A cada ano que termina formulam-se, por hábito, desejos para o ano que entra, como se fosse possível separá-los. Mas, não sendo possível dissociá-los, há algo que os diferencia fortemente, o que findou está na memória, o que inicia ainda está nas nossas mãos.
Essa memória tem as estatísticas que indicam que a região das Beiras e Serra da Estrela perdeu desde 1960 cerca de 39% da sua população residente. De entre muitas formas de analisar esta pressão na densidade populacional poder-se-ia ligar com a pirâmide de Maslow, ou hierarquia de necessidades, onde as duas maiores componentes são as necessidades relacionadas com a Fisiologia e a Segurança. Comida, água, respiração, e segurança do corpo, do emprego, de recursos, da saúde, da educação, e da família, são, resumidamente, as necessidades comumente identificadas que um indivíduo terá que ver satisfeitas para que a motivação de partir para outros locais seja minimizada.
E como a estabilidade de toda uma região depende da consistência e estabilidade da sua população, eu desejaria duas coisas.
A primeira tem a ver com fatores exógenos, e desejo que o mundo atravesse uma fase de crescimento generalizado e estabilidade financeira, o que acabaria por se repercutir positivamente na economia portuguesa, e provavelmente, em consequência, poderíamos ansiar por maiores investimentos e financiamentos para a região.
A segunda tem a ver com fatores endógenos, que vão desde a esperança de que a propalada coesão territorial saia do papel, até, a nível mais local, esperar que se continue apostar no fator educação, quer para colmatar uma necessidade básica, quer para, tal como faz o IPG, ser um dos motores de desenvolvimento da região. Ainda o desejo que as IPSS continuem a suportar a enorme pressão social e financeira, dando resposta às necessidades sociais crescentes. Desejo que o setor da saúde continue a melhorar a resposta a um maior leque de especialidades. Desejo que o tecido empresarial instalado resista a estes tempos, encontrando fontes de financiamento suficientes e viáveis. Desejo que apareçam cada vez mais empreendedores que, acreditando num projeto, o confiem à região. Desejo que aqueles que têm responsabilidades políticas consigam intensificar a confiança, que nos dá a esperança nesta região.
Nalgum destes fatores poderemos participar. E, participar ou não, bom, isso está nas nossas mãos.
Paulo Fragoso
* Administrador do Instituto Politécnico da Guarda