Para os que não têm acompanhado com atenção as desventuras descritas nas últimas crónicas do “Observatório de Ornitorrincos” – o que na prática é equivalente a escrever “caros leitores” – talvez seja relevante informar que me encontro na capital da Lituânia há uns bons três meses.
Deste trimestre há um dado a salientar. Estamos na primeira semana de Maio, e a neve continua a cair. Segundo a informação meteorológica, estão 0 graus, com uma sensação térmica de -7. Ou, em bom português, um frio do camandro. A próxima pessoa que me disser que a Covilhã é a terra do frio leva um sopapo nas trombas.
Entretanto, vou fazendo progressos no idioma local. Já consigo dizer a frase mais útil em qualquer língua, que é “desculpe-me, mas não sei falar lituano”. Não sei ainda muito mais do que pedir um cappuccino, para de imediato ficar emperrado quando me perguntam de que tamanho quero o copo. E mesmo de algumas palavras que fui aprendendo, como não atino com as declinações, uso sempre a forma errada das terminações. É provável que mais rapidamente perceba o que António Costa pensa de Pedro Nuno Santos do que entenda em que situações usar o dativo, o genitivo ou o instrumental. Seja bem-aventurado quem inventou as preposições.
Descobri que, tal como em Portugal, os lituanos decidiram contar os dias da semana da forma mais prosaica. Em vez de dar nomes das mitologias clássicas a cada dia, chamam os dias da semana pelos números ordinais, tal como a nossa segunda-feira. Como o fim-de-semana não tem nomes especiais, como os nossos sábados e domingos, a semana lituana vai do primeirodia (pirmadienis) ao sétimodia (sekmadienis). Particularidade? É que a semana começa à segunda-feira. Por isso, a segunda-feira portuguesa é o primeiro-dia lituano.
A consequência disto é que na Lituânia, em fuso horário, são mais duas horas do que em Portugal, mas em fuso semanal é um dia a menos. Portanto, se tenho uma reunião online com portugueses às 10 horas de segunda, já sei que aqui é o meio-dia do primeiro. Isto eu entendo. O que não consigo mesmo entender são as trapalhadas do ministro Cabrita.
Hoje é o primeiro-dia do resto da tua semana
«É provável que mais rapidamente perceba o que António Costa pensa de Pedro Nuno Santos do que entenda em que situações usar o dativo, o genitivo ou o instrumental»