Kim Prisu está de regresso à Guarda com uma exposição de pintura na galeria do Paço da Cultura. A mostra intitula-se “Resquícios de Mitos num Ensejo de Ampliar” e será inaugurada na terça-feira. Até ao final do mês estão patentes 30 obras, a maioria das quais são desenhos-pintura sobre papel, «concluídos este ano», adianta o artista, que já conta com mais de 50 exposições em França, Bélgica, Alemanha, Espanha e Portugal.
Para ver, também pela primeira vez na Guarda, há ainda quatro esculturas feitas com materiais recuperados e alguns trabalhos dos últimos anos. «A minha arte evoluiu, pois este país fez com que a minha visão mudasse. Entrou mais poesia na minha criação», garante. Kim Prisu afirma sentir «muito prazer» em expor na Guarda, pois foi aqui que, regressado de França, teve o seu primeiro contacto com outros criadores de outras áreas artísticas, «como o Américo Rodrigues e o Aquilo», recorda. Além disso, «é estar na minha terra, mesmo se a minha Aldeia da Dona fica a 50 quilómetros». Kim Prisu, aliás Joaquim Borregana, nasceu em 1962 naquela pequena localidade do concelho do Sabugal, mas foi para França aos nove meses. Regressou definitivamente em 1996, não sem deixar para trás um currículo impressionante no domínio da arte contemporânea e alternativa. Senão veja-se. Nos anos 80, em Paris, Kim Prisu – nome artístico “roubado” à marca de uma grande superfície – e Quim P. (Joaquim Pereira) deram origem ao conceito “Nuklé-Art”, cujo objectivo a arte total.
Em 1984, juntamente com Kriki (Cristian Vallée) e Paul Etherno, forma o grupo “Nuklé-Art”, pioneiro na figuração livre e na “computer e media art”. Para divulgar a sua arte, o trio começou por instalar obras na rua ou no metro, mas em 1986 entrou nas galerias de arte parisienses, e no mercado oficial, graças ao leilão com o sugestivo título “Les Jeunes Débarquent” [Chegam os jovens]. Enquanto grupo estruturado, os “Nuklé-Art” existiram até 1987, seguindo depois Kim Prisu uma carreira a solo que o levou a expor a título individual ou em colectivas ao lado de obras de Jean-Michel Basquia, Keith Haring, Combas ou Dirosa. Em 1989 começou o seu primeiro projecto em Portugal, cujo objectivo era fazer na sua terra natal uma «aldeia cultural». Dessa vontade sobram hoje várias esculturas ligadas à memória dos sítios onde foram erguidas. Quanto à sua arte só foi apresentada no nosso país em 1994, no Clube Arte 50, em Lisboa, por intermédio de um coleccionador suíço e da galeria “Cristophe”.
Dois anos depois Kim Prisu regressa a Portugal e recomeça um novo percurso artístico, expondo na Guarda, nas Bienais de Coruche e do Avante, em Palmela, Setúbal ou Lisboa. Por cá continuou o mesmo conceito de arte total, mas desta vez no “Mundo dos Inteiros”, que criou em 2003 com António Xavier, Paulo Proença, Sebastião Maresia, Rui Malo, Espinal Medula e Flávio Andrade, fazendo poesia, performances e pintura. Na Guarda também colabora com Américo Rodrigues e o Aquilo. Em 2005, o seu quadro “Naissance de trait bleu” foi apresentado como exemplo numa conferência da exposição “Sons et Lumières”, no Centro Pompidou (Paris). Na terça-feira será também inaugurada uma exposição de pintura e escultura de Alberto e Vítor Carreto, patente no Paço da Cultura até ao final de Agosto.
Luis Martins