No léxico político local têm surgido novas frases e “mamar a cabra” tem sido uma das que quotidianamente vai sendo ouvida repetidamente.
Esta frase retirada da verve popular é ilustrativa de determinadas situações. A filiação de um elemento num partido, e a consequente atribuição de um lugar de nomeação ou uma facilitação de entrada na administração pública ou autárquica, passou a obrigar o individuo a uma devoção quase canina à estrutura fulanizada que lhe permitiu “ficar bem de vida”. Acrescentar a isso a política do pequeno favor, da gestãozinha da carreira interna e outras manigâncias já tão repetidas nos anos que levamos de democracia, limitando-nos a perpetuar os hábitos da “velha senhora”, fazendo desacreditar o sistema que temos.
A título de exemplo, no tempo do corporativismo cabia ao ministro da Educação a tarefa de nomear os contínuos em todas as escolas do país, hoje os auxiliares de ação educativa, algo que permitia toda um corrupio de gentes e bens perecíveis aos governadores civis, regedores, legionários de serviço, condes e baronetes locais, para encaixar o seu filho num lugar do “Estado” que embora mal pago era para toda a vida!
Voltando ao termo muito em voga de “mamar a cabra”, faz-me lembrar um pouco do que é a mexicanização da vida pública portuguesa com a nuance que aqui o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que dominou politicamente o México ininterruptamente de 1929 a 2000, é representado pelo PSD e PS, que distribuem o Estado à sua maneira.
Pelos vistos “A Cabra” é uma entidade que surge da distribuição subjetiva dos lugares e atribuição de benesses à conta do erário e património público, quando está determinada força política no poder.
O drama de tudo isto é que quando acaba a “fidelização” obrigatória, os acólitos de determinado grupo de status ficam indignados e lançam-se numa campanha, às vezes a raiar o insulto, com a frase batida “enquanto mamou a cabra”…
Henry Truman, um presidente dos EUA, por quem não nutro particular simpatia e que empobreceu no seu curto período de presidência, tinha uma frase excelente sobre a política americana: «Se quer um amigo em Washington compre um cão». É o normal nas fidelidades políticas por lá e um pouco por todo o lado. Convém lembrar que Truman recusou-se a ter empregada paga pelo Estado na Casa Branca, pagando ele próprio os vencimentos dos seus colaboradores de lides domésticas, assim como a luz e água da sua área residencial, já que dizia que «recebia ordenado suficiente para essas despesas, que eram as mesmas que teria em casa se não fosse presidente dos EUA».
Como se vê neste pequeno texto não há “Cabra” sem senão, por isso cá vamos aguardando serenamente os alinhamentos, as promessas, as manigâncias, as alianças espúrias e os trânsfugas das listas a sufrágio numas eleições autárquicas que julgo que em pouco irão alterar o mapa político de um país de muitos concelhos, muitas freguesias, muitos apeadeiros de caminho de ferro e pouca descentralização!! E já agora, algumas cabras!
Mamar a cabra
«O drama de tudo isto é que quando acaba a “fidelização” obrigatória, os acólitos de determinado grupo de status ficam indignados e lançam-se numa campanha, às vezes a raiar o insulto, com a frase batida “enquanto mamou a cabra”…»