A Câmara de Almeida vai pedir a declaração de estado de calamidade para o concelho após uma emigrante de 78 anos, que viajou recentemente de França para participar no batizado do neto, ter sido testada positivo ao Covid-19. A mulher, natural da Parada, naquele concelho raiano, contactou mais de uma centena de pessoas da localidade, cuja população está agora em confinamento nas suas residências para ser rastreada ao coronavírus.
O alerta foi lançado no último fim de semana, oito dias depois do batizado, cujo almoço teve lugar na Guarda, e levou a autoridade sanitária e o município a decretar o isolamento dos residentes da aldeia, bem como de outros munícipes que estiveram na cerimónia religiosa. «Já estão em quarentena 90 pessoas, sobretudo residentes da Parada e alguns funcionários do município», adianta o presidente da Câmara, adiantando que «uma percentagem muito elevada» da população está «a cumprir as regras» determinadas pela Direção-Geral da Saúde para situações similares. António Machado acrescenta que todos os procedimentos foram adotados e «as pessoas de risco foram identificadas e contactadas para efetuarem o normal procedimento despiste de contágio.
Aguardamos os resultados para tomar novas medidas caso seja necessário». Segundo apurou O INTERIOR, estão referenciadas cerca de 150 pessoas que terão contactado com a doente e que começaram a ser rastreadas esta segunda-feira, na Guarda, pelos profissionais da Unidade Local de Saúde num espaço disponibilizado para o efeito no quartel dos bombeiros locais.
O caso veio por a nu as consequências da ausência de controlos sanitários na principal fronteira terrestre portuguesa. Em Vilar Formoso apenas as autoridades policiais estão a fiscalizar as entradas de pessoas no nosso país, não havendo, por enquanto, entidades de saúde presentes. «A fronteira tem que ser devidamente controlada para obrigar quem entra em Portugal a ficar em quarentena, o que não está a acontecer», critica António Machado, que justifica o pedido de declaração de estado de calamidade para o seu concelho de forma a permitir que as autoridades «possam atuar de forma diferente e obrigar as pessoas que regressem a Portugal a cumprir a quarentena. Esse tem que ser um princípio obrigatório e tem que haver uma posição forte por parte das autoridades porque com esta permissividade se está a por em causa a saúde de todos», considera o presidente da Câmara de Almeida.
Num comunicado divulgado na segunda-feira, a autarquia assume a preocupação com «a indefinição de políticas no controle de entrada» de emigrantes na fronteira de Vilar Formoso. O documento assinado por António Machado alerta para a aproximação das férias da Páscoa, em que a população do concelho poderá aumentar «sem o devido registo e controle por parte das forças policiais, reduzindo assim a capacidade e eficácia no combate a possíveis casos de contágio nesse período». O município pede, por isso, às entidades competentes para que as forças de segurança na fronteira passem «desde já a exigir que os cidadãos provenientes do estrangeiro se mantenham obrigatoriamente em isolamento profilático no seu domicílio durante o período recomendado de 14 dias». A doente natural da Parada está internada no Hospital Sousa Martins, na Guarda, juntamente com outros nove infetados, oriundos de diferentes zonas do país.