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«A maior família de Portugal é a dos divorciados»

Cara a Cara – Entrevista

P – Como é que surgiu a ideia de criar a Associação de Apoio aos Pais Divorciados e Filhos Desprotegidos?

R – A ideia surgiu dos problemas que resultam do divórcio e da separação, pois não há qualquer apoio do Estado a nível social, psicológico ou moral. Como esta é uma realidade da sociedade actual pretendemos colmatar essa lacuna. Há uma grande percentagem de pessoas divorciadas, separadas ou mal casadas. Trata-se, na nossa opinião, do maior problema da sociedade actual, que arrasta as pessoas e os seus filhos para problema sociais, morais e até económicos. Durante e após o processo de divórcio, muitas pessoas ficam sem disposição para viver, acabando até por perder os empregos. Outras ficam anos e anos de baixa. Por isso, criámos um projecto para informar e aconselhar sobre os direitos e deveres de todos aqueles que necessitam de ajuda para prevenir atempadamente situações que possam ser evitadas, salvaguardando sempre, os direitos dos pais para com os filhos

P – Que tipo de apoio a Associação oferece aos associados?

R – A Associação tem muitos voluntários na área social. Desde psicólogos a assistentes sociais e até temos concurso aberto para animador cultural. Mas como ainda não dispomos de instalações próprias, é difícil prestar outros serviços. Este é um problema que pretendemos resolver a curto prazo e, para isso, contamos com o apoio das entidades competentes.

P – Quando é que poderá surgir um núcleo na Guarda?

R – Há já algum tempo que se justifica um núcleo na Guarda, pois existem milhares de divorciados ou separados no distrito. Já temos algumas dezenas de associados, mas existem muitos que ainda estão incógnitos. Apesar de ainda não existir uma estatística sobre o número real de divorciados, acredito que nunca haverá um número absoluto. Isto porque a maioria dos divorciados não dá a cara, sentindo isoladamente os problemas da pressão, solidão e o sofrimento. Acredito que feliz ou infelizmente, a maior família de Portugal é a dos divorciados. Por isso precisamos de ter uma atitude mais activa para inverter essa tendência discriminatória e ajudar a resolver os problemas. Agora só precisamos do apoio das entidades oficiais locais, designadamente da Câmara Municipal e Segurança Social.

P – A sociedade actual está preparada para lidar com este desmembramento das famílias?

R – Não e aí reside um dos problemas. As famílias de hoje fogem do tradicional e já não são constituídas por pai, mãe e filhos. Hoje a maioria das famílias vive uma realidade muito diferente. Como a sociedade actual ainda está baseada na família padrão, sente dificuldade em controlar a situação que estamos a viver. Por isso, o nosso projecto pretende criar condições e tomar medidas e até promover debates sobre esta temática, porque quanto menor for o apoio das famílias numa situação de divórcio maiores são os problemas para a sociedade. Com as gerações vindouras a sofrerem estes efeitos, o conceito da família e outros valores serão afectados.

P – Qual é a posição da Associação em relação à guarda dos filhos?

R – A Associação defende que devia haver uma campanha de sensibilização e uma alteração da legislação em vigor, porque em Tribunal há uma tendência para beneficiar a mãe e os direitos do pai são sempre esquecidos. Como a Associação é heterogénea, sendo constituída tanto por pais, como por mães, estes problemas são debatidos regularmente. Nesse sentido, tentamos combater os exageros que são cometidos pelos progenitores, tal como gostaríamos também de fazer com que a legislação fosse tendente a aplicar sempre que possível a guarda conjunta. Enfim, combatemos por uma justiça única.

P – Quais as iniciativas que a Associação promove?

R – Depois do primeiro encontro realizado em Viseu, agora vamos promover o primeiro encontro de divorciados do distrito da Guarda. A iniciativa tem por objectivo reunir as pessoas divorciadas ou separadas, pais ou mães solteiras, e outros com problemas paternais. Num primeiro momento, as pessoas vão conhecer-se e partilhar histórias. A partir daí, vão permutar conhecimentos pessoais. Certamente, será criado o ambiente ideal para sentirem que não estão sozinhas e que há outras pessoas com os mesmos problemas. De resto, a Associação está a criar para breve uma linha verde para atendimento permanente.

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