Arquivo

A geração antes

Portugal tem muitos mitos e um deles é o da guerra colonial, que se deve desmistificar nos números. Em 13 anos de guerra colonial morreram oito mil jovens portugueses e africanos ao nosso serviço e por cada morto devem pressupor-se 4 vezes mais feridos em combate. Comparemos isto com guerras contemporâneas e tenhamos a percepção da eficácia do combate travado num território 30 vezes maior que Portugal. Morreu muito mais gente no período que se seguiu à guerra colonial e muito mais gente por mês do que o tempo todo da guerra colonial. Morreram de fome, morreram de sede, de genocídios, de crimes contra a humanidade, e de nada disto ouvimos falar as mesmas esquerdas que se levantaram contra o colonialismo. Como se tudo o que vem depois fosse justificável à luz ideológica.

Portugal continental, que era um atraso de vida em termos de desenvolvimento, teve muitos mais mortos nas estradas naquele período que os mortos da guerra colonial. Muito mais mortos em acidente de construção civil, muito mais mortes em acidentes fabris. Portugal matava os seus filhos aqui. Esta guerra travou-se depois da entrada na Europa por força da exigência de certificação e de auditorias, ou permanecíamos no mais negro obscurantismo. È outra batalha que as esquerdas elevam com cerimónia.

O Tarrafal, onde não gostava de ter estado, soma menos de 30 mortos ao longo de toda a sua existência. Outros regimes totalitários mataram em cadeias normais muito mais presos políticos que nós no campo de concentração.

E a que vêem estes números? Minorar a força de Abril de 74? Não que a liberdade é uma conquista imedível. Minorar o peso dos mitos de Abril? Sim e só isso. De facto o antigo regime transportava todas as características do actual, com favores, amizades, pedidos de indulgência e simpatia, colocação de amigos nos lugares chave. Os escândalos eram menores e os bancos falidos não existiram. Afinal as grandes diferenças são a geração que apeou a anterior, o fim da guerra colonial, a entrada na Europa e um imenso caos da credibilidade política. Há hoje uma censura induzida, uma informação “filtrada” por meios pouco claros como seja o negócio (as play lists) os favores, os amparos e o controle da informação pelo Estado. Estou convicto que muitos dados me são sugeridos e muito do contraditório fica escondido. Assim a análise histórica do período colonial está subjacente a um conjunto de pressupostos que alteram a leitura em qualquer circunstância. A esquerda impõe um discurso que a direita engole em prol de ser moderna e antifascista. Mas o facto é que África precisa de apoio de Portugal e Portugal não está lá. O negócio que poderíamos fazer é o da educação em escolas portuguesas, uma presença real dos nossos diplomatas, a criação de lugares de lazer e de turismo, investir nas infra-estruturas e ser parceiro real. Quando retirámos de Angola existia um milhão de portugueses e cinco milhões de africanos divididos por cinco grupos étnicos ou tribais. Portugal poderia até ter ganho eleições livres naquela época. Mas a opção estava na mão de alguns visionários fanatizados e sedentos de outros poderes. Esta discussão é extremamente interessante e retoma à matéria do Portugal Atlantista versus o Portugal na comunidade europeia. Toda esta discussão obriga a entrar sem preconceitos e sem mitologias sobretudo porque as testemunhas envelheceram e os novos adultos não têm disto qualquer memória.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply