Imagine o leitor que possui uma bicicleta para dar uns saltos e fazer umas manobras, ouviu falar de um “mountainbike park” em Portugal, no altar do país, Serra da Estrela. Sonha um dia percorrer o “whistler” no Canadá, o maior parque do mundo no género, mas como é português e, cada vez mais teso, tem que ir para fora, cá dentro. Chega à página na Internet, digita “mountain bike park serra” no Google e aparece uma vistosa página em http://www.turistrela.pt/bike%20park/bike%20park.html onde se pode ler: “Bem-vindos à estância Vodafone, época 2006/2007. A telecadeira encontra-se aberta ao público. Horário de funcionamento: 2ª a Domingo das 9h às 16h 30m”. O leitor fala com uns amigos, racham as despesas e metem-se no carro a partir de uma qualquer cidade do país. Fazem umas centenas de quilómetros e, chegados ao ponto mais alto de Portugal Continental, deparam com uma estância de mountain bike sem ninguém, nem bike, nem park, nem telecadeiras, nada a funcionar, apenas mountain, apenas o desolado ar de abandono das instalações, como se estas estivessem a ressacar da loucura da neve e das “tias” e “tios” da “linha”.
Esta situação aconteceu-me e a uns amigos que vieram, de propósito, de Lisboa no domingo passado. Também uns espanhóis que propositadamente, tendo por base a mesma página da Internet, vieram desde Madrid, para dar uns saltos, se depararam com a mesma situação. “Qué c….. pasa ? Porqué no está esta m…. abierta? Qué país és este?” (perdoem-me o “portuanhol”). Diziam eles com ar incrédulo.
Lamento, e lamentamos todos, que a empresa que detém, a meu ver mal, o monopólio da exploração das actividades na Serra, não tenha em conta que uma página na Internet é uma janela aberta para o mundo e que há pessoas que, por amor ao desporto põem a trouxa às costas e aparecem, e não perdoam a quem os defrauda. As pessoas que referi eram jornalistas de uma conceituada revista mensal de bicicletas e, também eles, não vão perdoar esta falta à empresa e, por arrastamento, à região. Até compreendo que “estes tipos malucos das bicicletas, tesos e cheios de lama, com uns capacetes esquisitos” não tenham o mesmo poder de compra e influência daqueles “tipos de Lisboa que só para armar ao pingarelho, compram uns esquis e uns fatos de neve e dizem às “tias” e “tios” que vêm esquiar “p’á Serra”. No entanto, os primeiros são bem capazes de amar mais a natureza do que os outros e, no que aos meus amigos e aos amigos dos meus amigos (num efeito dominó) diz respeito, Vodafone Mountainbike Park, nunca mais! E, lembram-se dos espanhóis? As más notícias espalham-se…
Actualizem, por favor, a página da Internet, pois para um crescente número de pessoas, jovens e menos jovens, é o primeiro veículo de informação. A ausência ou deficiência de informação numa página da Internet pode causar grandes estragos. Não acreditem que vos vão ligar para o número verde a perguntar, quando a informação presente na página é inequívoca.
“A telecadeira encontra-se aberta ao público”, dizem eles, só se forem as de Sierra Nevada, que nós, tivemos como “telecadeiras”, as dos nossos veículos, os quais nos transportaram toda a manhã, serra acima, serra abaixo. Não deixámos de barato a nossa ida lá acima e aproveitámos para fazer as mesmas descidas, à borla, mas em condições muito inferiores, pois o Inverno, lá em cima, não perdoa as estruturas e degrada-as rapidamente.
É por estas e por outras que as coisas depois não podem dar lucro. Como já nascem tortas é com muita dificuldade que se endireitam.
Construir uma marca, um nome, custa muito, destruí-lo, não custa nada, basta uma página Web com informação desactualizada ou enganadora.
Afinal a “telecadeira encontra-se aberta ao público”, está é parada …de tédio!
Por: José Carlos Lopes