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Urbanismo Medieval (Primeira Parte)

Nos Cantos do Património

Temos abordado nesta coluna algumas referências relacionadas com cidades e vilas medievais da Beira Interior. Contudo, pouco se tem abordado sobre a organização interna destes núcleos, sobretudo aqueles que se localizam no interior. Como se encontravam organizadas estas comunidades? Como era distribuído o espaço intra-muralhas e os arrabaldes?

Primeiramente refira-se que as cidades de fundação medieval possuem características comuns, sendo o elemento central a procura de segurança. Neste sentido, estes núcleos vão implantar-se em locais elevados, facilmente defensáveis, com boa visibilidade. Teriam ainda de possuir condições básicas para qualquer assentamento, nomeadamente o acesso a água potável, uma linha de água, onde pudessem efectuar o seu aproveitamento, quer para consumo, para irrigação das hortas, instalação de equipamento de moagem…

A ocupação destes espaços passava pela construção de uma linha defensiva, fazendo a distinção entre a alcáçova (zona alta, com funções defensivas) e a área inferior, de natureza habitacional.

Desde o século XI os monarcas preocuparam-se em outorgar cartas de foral a diversos núcleos de povoamento, na tentativa de criar e desenvolver povoações que pudessem servir de barreira aos ataques leoneses.

Contudo, será que estes núcleos de povoamento seriam criados de raiz ou assentavam em pequenos núcleos já existentes? De facto, alguns dados resultantes de escavações arqueológicas têm permitido confirmar que estes espaços tinham algum tipo de ocupação anterior à atribuição de foral.

Um dos exemplos é o castelo de Belmonte, onde escavações arqueológicas permitiram identificar diversas estruturas, nomeadamente quatro silos e um muro, cuja construção remonta ao período anterior à construção do castelo. Pertenceria o muro a uma habitação, testemunho dum núcleo primitivo, anterior à atribuição do foral, em 1199?

Refira-se que em 1194 é atribuído foral a Centum Cellas, pelo Bispo de Coimbra e apenas cinco anos depois D. Sancho I transfere-o para Belmonte. Compreende-se, desta forma, a tentativa de colocar o território sob domínio régio, bem como o facto de Belmonte possuir as características defensivas correspondentes às que descrevemos supra, inserindo-se num modelo de povoamento dos séculos XII/XIII.

Por: Vítor Pereira

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