A iniciativa LAR (Love And Respect) foi fundada por Bárbara Moreira, natural do Porto, para ajudar refugiados e migrantes disponibilizando habitação a quem vier para áreas rurais e assim contribuir para a sua dinamização. As primeiras famílias chegaram no final do mês passado.
A associação nasceu em 2018 e começou o seu projeto-piloto de «dinamizar o interior de Portugal e ajudar famílias de migrantes a tornarem-se autónomas, estabelecendo parceiros que ajudem à sua integração», explica a fundadora. Desde então estabeleceram-se muitas parcerias, muito trabalho foi feito, nomeadamente a reabilitação de casas na Ima, uma pequena aldeia do concelho da Guarda escolhida por «estar próxima [15 minutos] de uma cidade com estrutura que permite a integração de qualquer pessoa», acrescenta Bárbara Moreira. Vanessa Rei é a técnica social do projeto. «É quem está no terreno todos os dias em conjunto com a Teresa», adianta a fundadora. O processo de seleção das famílias não foi fácil e só depois de algumas tentativas conseguiram apoiar duas famílias – uma vinda de Luanda e outra da Nigéria. No total são dois casais e 5 crianças com idades compreendidas entre os 7 meses e os 13 anos.
Mas até se chegar à escolha final houve todo um processo de seleção que teve de ser feito. «Havia um perfil muito específico, não é qualquer pessoa que pode e quer mudar-se para uma aldeia do interior de Portugal», refere Vanessa Rei, segundo a qual o perfil dos candidatos assentava no «gosto pelo meio rural, por trabalhar na agricultura e que gostassem de manter um projeto de vida de longa duração em Portugal», explica a técnica social. Inicialmente, a JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados) – parceiro da LAR – não conseguiu captar potenciais interessados no projeto que foi apresentado a famílias «em fim de programas de acolhimento do Governo», mas depois surgiu a “Lisbon Project”, uma associação ligada aos refugiados, que estabeleceu contacto com outras famílias que foram entrevistadas.
«Entrevistámos várias, fazendo sempre questão de falar com os beneficiários individualmente para termos a certeza de que a vontade de um não se sobrepunha à do outro», sublinha Vanessa Rei, quem realizou pessoalmente as entrevistas. Já Ghalia, refugiada síria que está em Portugal há vários anos, trabalha com a JRS e é uma das fundadoras do projeto, teve um papel preponderante na seleção dos agregados que poderiam vir para a Ima. «Ela ajudou-me a decifrar coisas que foram determinantes para perceber se essa família teria mais sucesso na integração do que outra», afirma a técnica. Selecionadas as famílias, elas vieram conhecer a aldeia e «verem com os próprios olhos se estão aptos para diminuir os riscos de inadaptação», acrescenta Bárbara Moreira. «Nesse processo queríamos garantir que a última palavra era das pessoas» e que ninguém vinha para a Ima de «paraquedas», complementa a técnica social.
Atualmente, as crianças já se encontram todas em contexto escolar e até agora apenas uma delas teve dificuldade de integração devido ao fator da língua. «Com o passar do tempo as próprias crianças tentam ajudar à sua integração e vê-las dizerem uma palavrinha em inglês e a baterem palmas só porque ele fez um desenho bonito é super gratificante», garante Vanessa Rei, que tem acompanhado de perto a integração do menor. Os adultos ainda não começaram «a cem por cento» na agricultura, mas já vão trabalhando para as próprias casas e «começaram a frequentar aulas de português». Também o contacto com a população local vai-se fazendo «aos poucos» devido à situação pandémica: «Daqui para a frente, assim que nos for permitido, é começarmos a criar e a desenvolver ainda mais este espírito de comunidade e garantir que estas famílias rejuvenescem mesmo a comunidade», espera Vanessa Rei.