Os impactos provocados pelo coronavírus estão a deixar rasto por todo o mundo. A preocupação em conter a propagação do Covid-19 levou os cidadãos a limitar o contacto social e a evitar sair de casa quando não seja necessário. As medidas restritivas multiplicam-se a cada dia.
Hotelaria e restauração são os primeiros setores de atividade a dar sinais do abrandamento da economia. Além dos planos de contingência e do reforço das ações de limpeza, os estabelecimentos comerciais e de restauração e bebidas foram obrigados a limitar a sua capacidade em um terço, incluindo nas esplanadas. É obrigatório fechar até às 21 horas, pelo menos até 9 de abril, podendo este prazo ser prolongado.
A Pensão Aliança, na Guarda, teve quebras de «100 por cento das reservas» durante o último fim de semana e chegou mesmo a fechar portas. «Encerrámos sábado e domingo porque todas as nossas reservas foram canceladas. Muitas estavam associadas a eventos municipais que foram cancelados», refere Marco Rodrigues, assistente da direção do estabelecimento que possui também um restaurante.
A Aliança acionou entretanto o plano de contingência e reduziu o número de trabalhadores. «Reduzimos a capacidade das áreas de restauração e bar, reduzimos o número de quartos disponíveis para aluguer e reforçámos a limpeza e desinfeção», acrescenta o responsável, que se diz «preocupado» com a subsistência do negócio face à incerteza da crise provocada pelo novo coronavírus. «A nossa primeira preocupação é que no final dessa semana temos os impostos e Segurança Social para liquidar. Depois temos os salários e mais tarde as despesas mensais de água, luz, gás», lembra Marco Rodrigues.
No Hotel Santos, da Guarda, o cenário é idêntico. «Não há ninguém. Tínhamos os quartos cheiinhos, tudo esgotado no passado fim de semana, mas durante a semana as reservas foram quase todas canceladas», afirma Clara Teixeira, proprietária do alojamento de 25 quartos. O estabelecimento mantém-se aberto, embora haja constrangimentos em relação aos trabalhadores. «As duas funcionárias que tinham filhos menores ficaram em casa. Quanto aos restantes vou tentar conversar e ver se conseguimos antecipar o período de férias», adianta a responsável, que admite ter «esperança» que a situação não seja duradoura.
Tal como os alojamentos, também os restaurantes estão entre as grandes “vítimas” do abrandamento da economia provocado pelas restrições ao contacto social. Muitos fecharam e, por precaução, outros tentam manter-se embora com menos funcionários. Manuel Monteiro, proprietário do Don Garfo, na Guarda, fala numa «quebra muito grande, quase total» durante o fim de semana, um período normalmente de «maior afluência» de clientes. Apesar de ter tomado medidas relativamente à limpeza do espaço e ter reduzido a capacidade das salas de refeição, o responsável está cético. «Estamos a ponderar encerrar mesmo as portas», admite o empresário, que se mostra preocupado com os encargos do negócio num cenário de paragem prolongada da vida social. «As despesas não param de chegar. As cartas não têm quarentena. Há produtos no frigorífico…», elenca Manuel Monteiro, que já reduziu o horário de trabalho dos seus funcionários. «Despedimentos não [haverá], mas teremos de os mandar para casa. Vamos ver…», acrescenta o responsável.
O impacto na economia devido à pandemia do coronavírus é neste momento incerto. A AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e similares já tinha alertado o Governo para a necessidade de antecipar medidas de apoio ao sector, no final de fevereiro, antes de existir qualquer confirmação de casos de Covid-19 em Portugal. Este domingo, em declarações à SIC Notícias, Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP, alertou que as medidas anunciadas «dificilmente serão suficientes para as necessidades que estamos a sentir» no sector e anunciou uma reunião com a tutela.
Na lista de espaços encerrados incluem-se as Casas do Côro, em Marialva (fechadas até ao fim do mês) e o restaurante Aquariu’s, na Guarda, que reabre dia 8 de abril.
Negócios caiem a pique em toda a região
Também na Covilhã o cenário não é animador. João Paulo Fazenda, proprietário do Bed & Breakfast e do restaurante Paço 100 Pressa decidiu tomar medidas drásticas e «encerrar completamente, quer na parte do alojamento quer na parte do restaurante» desde a passada sexta-feira. Havia reservas para domingo, mas foi o próprio proprietário quem decidiu informar os clientes e cancelar os agendamentos. «Assim que foram conhecidas as medidas anunciadas pelo Governo, decidimos encerrar imediatamente no dia seguinte», como forma de precaução, justifica. Em relação aos funcionários, parte deles está em casa com os filhos – e por isso a receber apoios estatais –, os restantes aceitaram «ir de férias agora».
A reabertura está definida para dia 27 deste mês, mas não há espaço para garantias. «A ser verdade que o cenário de epidemia se vai intensificar no final de abril, não vamos abrir as portas até as coisas estarem esclarecidas», garante o empresário, que critica os apoios «desajustados» que o Governo anunciou. «São claramente insuficientes. O que eu acredito é que se as coisas assim continuarem, e se de facto continuarmos todos parados, há muita empresa que vai fechar», receia João Paulo Fazenda.
Bruno Fonseca, responsável do restaurante “As Tílias”, no Fundão, confirma que nos últimos dias o negócio tem sofrido «muitas quebras», que «rondam os 85 por cento». Apesar disso não planeia fechar portas, pelo menos até o Governo o ordenar. «Mais vale ter algum a entrar do que não ter nada», declara. Entretanto, foram reforçadas as medidas de contingência no estabelecimento, como o reforço da limpeza e desinfeção, e a redução da lotação do espaço.
Sofia Craveiro