Quem leia este espaço há algum tempo, sabe da adoração que por aqui se tem a M. Night Shyamalan, e do entusiasmo crescente quando é anunciado um novo filme seu. Há uma semana que está em cartaz a nova pérola deste realizador. Com os mesmos medos, devoções e estética sóbria, de uma rara beleza plena de serenidade, A Vila apenas reforça aquilo que já se sabia: Shyamalan faz já parte do panteão dos grandes do cinema, de todos os tempos.
Se esteticamente A Vila se aproxima mais do seu filme anterior, Sinais, no seu desenrolar narrativo as semelhanças levam-nos mais facilmente para Sexto Sentido ou O Protegido. Continua Shyamalan a rodear-se de personagens desencaixadas de um mundo exterior. Pela diferença ou pelo medo. Com actores em tamanho estado de graça que quase nos esquecemos de onde conhecemos nós aquelas caras. Mas se todos os actores aqui se ultrapassam a si próprios, de William Hurt a Signourney Weaver, passando por Joaquin Phoenix e Adrien Brody, o destaque vai todo ele para a estreante Bryce Dallas Howard. Quem começa assim até onde poderá ir? Ou antes, quem começa assim ainda poderá ir para algum lado? Brilhante!
Num primeiro contacto com o filme, a ideia de desilusão pode mesmo surgir. O que só acontece, há que dizê-lo, quando as expectativas são altas. E como o eram neste caso. Afinal o twist final até nem é tão surpreendente assim, e toda a história se torna, muito cedo, bastante previsível. Mas A Vila esconde um outro segredo, e esse só com o passar dos dias se irá descobrir. Esse sim o seu verdadeiro twist final. Como em poucos, A Vila é daqueles filmes que se recusa a abandonar-nos. Ideias, sonhos, pensamentos e corpo. Não é fácil resistir a nova visita. Perdê-lo será perder um dos mais belos filmes jamais feitos.
Imago
O único festival de cinema realizado no Interior do país, e um dos melhores que se faz em Portugal (fosse ele feito em Lisboa ou Porto e o destaque nos media nacionais seria outro) está de volta, quando por momentos se julgou perdido para sempre. Abandonada a sua casa de origem – Covilhã – o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Jovem encontrou quem o recebesse, de braços abertos, no Fundão, onde a sua 5ª edição irá ter lugar.
Para além do cinema, onde se terá que destacar uma retrospectiva da realizadora Lynne Ramsay, responsável por Morvern Callar, um dos melhores filmes do ano passado; a Competição de Curtas-Metragens, sempre repleto de entusiasmantes propostas do melhor que se tem feito em curtas nos últimos tempos; e o ciclo dedicado ao Cinema 16, onde se pode ver A Girl Chewing Gum, uma das curtas que Corta! considera das mais geniais jamais feitas; o Imago oferece ainda um muito convidativo programa musical.
Nas experiências sonoras a ouvir (e ver) entre 2 e 9 de Outubro no Fundão, o Imago irá contar com a presença do aclamado Herbert; o Dj Andy Smith, membro dos desaparecidos Portishead (excelente oportunidade para lhe perguntar para quando novo disco) e o regresso dos covilhanenses Factor Activo aos palcos, quando se aguarda o lançamento do seu primeiro duração, com saída prevista para muito breve. Há também uma oportunidade, rara, de assistir ao espectáculo do projecto Manchester Mad Remixers, composto por membros dos The Gift (também com novo disco para breve) e dos «defuntos» Sétima Legião, que irão (re)interpretar alguns dos hits que colocaram Manchester no mapa (olá Stone Roses, olá Joy Division e New Order).
Oportunidade a não perder, já a partir deste Sábado, no Fundão, de um oásis que surge no meio de um cada vez maior deserto cultural que assola esta região. Mais assim, só daqui a um ano, ou seja, 365 dias. Consegue esperar tanto?
Por: Hugo Sousa
cinecorta@hotmail.com