Arquivo

«A Feira das Tradições é uma marca para a região que queremos consolidar a cada ano»

Entrevista a Rui Ventura, Presidente da Câmara Municipal de Pinhel

P – Está tudo a postos para a 21ª edição da Feira das Tradições. Qual é a expetativa para este ano?

R – As expetativas são as melhores porque a Feira das Tradições já criou uma dinâmica na cidade, no concelho e na região em que as pessoas reservam o fim-de-semana que antecede o Carnaval para vir a Pinhel, a esta feira onde nós mostramos tudo o que de melhor fazemos e temos no concelho. Além disso, com os Xutos & Pontapés como cabeças-de-cartaz, acho que vai superar a edição do ano anterior, esse é pelo menos o meu desejo.

P – Mais expositores e atividades, é sinal que a feira já é uma marca consolidada na região e no país?

R – Sem dúvida. A Feira das Tradições é uma marca para a região que queremos manter e consolidar ano após ano. Nesse sentido, este ano teremos, pela primeira vez, stands de alguns concelhos vizinhos. É uma participação que considero importante, pois podem também promover as suas localidades e, no fundo, a região.

P – Não o preocupa o facto desse ser um fim-de-semana com inúmeras atividades na região?

R – A Feira das Tradições vai celebrar 21 anos e tem acontecido sempre no mesmo fim-de-semana. Nem precisamos divulgar a data. Para o ano, a 22ª edição já sabemos quando é: no fim-de-semana que antecede o Carnaval. Nunca abdicámos desta data para que os pinhelenses e quem nos quer visitar saibam quando o certame se vai realizar. Na apresentação da feira à imprensa dei este exemplo de muitos pinhelenses que estão fora e que, no Facebook, mostram fotografias dos bilhetes que adquiriram. Isto significa que as pessoas sabem atempadamente da realização desta atividade, que começa sempre na sexta-feira antes do Carnaval e termina no domingo.

P – Acredita que os produtos endógenos de Pinhel, a cidade e o concelho têm hoje mais notoriedade na região e no país graças a este certame?

R – A feira contribuiu para algo que considero importante, que é conseguirmos dar a conhecer aquilo que de melhor temos. Mas a grande articulação entre a Câmara Municipal, os produtores e os empresários, bem como a importância que damos à sua participação na feira, resulta depois que, ao darmos-lhes esta oportunidade, eles também colaborem connosco durante o ano nas várias iniciativas em que a Câmara promove o concelho e os seus produtos endógenos. A Feira das Tradições é algo com o qual qualquer pinhelense se identifica e onde quer cada vez mais promover os seus produtos. A loja de recursos endógenos que está no posto de turismo é fruto do trabalho anual que fazemos com os nossos produtores.

P – Este ano há também menos espaço no Centro Logístico fruto da instalação de novas empresas? Em breve a feira já não vai caber nestes pavilhões, como está o projeto do novo pavilhão de exposições?

R – É verdade que neste momento não temos tanto espaço naquele complexo, mas por boas razões, porque as empresas vêm para o concelho de Pinhel. No entanto, este ano a feira tem 8.300 metros quadrados de área coberta, são mais mil metros quadrados comparativamente à edição de 2015, tendo a organização contratado uma tenda para complementar o espaço que foi ocupado pelas empresas nos pavilhões. Mas estamos preocupados com a falta de espaço dada a dimensão do certame e o facto da Feira das Tradições não poder continuar com tendas. Tudo indica que uma outra empresa poderá vir para o Centro Logístico durante este ano e assim sendo significa que na 22ª Feira das Tradições o espaço disponível será ainda mais reduzido. Portanto, teremos que dar um passo que já devíamos ter dado há muito tempo e fazer um novo pavilhão não só para a Feira das Tradições, mas também para apoio ao comércio e indústrias do concelho. Houve um volte-face no processo que resultou de um repto lançado a empresários franceses do setor da aeronáutica para não irem para aquele pavilhão, até porque tínhamos a possibilidade de outra empresa ir para lá, e de fazerem de raiz as suas instalações na zona industrial ocupando a área destinada ao pavilhão. Isso vai acontecer e a assinatura da compra do terreno vai ser celebrada na sexta-feira, na Feira das Tradições. É uma boa notícia para o certame e também para a região.

P – É um projeto complementar à Fly Mecânica?

R – Sim, são empresários que vieram a Pinhel aquando da inauguração das instalações dessa empresa e que na altura conversaram com o ministro da Defesa. Eram três empresas, uma delas é do atual dono da Fly, que não estará cá neste fim-de-semana devido a assuntos pessoais mas virá em março escriturar a compra do terreno. Os outros dois vão assinar e será o princípio da construção de mais duas fábricas em Pinhel na zona industrial, ocupando o espaço que estava destinado ao futuro pavilhão de exposições. Acho que foi uma mais-valia para o concelho termos dado prioridade à instalação daquelas empresas. Agora estamos à procura de uma alternativa para o pavilhão. No próximo ano ainda vamos ter que manter a feira no Centro Logístico, dando-lhe porventura mais dimensão, mas acredito que daqui a dois anos já irá realizar-se em instalações novas.

