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8 de março

Ainda hoje, a exclusão das mulheres da política é muito elevada. Por razões de diversa ordem. Operacionais. Como, se há uma família para cuidar? Tradicionais. Os interesses das mulheres não se situariam tanto na esfera pública quanto na esfera da vida privada. Corporativas. Os homens na política fazem rede (networking) entre eles, fechando-se em clubes a que as mulheres dificilmente acedem. Concetuais. A política faz oposições, polariza, distingue, separa; tem uma natureza patrimonial – conquista e conserva poder, como dizia Maquiavel – e não uma natureza matrimonial, e talvez por isso tenha uma tão grande ansiedade pela monumentalização, pelos feitos imortais, heroicos.

A política apresenta-se competitiva, agressiva, patriarcal e, então, assume-se que é masculina, como se a masculinidade não tivesse sido, tanto quanto a política, representada para ser dessa maneira. A política não se faz à medida dos homens mais do que os homens foram feitos à medida da política. Ambos – política e homens – fazem parte de um constructo artificial que foi no essencial concebido, desenhado, construído e naturalizado — cultural e institucionalmente —, por homens que, no fundamental, se apropriaram abusivamente do seu género, como também se apropriaram da sua espécie, das maneiras de exprimir inteligência, etc.

Mas tem de ser assim a política? Aliás, tem de ser assim ser homem? Os destinos de ambos ligam-se na realidade nestas perguntas. E quanto se pensa no acesso das mulheres à política tem de se pensar nestas perguntas bem como nas suas contrapartes que seriam uma política pensada segundo os estereótipos femininos que rotulam e também reduzem as mulheres.

Opor à política da conquista a política da conservação, da inclusão, do fazer comunidades. Ou à política da fronteira a política da convergência, à política da posse a política da relação, à política do crescimento a política do fazer lugar.

Há um paradigma vigente de encarar a política que faz dela mesma um lugar de exclusivismo. O que não se alcança sem muitas exclusões. Não só de género, mas também de género. Exclusões que, no essencial, barram a política à comunidade em geral ou, numa palavra, ao povo, que é chamado a votar, mas não a fazer política.

Se as mulheres são uma possibilidade de mudança de paradigma não é por nenhum aspeto de natureza – não se nasce mulher neste sentido de mulher – mas pelo seu lugar histórico em toda esta história. Um lugar pouco agradável que descreveria assim: a mais antiga, mais profunda e transversal exclusão social é a exclusão de género. É mesmo o modelo que tornou concebíveis todas as outras formas de exclusão. É a arquiexclusão, que confere inteligibilidade à própria prática da exclusão.

Por: André Barata

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