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A propósito da linha da Beira Baixa*

Ver os comboios passar é uma expressão idiomática que remete para o passado, o que no caso do nó de acesso da Covilhã à Linha da Beira Alta tem sido verdade, mas porque o presente é futuro do passado e sem ele não concretizaremos o futuro, proponho uma breve visita à história da linha da Beira Baixa e ao ramal de acesso à linha da Beira Alta.

A linha da Beira Baixa foi inaugurada a 6 de Setembro de 1891 pelo rei D. Carlos, no âmbito de uma nova etapa política em Portugal, designada por Regeneração, um movimento político e social que pretendeu conciliar as diversas fações do Liberalismo e os interesses da alta burguesia com os das camadas rurais. (…) A política de Obras Públicas foi encabeçada pelo ministro Fontes Pereira de Melo. Preocupado em recuperar o país do atraso económico e tecnológico em que se encontrava, encetou em nome D’el Rei uma política de construção de novos meios de comunicação e transporte, tais como caminhos-de-ferro, estradas, carros elétricos, pontes, portos de mar, telégrafo e telefones.

O comboio chegou a Covilhã numa primeira fase e à Guarda em meados de 1893, concretizaram-se três grandes desígnios decorrentes deste investimento: a dinamização do mercado local, fazendo chegar mercadorias com uma maior frequência, estimulando o seu consumo e o escoamento das aqui produzidas, com o incremento agrícola e industrial da região e uma maior proximidade desta ao mundo.

Teve vários revezes ao longo dos seus anos de serviço às populações, com o desconforto associado e materializado em perdas de tempo e agradabilidade, que acarretou aos utentes deste serviço público. Finalmente em 2011, o troço ficou “modernizado” e eletrificado até à Covilhã. Findas as obras que prometiam uma redução no tempo de viagem e comodidade, eis senão que somos apanhados de surpresa com a notícia servida à “queima-roupa” que a REFER tinha decidido que a ligação Covilhã-Lisboa e Lisboa-Covilhã em intercidades seria efetuada em automotoras do século passado, aliando-se ao facto de não se circular desde 2009 até à Guarda e à Linha da Beira Alta, pese embora os 7,5 milhões euros gastos neste troço.

Estamos perante uma decisão anã e lesiva dos interesses públicos, senão vejamos. A fraca ocupação do caminho-de-ferro prende-se, em minha opinião, com o mau serviço público que a REFER tem prestado, pela morosidade das obras e do transporte, que pouca atenção revelou pelos que os brindavam, com a sua preferência, fosse por opção ou, por não terem mesmo outra alternativa. A empresa esqueceu-se também na sua análise SWOT do pagamento da A23, da crise generalizada no nosso país, do aumento do preço dos combustíveis e de um acréscimo de consciencialização ambiental. Seriam previsivelmente fatores de persuasão pela escolha do comboio, contribuindo de forma positiva para um menor desgaste das redes viárias, menor consumo de combustíveis fósseis, com impacto na nossa balança comercial e redução de emissões de CO2 para a atmosfera, colaborando para as metas do protocolo de Quioto, deitando desta feita por terra os argumentos de fraca utilização e reduzida rentabilidade das linhas da Beira-Alta e Beira-Baixa, o que, tudo suportado pelos nossos impostos é intolerável!

* Título da responsabilidade da redação

Jorge Saraiva, deputado (PSD) na Assembleia Municipal da Covilhã

Comentários dos nossos leitores
Pinto Pires ajpintopires@gmail.com
Comentário:
Todos os contributos são bem vindos ante a apatia dos que deveriam vir a terreiro defender esta nossa dama.
 
Maria Adelaide Faria milayria@gmail.com
Comentário:
Concordo plenamente com a opinião veiculada no artigo, de facto continuamos a sofrer com a interioridade e quem decide não sabe olhar para o futuro com olhos de ver.Homens como o Marquês de Pombal precisam-se em Portugal!
 
Francisco Andrade cruzandrade@sapo.pt
Comentário:
Concordo com a resenha histórica,mas julgo que deveria ser apontada uma perspetiva para futuro, isto é, que vantagens há com a reabertura da linha, tendo em conta os custos de manutenção.
 
Jorge Saraiva jhasaraiva@gmail.com
Comentário:
Meu Caro Cruz Andrade, Obrigado pela opinião, as vantagens da reabertura deste troço são: para além das evidentes, de escoamento de pessoas e bens com redução do sentimento de isolamento a que muitas ficam votadas sem esta alternativa; temos também a vertente turística que não deve ser desprezada, pois é um troço ferroviário com um beleza natural que deve ser rentabilizada e, finalmente, porque é uma perda de algo em que foram gastos milhões. Repare que digo gastos e não investidos e não é apenas semântica, 7,5 M €, que urge justificar com a utilização da via onde só cresce “relva”.
 

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