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762 mil votos não contaram para eleger deputados

Esta situação deve-se à aplicação do método de Hondt nas eleições legislativas.

Após o apuramento geral dos resultados eleitorais nos 22 círculos eleitorais do país, 14,65 por cento dos votos não contaram para a eleição de deputados, metade dos quais nas quatro maiores forças políticas (PSD/CDS-PP,PS, BE e CDU (que junta PCP e PEV).

Contabilizando os votos de todas as forças políticas, não entraram para a obtenção de mandatos aproximadamente 762 mil votos, um número superior à totalidade de votos conseguidos quer pelo Bloco de Esquerda (550.892), quer pela CDU (445.980). Em termos percentuais, a CDU foi a força política que mais ficou a perder com o método utilizado nas eleições legislativas, o método de Hondt. Contrariamente, a coligação PSD/CDS-PP foi a menos prejudicada, em relação ao seu número total de votos.

No caso da CDU, 22,63 por cento dos votos não contaram para a eleição de deputados. Já na coligação “Portugal à Frente” essa percentagem foi de 5,14 por cento. O PS não viu serem contabilizados 5,75 por cento dos seus votos e o BE 18,25 por cento. PSD/CDS-PP obtiveram 1.993.921 de votos mas com menos 107.252 teria elegido o mesmo número de deputados (107), considerando os cinco deputados ganhos pelo PSD nos Açores e na Madeira onde os dois partidos concorreram isoladamente.

Já o Partido Socialista – que conquistou 1.747.685 votos – poderia ter tido menos 100.537 votos que isso não alteraria o seu número de mandatos alcançados (86). Por outro lado, o BE não viu entrar para as suas contas cerca de 100 mil votos e a CDU 100.916 votos. No somatório destas quatro forças políticas foram perdidos cerca de 409 mil votos.

Já quanto aos restantes partidos políticos, os votos desperdiçados foram 353.060. A razão para que esta situação aconteça é o método de Hondt, que se aplica mediante a divisão sucessiva (por 1,2,3,4,5…) do número total de votos obtidos, por cada candidatura, sendo que os maiores quocientes que resultarem das divisões operadas resultam em mandatos. O processo de divisão prossegue até se esgotarem todos os mandatos disponíveis no círculo. Em caso de empate, o mandato vai para o partido com menos votos.

É por esta razão que no decorrer das operações de colocação de mandatos existem votos excedentários. Por exemplo, no distrito de Portalegre votaram 59.004 eleitores e foram eleitos dois deputados, um para o PS e outro para o PSD. O PS obteve 25.037 votos e o PSD/CDS-PP 16.303. Após o cálculo do método de Hondt conclui-se que o PS teve um excedente de 8.734 votos e o PSD/CDS-PP 3.785. Contabilizando os votos de todas as forças políticas neste círculo, 28.159 votos não tiveram representação em mandatos.

Outra particularidade do Método é o facto de os deputados serem eleitos com diferentes quantidades de votos, dependendo do círculo eleitoral em que estão inscritos.

Por exemplo, o primeiro deputado eleito pelo círculo de Lisboa, o primeiro-ministro em exercício, Pedro Passos Coelho, precisou de 399.520 votos e o secretário-geral do PS, António Costa, foi eleito, em segundo lugar por Lisboa, com 386.354 votos. O deputado que foi eleito com menos votos foi Carlos Gonçalves (PSD/CDS-PP), pelo círculo fora da Europa, com 3.561 votos.

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