P – 25 anos de Feira das Tradições e 250 anos da cidade e da diocese, este ano há muito para comemorar na Feira das Tradições. Como é que o presidente da Câmara vive este momento?
R – É naturalmente um momento especial para todos os pinhelenses. Comemorar 250 anos não é todos os dias e, portanto, Pinhel vai comemorá-los de uma forma intensa e com momentos mais altos em termos de atividades, nomeadamente o lançamento de um livro sobre os 250 anos da cidade, bem como de um vinho comemorativo da efeméride. Haverá momentos que marcam a diferença, mas a dinâmica que Pinhel tem tido do ponto de vista cultural fará com que não se note muito, a não ser nestes pequenos momentos. Pinhel orgulha-se da sua história e é isso que queremos continuar a transmitir. O trabalho que a Câmara Municipal tem vindo a fazer é tentar transmitir o orgulho pelo seu concelho, a sua cidade, a cada pinhelense – os que estão cá e quem vive fora –, e é isso que vamos fazer este ano comemorativo, é dar-lhes ainda mais motivos de orgulho. No fundo, será recordar a história de Pinhel, o porquê de sermos cidade, mas também dar a conhecer o património da Igreja, que é muitas vezes desconhecido, por isso estamos a preparar um programa que vai marcar a diferença. Já a Feira das Tradições celebra 25 anos, são muitos anos a dar a conhecer Pinhel e o seu concelho num fim de semana, o que é uma tarefa algo fabulosa e que temos conseguido fazer com a ajuda e o empenho dos presidentes de junta e das associações locais. Quem vem à Feira das Tradições fica a saber o que é o bem receber de Pinhel, conhece os nossos produtos, a nossa gastronomia e o que é a nossa economia, a dinâmica das nossas empresas. A Feira das Tradições é a oportunidade para quem quer conhecer o concelho de Pinhel em dois dias.
P – Nesta 25ª edição vai haver algum momento marcante por ser uma edição histórica?
R – O momento alto dos 250 anos de elevação a cidade acontecerá em agosto, no Dia da Cidade, já os 25 anos da Feira das Tradições ficarão patentes na decoração do espaço porque queremos que as pessoas, mais do que o momento, percebam a dimensão, a história e a evolução do certame ao longo destes anos. Vamos ter fotografias de todas as feiras para ilustrar o que foi e o que é agora, mas também mostrar o que é marcante nos 250 anos da cidade. Quem vier à Feira das Tradições este ano vai perceber a história de Pinhel e acompanhar a evolução desta atividade fundamental para a promoção do nosso território e das suas gentes. Não há nada melhor do que os olhos verem.
P – O que vai mudar daqui para a frente para fazer crescer o maior certame de Inverno na região?
R – A Feira das Tradições cresceu muito ao longo destes anos e para uma dimensão já considerável. Estamos a falar de cerca de 55 mil visitantes durante os três dias do certame, o que é algo de extraordinário, mas é também algo que nos deixa apreensivos por causa da segurança das pessoas. A feira vai precisar de ser remodelada e temos andado a pensar no formato e achámos que este seria o ano de introduzir mudanças, mas acabámos por concluir que, se calhar, na edição dos 25 anos era melhor manter aquilo que tem feito o sucesso da feira até aqui. Eventualmente, as mudanças poderão ser introduzidas na 26ª edição, mas é uma tarefa que queremos partilhar com as nossas freguesias porque são os atores principais deste evento. Mas quando digo mudar não quer dizer que seja tornar a feira mais pequena ou maior, o que pretendemos é que seja mais apetecível e continue a surpreender quem nos visita nessa ocasião e também os próprios pinhelenses. É um modelo que vamos ter que estudar.
P – Nesta edição há novidades em relação ao ano passado? Mantém-se o número de 200 expositores, a área aumenta ou não?
R – A área é praticamente a mesma, são 12 mil metros quadrados de área coberta, até porque não quisemos investir mais dinheiro e, como sabe, investimos muito neste acontecimento. O orçamento desta edição ronda os 300 mil euros – é exatamente igual aos anos anteriores. O formato também não muda, mas haverá algumas alterações em termos da apresentação dos expositores, da decoração – por exemplo, a área dedicada às freguesias será igual à usada na feira dos vinhos da Beira Interior. Modificámos também o pavilhão onde temos os recursos endógenos e os nossos produtores, que este ano vão partilhar o espaço com outros produtores, independentemente de serem ou não do concelho. Quisemos criar uma zona de comes e bebes de produtos regionais, dando destaque aos produtores de Pinhel, naturalmente. Outra mudança é um pavilhão exclusivo para expositores institucionais, onde destaco a presença dos nossos amigos de Espanha. A Feira das Tradições continua a atrair a Diputación de Salamanca, as localidades de Guijuelo, Béjar, Hinojosa de Duero e de Santa Marta de Tormes. É um número significativo de participantes espanhóis que nos ajudam também a promover Pinhel do outro lado da fronteira. Daí o aumento do turismo que se tem verificado em Pinhel nos últimos anos, uma vez que registámos um crescimento de cerca de 30 por cento de turistas, o que também é fruto deste tipo de iniciativas.
