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«A projecção dos vinhos da Beira Interior passa por uma visão de conjunto»

Cara a Cara – Entrevista

P- O projecto da Central de Compras irá avançar ainda este mês, como foi anunciado?

R- A Central de Compras tem vindo a evoluir de forma diferente do que estávamos à espera. De qualquer modo, estará pronta no início de Março, altura em que vamos efectuar o primeiro leilão de compras em comum. Não quero adiantar, para já, do que se trata, por não ter o aval das outras cooperativas que integram a Unacobi, no entanto posso avançar que vamos reunir, hoje, na Guarda para determinar quais os produtos a adquirir. Acredito que a Central de Compras é uma necessidade premente e extremamente benéfica para todas as adegas, uma vez que vai permitir reduzir os custos.

P – Houve então um consenso generalizado por parte das adegas?

R – Penso que sim, embora existam sempre interesses individuais e institucionais de cada empresa, como é natural. De qualquer modo, é ponto assente a necessidade de nos ajustarmos à inovação técnica e os benefícios que isso poderá trazer. Pretendemos implementar um sistema informático comum que permita uma gestão mais transparente, um relacionamento mais célere com os produtores e uma rede de serviços. Tudo isto vai trazer um preço mais acessível e uma melhoria na qualidade do produto final. Estão envolvidos no projecto os cerca de sete mil associados da Unacobi, o que representa um número muito elevado para uma região como a Beira Interior.

P – Sempre defendeu a união das cooperativas como um caminho essencial para a sobrevivência de cada uma?

R – Tenho defendido essa via desde que sou presidente da Adega. No início, idealizava apenas uma associação com o Fundão, devido à proximidade geográfica. Mas como a Beira Interior é demarcada, produz 50 milhões de litros de vinho, mas não tem os apoios devidos por parte das entidades governamentais, enquanto a conjuntura económica não é a mais favorável, entendo que a união de esforços é o caminho mais viável para que possamos dar visibilidade aos nossos vinhos. A ideia deste projecto não é fundir as adegas, mas sim concentrar esforços para reduzir custos, mantendo a identidade de cada uma. É preciso trabalhar para colocar os nossos produtos no mercado de forma competitiva. Nesse sentido, entendo que a projecção dos vinhos da Beira Interior passa por uma visão de conjunto.

P- Quando é que o vinho produzido conjuntamente com Figueira de Castelo Rodrigo vai estar no mercado?

R- Esse vinho é o resultado de uma espécie de experiência-piloto que vai de encontro à ideia da união de esforços de que falávamos. Esperamos lançá-lo em Setembro e chamar-se-á, em princípio,”Terras do Interior”. Para já, são apenas duas as adegas participantes por razões de ordem financeira e logística. Se as condições económicas das adegas fossem diferentes, abrir-se-iam outras possibilidades.

P- Como está a situação financeira da Adega da Covilhã?

R- Está melhor do que há uns anos, como comprovam os relatórios anuais de contas. O que está pior é o domínio da concorrência, que tem dificultado a fixação de preços. Os resultados líquidos são, efectivamente, piores do que há dois ou três anos, porque o lucro é mais difícil. Para tentarmos ser competitivos, colocamos o produto no mercado com uma margem de lucro muito escassa.

P- A cooperativa tem sido distinguida várias vezes nos últimos anos. O que representam estes prémios?

R- Representam, naturalmente, um estímulo para a direcção e para toda a equipa de trabalho. E depois vêm por acréscimo o aumento das vendas e alguma publicidade. Mas, apesar de tudo, sinto que os vinhos da Beira Interior ainda não são reconhecidos como merecem. Parece-me que há um certo preconceito por parte dos provadores, cujos gostos estão orientados para outros tipos de vinhos.

P – O que falta então para colocar os vinhos da Beira Interior no mapa nacional?

R – É muito difícil porque, desde logo, a Beira Interior tem uma capacidade produtiva mais fraca do que outras regiões. Por outro lado, não possuímos os recursos das grandes áreas vitivinícolas. Não temos recursos para publicidade, por exemplo. É importante que se perceba, de uma vez por todas, que as regiões demarcadas devem ter os mesmos apoios, o que ainda não acontece. Na Beira Interior, o caminho é dar visibilidade e credibilidade aos nossos vinhos, com a qualidade necessária e a um preço competitivo.

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