O Centro Cultural da Guarda completou, esta terça-feira, 58 anos. No atual contexto de emergência sanitária os atos comemorativos não podem ter a desejada expressão festiva, mas as palavras podem e devem assumir uma justa homenagem e evidenciar o orgulho que a cidade bem pode manifestar perante a existência e o historial desta instituição.
Evocando o passado, e para fazermos a ponte com o presente, recordemos – em breves notas – que na primeira metade do século XX o panorama cultural da Guarda passou por distintas fases, nas quais se evidenciaram o teatro e a música. Nesta última área sobressaíram os Orfeões Egitaniense e o Egitânia, bem como a Banda do Regimento de Infantaria 12 que animava as tardes de domingo na Praça Velha (Praça Luís de Camões) e, depois, no jardim José de Lemos, conhecido por Campo.
Em 1956 nasceu na Guarda uma delegação do Movimento Pró-Arte (organização lisboeta dedicada, essencialmente, à música) que despertou muito interesse nos meios intelectuais, propondo-se oferecer música de qualidade. O Montepio Egitaniense acolheu esta delegação, tendo sido criado um curso de música, destinado a todos os interessados.
Nessa altura, começou a germinar a ideia de uma nova estrutura vocacionada para a cultura. Como foi realçado, “a criação do Centro Cultural da Guarda foi um sonho lindo, tornado realidade por um grupo de guardenses apaixonados pela música, presididos e orientados pelo Dr. Mendes Fernandes e galvanizados pelo entusiasmo e persistência do Dr. Virgílio de Carvalho”.
Foi este grupo que, sensibilizando a direção do Montepio Egitaniense, passou a dispor de um salão onde promoveu audições musicais, abertas ao público, empenhando-se, igualmente, no desenvolvimento de uma ação formativa. A atividade da delegação da Pró-Arte não teve a continuidade desejada e surgiram alguns interregnos. Após um período de estagnação, em termos de atividade, os dinamizadores do referido núcleo cultural concluíram pela necessidade de uma estrutura que funcionasse como plataforma impulsionadora de projetos e incrementasse a formação musical. O Dr. Virgílio de Carvalho presidiu à Comissão Promotora do Centro Cultural.
Os estatutos do Centro Cultural da Guarda (CCG) foram apresentados, para a devida aprovação ministerial, em 17 de novembro de 1962; o despacho de aprovação foi exarado em 29 de janeiro de 1963, pelo Subsecretário de Estado da Educação Nacional.
A partir de 9 de Fevereiro, desse ano, foi iniciado o processo de inscrição de novos sócios, e distribuídos os inerentes formulários no Café Monteneve, Café Mondego, Leitaria Cristal e Pires & Casimiro, onde os interessados de deviam indicar o grupo ou seção em que pretendessem ingressar: grupo coral misto, grupo instrumental (seções de banda, orquestra ligeira e tuna), grupo cénico, grupo cultural e recreativo (seção de biblioteca, discoteca e cinema) e grupo folclórico.
A primeira assembleia geral da coletividade teve lugar a 2 de março de 1963 no salão nobre dos Paços do Concelho da Guarda; compareceram cinquenta e um associados, de um total de cerca de duzentos, já inscritos. “A noite não convidava a sair de casa mas os futuros sócios do Centro Cultural, jovens na maioria, e possuídos de entusiamo não condicionável pelo estado do tempo, cônscios dos deveres a cujo cumprimento se obrigaram no ato da inscrição, lá foram ao Salão Nobre dos Paços do Concelho reunir-se para eleição dos primeiros corpos gerentes, fixação da quota e breve troca de impressões. A reunião decorreu no melhor dos ambientes, dedicado inteiramente ao objetivo que lhe havia sido determinado”. Assim noticiou o semanário A Guarda.
No decorrer dessa assembleia foram eleitos os primeiros corpos gerentes, a partir de uma lista apresentada pela Comissão Promotora, da qual faziam parte o Pd. António Mendes Fernandes (que presidiu à reunião), Virgílio José Melo de Carvalho, Pd. Vitor Xavier Feytor Pinto, Manuel Valentim Dias Júnior, António Coelho Evangelista, José de Sousa Nunes da Fonseca, António Ferreira da Silva Milheiro, José de Campos de Carvalho e Alfeu Gonçalves Marques. O primeiro presidente da Assembleia Geral foi o Dr. José Afonso Sanches de Carvalho.
Aprovada a referida eleição, os corpos sociais do Centro Cultural da Guarda foram empossados em 24 de maio de 1963, no salão nobre do edifício dos Paços do Concelho.
A história do Centro Cultural é o somatório da ação e empenho de muitas personalidades e outrossim dos contributos dos seus associados, em especial daqueles que intervieram, ativa e diretamente, nas atividades das várias secções.
A identidade do Centro Cultural tem sido, ao longo destes 58 anos, balizada pelo lema que o CCG adotou desde o seu nascimento: “Pela Guarda, pela Arte, pela Cultura”. O seu percurso assenta numa convergência de esforços, mas muito deve a personalidades que, com a sua cultura, saber, entusiamo, capacidade de realização souberam manter e revitalizar um projeto de eminente alcance cultural e social; pessoas que tiveram uma consciência clara das dificuldades, mas nunca desistiram, nem perderam a esperança. Determinação que não falta também aos atuais dirigentes.
Parabéns ao Centro Cultural da Guarda!