, numa relação qualidade/preço, será dos melhores no mercado», afirma o presidente da Adega. No passado domingo, a Cooperativa pôs os seus trunfos na mesa numa prova de vinhos organizada com o seu parceiro Bebistar nas instalações da empresa no Outeiro de S. Miguel. «Queremos desmistificar a ideia na Guarda de que Pinhel só produz vinhos de mesa», justifica Agostinho Monteiro.
Numa sessão que contou com o apoio do enólogo Luís Ribeiro, lá estavam as “joias da coroa” como o Síria, o D. Manuel, o Varanda do Castelo, o licoroso Pinhelito e o incontornável D. João I. «Aproxima-se o Natal e é sempre um momento em que as pessoas gostam de apreciar um bom vinho. O nosso objetivo é chegar a novos compradores, mas também receber o “feedback” de quem já provou», adianta o responsável, revelando que, em 2016, deverão ser lançados quatro novos vinhos, dois regionais (branco e tinto), um rosé e um branco adamado. Por sua vez, Jorge Mocho, dono da Bebistar, aproveitou o evento para dar a conhecer a empresa fundada há quase três anos e as novas instalações. «Outro objetivo é divulgar os vinhos de Pinhel que têm sido muito bem aceites, sobretudo os de topo», refere o empresário, reconhecendo que os guardenses «estiveram um bocadinho afastadas destes vinhos por alguns motivos no passado, mas estão a regressar».
Luis Martins