P – O granito está em destaque nesta Feira das Tradições. Pode-se dizer que é um setor tão ou mais importante que o vinho em termos de faturação e de exportações?

R – É um recurso de Pinhel que gera cerca de 10 por cento do volume de negócios do concelho. Há 30 empresas a trabalhar na extração e transformação do granito, são empresas familiares que empregam cerca de 200 pessoas. São empresários sólidos, firmas que passam de pais para filhos e têm aguentado todos estes anos, e acredito que são uma mais-valia. A Câmara já tentou, através do NERGA e do CEVALOR – Centro Tecnológico da Pedra Natural de Portugal, sensibilizar estes empresários para se associarem, isto para fazermos a certificação do granito cinza de Pinhel porque é um passo extremamente importante, mas também para poderem juntar sinergias e darem respostas que de outra forma não podem dar neste momento, nomeadamente em termos de grandes encomendas. É esse passo que tem que ser dado e acho que a Feira das Tradições tem ajudado. Antes, dois ou três empresários do setor participavam no certame, este ano todos vão estar presentes, o que é importante para aquilo que pretendemos a seguir, no sentido de contribuirmos para que estas empresas criem mais riqueza para o concelho.

P – O que pode fazer a autarquia para dinamizar ainda mais este setor?

R – A autarquia já faz parte dos órgãos sociais do CEVALOR, sediado em Borba, a entidade que presta apoio técnico a quase todas as empresas de granito do concelho. O colóquio deste ano na Feira das Tradições é dedicado ao granito e contará com a participação do presidente do CEVALOR e do vice-presidente da ASSIMAGRA – Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins, as principais associações do setor que vão certamente olhar para o granito cinza de Pinhel de outra forma. Portanto, o que a autarquia quer é juntar todos os ingredientes possíveis para que, juntamente com entidades da região como o NERGA, possa resultar uma boa solução para o sector.

P – Em 2002, esteve na génese do que é hoje a Feira das Tradições. O que faria diferente?

R – Fazia um pavilhão. Se, em 2002, soubesse que a feira teria este “boom”, teríamos logo avançado para a construção de um pavilhão com as condições todas. Não aconteceu na altura e hoje não será assim tão difícil concretizar esse projeto porque a Câmara investe mais 250 mil euros na Feira das Tradições todos os anos. Se fizermos as contas, se formos à banca pedir dinheiro exclusivamente para a construção de raiz de um pavilhão com onze mil metros quadrados, que pode ou não ser comparticipado, conseguimos amortizar, ao preço de custo atual, o empréstimo todos os anos e não gastamos assim tanto dinheiro. Quem reconhece a importância que a Feira das Tradições tem para Pinhel, para o concelho e para a região, com o investimento que fazemos, faz todo o sentido dar este passo o mais rápido possível.

P – O certame acontece depois de um ano de 2015 cheio de boas notícias para a cidade e para o concelho. Acredita que foram dados os primeiros passos para contrariar o ciclo de declínio que se vivia desde o encerramento da Rohde?

R – Sou, por natureza, um presidente de Câmara inconformado, nunca estou contente com aquilo que tenho, quero sempre mais, porque sou de cá, vivo os problemas das pessoas, ando na rua, percebo isso e mais inconformado fico. Sempre que posso e tenho a oportunidade eu corro atrás dela até ter um não definitivo. É o que temos feito nos últimos dois anos, felizmente algumas têm-nos corrido bem mas também houve muitas que nos correram mal, mas isso faz parte da negociação. As nossas abordagens nem sempre têm resultados, mas costumo dizer que a sorte procura-se e é o que temos feito. No caso das empresas de aeronáutica era muito mais importante para a Câmara alterar o regulamento da zona industrial e dar a possibilidade aos empresários de terem mais terrenos à disposição e o resultado foi que quase todos os lotes tiveram interessados. Com isto estamos a fazer com que as empresas venham de raiz para Pinhel e não para um pavilhão que está alugado, portanto o nosso objetivo primordial é tentar que as empresas e os investimentos se fixem cá e criem riqueza e postos de trabalho. É por isso que corremos atrás das oportunidades, mas também corremos riscos. A primeira negociação com estes empresários consistia em instalá-los no pavilhão da ex-Rohde, mas a segunda abordagem já foi desafiá-los a fazerem instalações próprias num terreno da nossa zona industrial, um desafio que aceitaram.

P – Além desses investimentos, em 2016 o que mais poderá acontecer em Pinhel?

R – Seguramente que irá acontecer muita coisa, mas não quero adiantar mais porque as coisas podem não correr da forma como pretendemos. Mas vamos ter muitas novidades este ano, não só na área dos eventos – onde já marcamos a diferença – mas também na captação de empresários e negócios.

P – Um dos eventos que surpreendeu em 2015 foi a feira medieval. É uma atividade que vai continuar?

