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Seia «voou» mais alto

Festival Aéreo “Pilots Air Show” coloriu os céus da cidade durante dois dias

«Quem voa pela primeira vez?», pergunta o piloto a três jovens que se inscreveram para um baptismo de voo. Entre sorrisos e brincadeiras para descontrair, apertam-se os cintos e liga-se o motor. «Está tudo apostos! Vamos descolar e dar uma volta pela cidade», tranquiliza o piloto, enquanto tenta aclamar as estreantes. Belinha Marques, 35 anos, também voou pela primeira vez durante o “Pilots Air Show”, em Seia, e já com os pés em terra só conseguia exclamar: «Foi altamente!». Contudo, confessa ter sentido no início um «nervoso miudinho», mas depois «a adrenalina é tanta que acaba por passar tudo», garante. Foi quase sempre assim no primeiro festival aéreo de Seia, realizado no último fim-de-semana no aeródromo municipal.

Já Marta Gomes, de 17 anos, não evitou uma confidência: «Ainda venho a tremer», disse à amiga Daniela Osório. Enquanto recuperavam do voo, lá iam dizendo em coro: «Adorei!» ou foi «muito giro!». Esta última adianta que é «uma sensação inesquecível estar lá em cima», enquanto a primeira não consegue encontrar palavras para descrever o que sentiu. «É indescritível», atira. O evento foi organizado pela Câmara de Seia, em parceria com diversas entidades, nomeadamente a Força Aérea Portuguesa (FAP). O aeródromo municipal acolheu cerca de 50 aeronaves, civis e militares, que realizaram diversas demonstrações. No sábado os céus de Seia foram rasgados pelas acrobacias dos RV-6, Pitts ou F16 da FAP, que deliciaram os milhares de visitantes. «Estavam inscritos 41 aviões, mas acabaram por vir mais», revela, surpreendido, Rui Alves, director do aeródromo e responsável pelo festival. A iniciativa pretendeu promover o aeródromo, pois «tem estado um pouco esquecido e abandonado», lamenta aquele responsável. «É uma pena que as suas potencialidades não sejam aproveitadas para todo o género de actividades aeronáuticas», acrescenta Rui Alves, lembrando que o aeródromo só tem sido utilizado para a campanha de combate a incêndios. «O objectivo é chamar a atenção dos responsáveis, desde a entidade aeronáutica nacional aos particulares, para fazer obras de reconversão, como as acessibilidades», refere, mostrando-se surpreendido com a autêntica «invasão» de gente e pilotos. «Foi mais do que um êxito», congratula-se.

O festival aéreo estava aberto a todas as aeronaves e pessoas, desde curiosos a pilotos, e acolheu de tudo um pouco. De um simples aeromodelista a um F16 da Força Aérea, passando por um helicóptero, simuladores, planadores e até um paraquedista, entre outros. Contudo, devido às condições meteorológicas, tiveram que ser canceladas algumas actividades previstas, como o balonismo, tendo havido igualmente alguns contratempos na largada de planadores, parapente e asa delta. « Foram obstáculos difíceis de contornar», lastima o director do aeródromo. Mas tudo isto são pormenores para limar no próximo ano, uma vez que o evento é para continuar e «ser colocado na calendarização anual», adianta. E até já há ideias para a próxima edição, como a participação de aviação estrangeira ou a patrulha acrobática da Força Aérea, entre outras novidades. «Não são todas as cidades que se dão ao luxo de ter uma infraestrutura desta dimensão», constata Rui Alves, referindo que a construção dos edifícios de apoio já foi adjudicada.

Relíquias que voam e dão “show”

«Os aviões só são velhos no ano de fabrico», explica Georgino Silva, piloto experiente e director da Escola de Aviação da TAS (Trabalhos Aéreos de Santarém). «Não é como os carros que com os anos ficam mais velhos», acrescenta. Por isso, costuma-se dizer que o avião tem muitos anos, «mas nunca se chama velho». Do Museu Aero Fénix, que preserva o património histórico aeronáutico português, vieram duas relíquias, «um já é “avô” e o outro “trisavô”», ironiza o piloto, apontando para o Piper J3 Cub e o Chipmunk, respectivamente. «O primeiro costuma ser mais utilizado para instrução de pilotos agrícolas», explica. Mas nos céus de Seia ambos fizeram as delícias dos visitantes com manobras acrobáticas e passagens baixas junto à pista. Porém, esta não é uma modalidade para todos os bolsos, só um “brevet” de pilotagem pode custar cerca de 7 mil euros.

Patrícia Correia

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