P – Em 2019 disse a O INTERIOR que queria ter cada vez mais a região na Feira as Tradições? Já se nota este ano?
R – Infelizmente não. Nós tentamos que participem, mas neste fim de semana há muitos eventos na região, pelo que percebo a dificuldade de outros municípios estarem representados na nossa feira. Honestamente, também não vejo que haja inconveniente de haver várias feiras e certames ao mesmo tempo. Pelo contrário, acho que esses eventos já se complementam e quem está na região no fim de semana do Carnaval pode vir a Pinhel e visitar depois uma feira do queijo na Serra da Estrela. Na minha opinião, estas iniciativas nesta época do ano são uma mais-valia.
P – 2020 é um ano histórico para Pinhel, que vai comemorar os 250 anos de elevação a cidade? Como vai ser assinalada a efeméride?
R – Vai ser assinalada com muitas atividades culturais, das quais destaco uma, que vai marcar o ano, que é a construção da Falcoaria de Pinhel. O falcão é o símbolo maior de Pinhel e essa falcoaria será de cariz nacional e terá características internacionais, com o potencial enorme de poder atrair muita gente à cidade para ver os espetáculos de aves, mas também permitir que os jovens possam ficar cá durante uma semana a estagiar com o falcoeiro para ficarem a saber como se trata um falcão. Isto cria uma mais-valia importante para Pinhel. O projeto será complementado com a construção de miradouros sobre o rio Côa porque hoje o município está apostado em investir na valorização do Côa. O miradouro da Faia será o primeiro de quatro que vamos construir ao longo do rio até Cidadelhe como complemento à Falcoaria.
P – Houve uma altura em reivindicou melhores acessibilidades para Cidadelhe e até mesmo a ligação ao IP2, via Mêda. Mantém essa necessidade ou é um assunto que não vale a pena continuar a insistir?
R – Vale sempre a pena porque a ligação de Pinhel à Mêda é fundamental e vamos continuar a reivindicá-la. A estrada está em condições, mas não as ligações e as pontes, pelo que temos vindo a conversar com a Câmara da Mêda para podermos resolver esse problema de uma vez por todas. Isto também inviabiliza a abertura, em Cidadelhe, da porta Sul do Parque Arqueológico do Vale do Côa. De resto, temos tido uma excelente relação com o atual presidente da Fundação Côa Parque, Bruno Navarro, que tem tido um trabalho fantástico. Até que enfim que temos um presidente que está no terreno, conhece o território e se interessa por ele. Tivemos uma candidatura aprovada para a construção dos Passadiços do Côa em Cidadelhe, para permitir que as pessoas visitassem as gravuras pintadas naquela zona do rio, mas que não avançou porque teve parecer negativo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Por um lado, concordo com esse parecer negativo, porque tem a ver com a preservação da fauna e da flora da zona, mas acho que podíamos ter conseguido acertar alguns pormenores e viabilizar este projeto. Como não queríamos abandonar a ideia da porta Sul do PAVC introduzimos o projeto da Falcoaria e dos miradouros, que será outra forma das pessoas irem até Cidadelhe.
P – Pinhel é também a “Cidade do Vinho 2020”. Como conta capitalizar este estatuto?
R – Estão programadas 88 iniciativas de promoção de Pinhel e do seu vinho. Vamos estar em feiras nacionais, como a BTL e a FIT, na Guarda, e promover-nos na rua de diferentes cidades portuguesas, como o Porto (Alfândega) e nas Baixas de Lisboa, Coimbra e Aveiro. Iremos também até Salamanca, Ciudad Rodrigo, Zamora e Badajoz, estaremos novamente em Paris. O objetivo é promover Pinhel e esta região, o que fazemos com muito orgulho, bem como o vinho da Beira Interior, que cada vez tem mais qualidade. Temos a responsabilidade de mostrar os nossos vinhos de uma forma nobre. O que queremos é valorizar o nosso território, quem trabalha neste setor e dessa forma contribuir para que os vinhos da Beira Interior e de Pinhel se possam afirmar a nível nacional.
Setor da aeronáutica «estabilizado» e a crescer
P – E os investimentos do setor da aeronáutica?
