Madalena Ferreira
No dia em que o país escolhe o novo parlamento sentam-se à mesa os valores da abstenção das legislativas antecipadas de junho de 2011 e, particularmente as cifras do Distrito da Guarda. Há 4 anos mais de 46% dos votantes ficaram em casa ou aproveitaram o dia para um merecido passeio, mas a opção brindou-nos com um nível de abstenção superior ao que foi verificado a nível nacional situado abaixo dos 42%. Foram portanto milhares de pessoas que, por vontade própria, viram eleger um governo no qual não votaram. Nem a favor nem contra.
A realidade contrasta com o que aconteceu na aldeia de Vale de Coelha nas primeiras eleições livres realizadas há 40 anos. Com a ditadura no chão há precisamente um ano, os 51 eleitores votaram em massa para a Assembleia Constituinte. Quem participou nessa campanha sabe que houve um duplo culpado na expressiva mobilização eleitoral: Por um lado era a primeira vez que votavam em liberdade e, por outro, todos estavam com medo dos comunistas que acenavam com a reforma agrária e a consequente nacionalização de terras. Mas independentemente das motivações, a aldeia do concelho de Almeida ficou na história porque a abstenção foi nula.
Confirma a Comissão Nacional de Eleições (CNE) que após a eleição dos 250 deputados incumbidos de fazer a Constituição Portuguesa em 1975, a mesma localidade não conseguiu manter o feito raro de cumprir uma eleição sem abstenção. Logo em 1976, votaram para a Assembleia da Republica 50 dos 52 eleitores (mais um que no ano anterior), tendo ganho o PPD, partido liderado por Francisco Sá Carneiro. Aliás, de então para cá, a população que virou à direita (votando no PPD e no CDS e mais tarde no PSD) não voltou a descarregar a totalidade dos votos.
E, dizem as estatísticas que, desde 1991 que a abstenção em Portugal, nos sucessivos atos eleitorais, é sempre superior a 30%. Parece-me que hoje será um bom dia para começar a inverter a tendência.
Por: Madalena Ferreira, correspondente da SIC e “Jornal de Notícias” na Guarda