Arquivo

A lista do descontentamento socialista

Concelhia da Guarda promete «acertar contas» com o presidente da Federação depois de José Albano e André Figueiredo terem ficado com lugares elegíveis à Assembleia da República

A Federação da Guarda do PS sofreu, esta semana, um rombo sem precedentes ao aprovar, por maioria, a mais polémica lista de candidatos à Assembleia da República de que há memória entre os socialistas. No centro da contestação está José Albano Marques, eleito presidente da Federação há cerca de um ano e agora cabeça-de-lista, mas também Virgílio Bento, líder da concelhia guardense, e o autarca Joaquim Valente poderão ser apanhados pelos efeitos colaterais de um resultado menos bom nas legislativas de Setembro.

Em causa está a surpreendente lista aprovada no último domingo, em Celorico da Beira, pela comissão política distrital com 34 votos a favor e 22 contra. Os pesos-pesados do PS foram literalmente varridos para debaixo do tapete e no seu lugar emergiram José Albano e André Figueiredo, que acumula a chefia do gabinete de Sócrates com o lugar de secretário nacional adjunto do PS e de deputado municipal em Seia. Os dois jovens dirigentes ocupam os lugares elegíveis, enquanto Rita Miguel, actual deputada, surge na terceira posição, seguida do presidente da distrital da JS Nuno Silva. De fora ficaram nomes com aspirações como Santinho Pacheco ou José Igreja, que até declinou o convite de Ernesto Gonçalves para se recandidatar à presidência da Assembleia de Freguesia da Sé por estar convicto que ia na lista às legislativas. Outras “vítimas” desta renovação foram as duas maiores concelhias da Federação, Guarda e Seia, cujo peso foi totalmente secundarizado neste processo de constituição das listas.

Este desfecho estava há muito anunciado no caso de Seia por o seu presidente, Eduardo Brito, ter sido adversário de José Albano nas eleições para a presidência da Federação. Já os socialistas da Guarda foram totalmente apanhados de surpresa. Virgílio Bento contava com o primeiro ou o segundo lugar, mas recebeu o terceiro e não gostou: «A concelhia da Guarda não se revê nesta lista, que não é representativa do distrito, porque não reflecte o peso eleitoral das duas estruturas mais importantes que o PS tem», disse, prometendo «acertar contas» mais tarde com José Albano. «A maneira como esta concelhia foi tratada pelo presidente da Federação irá ter consequências e, obviamente, que o nosso relacionamento futuro não será o mesmo», avisa. Até lá, Virgílio Bento garante que os militantes da Guarda não vão desmobilizar para as campanhas que aí vêm. «Vamos empenhar-nos para que o projecto do secretário-geral do partido [José Sócrates] e o PS ganhem as legislativas, mas também para que Joaquim Valente seja reeleito na Câmara da Guarda. Isso é muito mais importante que este problema», considera.

Concelhia da Guarda «de cócoras»

Quem ainda não se refez do que se passou em Celorico da Beira é Esmeraldo Carvalhinho. O antigo dirigente da concelhia da Guarda é agora militante de base – e candidato à Câmara de Manteigas – e não esconde a irritação pelo sucedido: «É a segunda derrota da concelhia da Guarda. A primeira aconteceu quando não foi capaz de apresentar um candidato à liderança da Federação, cujo presidente não é da Guarda, o que acontece pela primeira vez na história local do PS. A segunda surge agora, pois não conseguiu assegurar nenhum lugar elegível nas listas a deputados, quando, no mínimo, cabia-lhe escolher o cabeça-de-lista», refere. Por isso, Esmeraldo Carvalhinho considera que argumentar agora que a Guarda é uma das maiores concelhias da Federação «não serve de nada, pois a sua subalternização já é um facto comprovado». Cáustico, o socialista garante mesmo que a Guarda está «de cócoras perante a concelhia de Celorico da Beira e do secretário nacional adjunto do PS [André Figueiredo]». E acrescenta que o trabalho desenvolvido nos últimos meses pelos actuais dirigentes da secção da capital de distrito «não dignifica nada a concelhia», esperando para ver que influência terá Joaquim Valente junto de Sócrates para mudar a situação.

Congratulando-se pelo facto da lista ser liderada por um residente no distrito, como tem defendido «há anos», Esmeraldo Carvalhinho receia que esta contestação acabe por dar argumentos ao PS nacional para impor um “paraquedista” na Guarda. «Não me admirava nada uma solução deste tipo para apaziguar as hostes», adianta, afirmando ter pensado, até ao passado domingo, que seria Idália Moniz a cabeça-de-lista pelo círculo da Guarda. O INTERIOR tentou contactar José Albano Marques, mas sem sucesso até o fecho desta edição. Aparentemente mais pacífica terás sido a escolha dos elementos da lista social-democrata às legislativas. João Prata, presidente da Junta de São Miguel e vice-presidente da distrital, é o primeiro e já foi desafiado por António Monteirinho, candidato socialista àquela junta urbana, a assumir se continua na corrida ou vai desistir da reeleição. O número dois é Carlos Peixoto, advogado, líder da bancada laranja na Assembleia Municipal de Gouveia e presidente do Conselho de Administração da empresa municipal Desporto, Lazer e Cultura de Gouveia, seguido da figueirense Ângela Graça na terceira posição.

Luis Martins Lista proposta pela Federação vai amanhã ser analisada na comissão política nacional do PS

Comentários dos nossos leitores
Jorge jorgeigejacostalo@hotmail.com
Comentário:
La vai a Guarda ficar sem deputados na Guarda, O francisco Assis esse é um perdedor e o José Albano um anedota que sonha alto demais.
 

A lista do descontentamento socialista

Sobre o autor

Leave a Reply