R – Está estabilizado. As empresas mantêm-se em atividade, aumentou o número de trabalhadores, é um setor muito estável do ponto de vista financeiro. Para breve está prevista a chegada de um novo investidor – o pavilhão já está concluído –, espero que nos próximos três meses tenhamos mais uma empresa nesta área. A fábrica da SPIM vai ser ampliada e criará mais vinte postos de trabalho, portanto acredito que num curto espaço de tempo poderemos ter em Pinhel mais umas dezenas de postos de trabalho. Contudo, não gosto de fazer alarido porque o importante é que as empresas se instalem em Pinhel, criem os seus postos de trabalho aos poucos e tenham estabilidade na sua atividade. Neste momento o setor da aeronáutica emprega cerca de 25 pessoas e ainda existem duas fábricas de calçado, com cerca de 60 trabalhadores, a laborar nos pavilhões do Centro Logístico. Temos feito uma aposta muito clara em empresas familiares, à semelhança do tecido empresarial que existe no concelho, porque percebemos bem com a Rohde o problema que é ter uma grande empresa e quais as consequências quando fecham.
«Ministra da Coesão Territorial sabe o que o interior precisa»
P – O que acha das medidas anunciadas pelo Governo para atrair pessoas para o interior e apoiar as empresas?
R – É um sinal, mas muito pequenino. Com toda a franqueza, não acho que essa seja a solução para o problema, pode ajudar mas não resolve. Alguém se muda para o interior por 4.800 euros? Ninguém. O grande sinal que o Estado podia dar era direcionar os grandes investimentos para o interior porque temos infraestruturas, acessos e qualidade de vida. Não temos gente? Temos que a atrair com emprego. As pessoas saíram do nosso território porque foram à procura de trabalho. Então façam investimentos no interior, direcionem para cá os próximos grandes investimentos do país, para que as pessoas voltem outra vez. Aí já pode fazer sentido os 4.800 euros, que é uma ajuda para as pessoas poderem instalar-se no território. Enquanto isto não for feito teremos muita dificuldade em mudar as coisas.
P – Na sua opinião, que tipo de investimento público poderia ser descentralizado no interior?
R – Por que é que o Governo não instala o Campus da Justiça no interior do país? Se isso acontecer, o conjunto de pessoas que sair de Lisboa fazia toda a diferença na região onde esse campus ficasse instalado. A dificuldade é as pessoas não quererem vir para o interior. Tem que haver esta coragem de deslocar os serviços porque seguramente que poupamos muito ao Estado. Diria mesmo que com o valor de um ano de renda faríamos um grande Campus de Justiça no interior, o melhor da Europa.
P – Acha que vai haver uma mudança de paradigma em relação ao interior com a criação do Ministério da Coesão Territorial, ou vai ficar tudo na mesma?
R – Não acho que fique tudo na mesma porque a ministra Ana Abrunhosa, que vai estar na inauguração da Feira das Tradições, tem a sensibilidade necessária para poder fazer alguma coisa. O problema é que não sei se tem a força política necessária junto do primeiro-ministro e dos restantes membros do Governo. Agora não há dúvida nenhuma que tem a visão e o conhecimento daquilo que precisa o interior porque foi presidente da CCDRC e trabalhou nestes territórios muitos anos.
Novo pavilhão «em estudo» e autódromo a aguardar financiamento
P – Como está o projeto do novo pavilhão multiusos, que poderá acolher a Feira das Tradições no futuro?
R – Não há projeto, há um estudo feito para o pavilhão da Feira das Tradições e que apresentava um custo elevado sem qualquer financiamento garantido. O que a Câmara vai fazer em 2021 é avaliar se adquire as instalações do Centro Logístico, que estão alugadas ao Grupo Baraças, ou se avança para a possível construção de um pavilhão novo. É uma avaliação que vai ter que ser feita de forma muito transparente para não haver qualquer tipo de equívoco. O contrato de arrendamento com o dono do espaço está a terminar e a Câmara tem que tomar uma decisão no próximo ano.
P – E sobre o autódromo, há alguma novidade?
R – Não. Fui muito questionado e criticado por causa desse projeto, nomeadamente pela oposição, que achou escandaloso o presidente da Câmara pensar num autódromo para Pinhel. Eu continuo a pensar nele, não consigo é ir buscar dinheiro para o concretizar, mas estou a trabalhar para isso. Se houver a oportunidade de a Câmara de Pinhel poder construir este autódromo com apoios comunitários e com parceiros para viabilizar este projeto, naturalmente que avançaremos. Será inteiramente impossível concretizá-lo sem qualquer tipo de financiamento. Já temos um projeto de arquitetura e vamos ver se conseguimos dar o passo seguinte. Já falei com possíveis parceiros e já sondei muita gente, uns acham o projeto interessante, outros nem por isso, mas continuamos a procurar uma solução.
P – Como está o projeto da Casa Grande?
R – Está no programa Revive para a possibilidade de investimento para hotelaria. A avaliação do imóvel está a ser feita pelos nossos técnicos e pelos técnicos da Direção-Geral da Cultura. Aguardemos que haja interessados quando o concurso for lançado, sendo certo que este edifício será sempre património do município. É uma questão da qual não abdicamos e que, ao longo dos anos, foi inviabilizando potenciais investimentos. Trata-se da casa mais importante de Pinhel, que temos que preservar.