Em Inglaterra luta-se por conseguir concretizar o Brexit sem destruir a união do reino e sem falar demasiado do dia seguinte, que se sabe será caótico e piorará, em muito, as vidas de quem achava que a saída da União Europeia seria a solução para todos os males. Por todo o mundo sentem-se os efeitos da administração Trump, a mais errática, corrupta e estúpida da história dos Estados Unidos da América. A guerra comercial com a China vai agitando os mercados financeiros, com subidas e descidas imprevisíveis das cotações de ações e “commodities”, impossibilitando os agentes económicos de tomar decisões a longo prazo. As promessas que Trump fez esfumaram-se uma a uma e nada mais resta senão a xenofobia e as muitas mentiras. No Brasil, a corrupção foi o mote da eleição de Bolsonaro, mas a presidência dele atola-se na sua própria corrupção.
Isto são os políticos, mas há depois as hordas daqueles que recusam vacinar-se (o que explica a explosão dos casos de sarampo, por exemplo), que acreditam nas mais idiotas teorias da conspiração e que são especialmente vulneráveis, porque as recebem acriticamente, a todas as mentiras que são divulgadas para os influenciar no momento do voto.
No cruzamento das vitórias eleitorais do Brexit, de Trump e de Bolsonaro (e outros) com as “fake news” e as crenças nas teorias da conspiração encontramos as mesmas caras. A facilidade com que as pessoas se deixam enganar, ou a indiferença perante as mentiras com que se deixam influenciar, ameaçam cada vez mais a ideia de democracia. Muitos recusam-se já a votar, embora com isso deixem o terreno livre para quem vota pelos piores motivos.
Em Portugal pensávamos estar imunes a alguns desses fenómenos, mas tivemos agora algumas aproximações com notícias falsas propositadamente plantadas por uma força política sobre as supostas férias de António Costa durante os incêndios de Pedrógão e com a chegada ao Parlamento da extrema direita xenófoba e racista.
Não há ainda consenso sobre as causas, mas há cada vez mais a verificação de que a verdade e a verdade científica são valores em queda. Quanto a esta última, dizem alguns que ainda sofremos as consequências das teses de Popper. Quando ele dizia que em ciência é impossível provar uma tese e que apenas se consegue demonstrar a sua falsidade, estava no fundo a dizer-nos que a verdade não existe. Ou que não interessa, dirão os milhões que agem e votam pelos mais frágeis motivos, mas prejudicam as vidas de todos.