R – Seguramente. Tivemos um grande sucesso na primeira edição, o “feedback” foi positivo e houve gente que nos visitou, aliás, a feira medieval é tão importante para nós que vai ter um espaço próprio na Feira das Tradições para promoção do evento.

P – Também vai repetir o evento “Beira Interior Vinhos & Sabores”?

R – Foi um passo definitivo para confirmar a importância do vinho na Beira Interior e da sua qualidade. Criamos um bom ambiente, num espaço agradável e também aqui o “feedback” foi positivo. Portanto vamos trabalhar com a Comissão Vitivinícola, o nosso parceiro nesta atividade, para que a segunda edição seja um sucesso e colmatar alguns dos problemas que o evento teve no ano passado para melhorar cada vez mais.

P – Tudo isto passa por vários objetivos, nomeadamente o desenvolvimento económico e a criação de emprego. Tem alguma ideia de quantos postos de trabalho poderão vir a ser criados nos próximos tempos com estas novas empresas?

R – Queremos empresas sólidas, que arranquem com um determinado número de funcionários e depois vão aumentando de forma gradual. Está a acontecer assim com as duas empresas de calçado, que iniciaram a sua atividade com doze/ treze trabalhadores e uma já emprega cerca de 20 pessoas e a outra cerca de 30, com potencial de crescimento. O mesmo vai acontecer com as fábricas de aeronáutica, tal como aconteceu com a Fly, que já está em Pinhel há alguns anos. Hoje tem melhores condições e vai recrutar mais pessoas tendo em conta também a futura parceria com estas empresas. Nestes caso, as duas fábricas vão arrancar com cerca de dez/ quinze trabalhadores cada uma e depois vão aumentar, sendo que no pico máximo do projeto deverão empregar 60 a 70 funcionários. O que é importante para a região, não só em termos de emprego mas pela área que é, pois não há outras empresas do género na região e curiosamente a UBI tem um curso de Engenharia Aeronáutica. Portanto, está aqui perspetivada a criação de emprego em Pinhel, mas também de riqueza e a vinda de mais quadros para a cidade.

P – Como estão as negociações com a Ensiguarda?

R – Fizemos uma primeira abordagem para a escola profissional Ensiguarda ter em Pinhel um ou dois cursos. Isso aconteceu numa reunião com o diretor a Ensiguarda em que participaram os presidentes de Junta do concelho, tendo depois a autarquia oficiado a instituição no sentido de confirmar o nosso interesse e disponibilidade para acolher essas formações no concelho. Portanto, neste momento o processo está do lado da Ensiguarda.

P – E a área empresarial de Pínzio, junto à A25?

R – O que fizemos foi adquirir os terrenos, mas tínhamos um problema para resolver no que diz respeito à zona industrial de Pinhel, em que reformulámos alguns dos lotes e criámos mais seis espaços para potenciais investidores. Esse procedimento já terminou e temos candidatos para todos os lotes, o que significa que, agora sim, temos a zona industrial da cidade completamente esgotada e já poderemos dar outro passo. Não estou a dizer que não se avance em Pinhel com outra área empresarial, mas para nós é um ponto-chave avançar para Pínzio. Contudo, aí avançaremos sempre à medida que surgirem as iniciativas, de forma gradual, em vez de fazer tudo de uma só vez para o espaço ficar parado, até porque o investimento é demasiado grande. Além do mais, nem todos empresários precisam da mesma área para implantarem o seu negócio, daí preferirmos lotear à vez o espaço e crescer à medida das necessidades.

P – Vai apresentar o “Guia do Investidor de Pinhel”. Faz parte da estratégia de promoção de Pinhel e de atração de novos negócios para o concelho? Está otimista em atrair novas empresas num tempo de crise?

R – É, obviamente, um guia que vai ser distribuído de forma estratégica em áreas que consideramos fundamentais. Com esta brochura, podemos “vender” melhor o concelho e o território porque o empresário fica com um retrato das características do município. Acho que é o guia que faltava para nos acompanhar nos contactos com eventuais investidores em Pinhel.

P – Como está o relacionamento no seio do executivo?

R – O que posso dizer é que o último Orçamento foi aprovado por unanimidade na Câmara e na Assembleia Municipal, logo, penso que há uma boa relação e um entendimento comum quanto ao futuro de Pinhel. No executivo, honra seja feita aos vereadores do PS, temos caminhado todos no mesmo sentido, ou seja, todos percebemos que não é o PS ou o PSD que são importantes, o que está em causa é o concelho de Pinhel. Tenho sido apoiado por todos os vereadores, sejam ou não do meu partido, e é importante as pessoas terem esta visão, que é uma forma positiva de estar na política. Há algumas declarações do líder da oposição que o comprovam, nomeadamente quando disse na última Assembleia Municipal, que aprovou o Plano e Orçamento, que este era o rumo que Pinhel tinha que ter e que o atual presidente da Câmara está a fazer um bom trabalho. Naturalmente que fico satisfeito quando oiço isto, mas fico ainda mais quando eles colaboram connosco naquilo que é estratégico para a cidade e para o concelho.

Sobre o autor

Leave a Reply