O Hotel Turismo da Guarda já não vai ser requalificados pelo grupo MRG. A concessão da reabilitação e exploração do emblemático edifício vai ser transferida para um grupo empresarial do Porto. Segundo apurou O INTERIOR, as partes estão a ultimar o acordo de sub-rogação, que é justificado pelas dificuldades financeiras da MRG Construction SA.
Trata-se de uma das empresas que formou, com a MRG Property SA, o consórcio escolhido pelo Governo para reconstruir a histórica unidade hoteleira no âmbito do Programa Revive e que, no início deste mês se viu forçada a apresentar um Processo Especial de Revitalização (CIRE) no Tribunal de Seia. Em declarações ao “Jornal de Notícias”, o administrador da MRG, Rodolfo Gouveia, justificou o procedimento com as «dificuldades na obtenção de resultados em projetos internacionais», tendo acrescentado que poderão estar em causa «cerca de 10 milhões de euros de créditos bancários e não bancários». O INTERIOR sabe que o Governo estará disponível para autorizar esta sub-rogação, o que deverá acontecer ainda antes das legislativas.
O presidente da Câmara da Guarda confirma que «há outros parceiros envolvidos no processo», mas não adiantou quais. «A tutela decidirá o futuro da concessão», disse Carlos Chaves Monteiro, que na quinta-feira, na cerimónia de assinatura do protocolo para instalação do Arquivo de Registo Automóvel de Lisboa na Guarda, revelou ter reunido essa manhã com o concessionário do Hotel Turismo e com um grupo financeiro sobre o pronto de situação do projeto. «Poderão estar resolvidas algumas das dificuldades do concessionário», afirmou no seu discurso, acrescentando que estarão «lançadas as bases para a recuperação do imóvel avançar no mais curto espaço de tempo».
A O INTERIOR, o autarca guardense reiterou que «as coisas estão bem encaminhadas» e que a tutela está «interessada» em ultrapassar o impasse vivido no desenvolvimento do projeto. «Tenho a convicção plena de que vamos ter uma solução viável e importante para o hotel», admitiu Carlos Chaves Monteiro. O edil adiantou também que está agendada para daqui a quinze dias uma reunião em Coimbra para ser apresentado à secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, «um documento conjunto» da MRG e do grupo empresarial. De passagem pela Guarda na quinta-feira, o ministro Adjunto e da Economia, que tutela área do Turismo, disse aos jornalistas que «os calendários estão a ser cumpridos e vamos continuar a acompanhar a situação para ter a certeza que a obra de recuperação se concretiza como está esperado».
Pedro Siza Vieira sublinhou que o projeto «não é posto em causa» e que o Governo não está preocupado: «Se houver algum problema, também o Governo tem todas as condições e todos os instrumentos para assegurar que a recuperação se concretiza», lembrou.
Quatro anos para reabrir Hotel Turismo
A empreitada e futura gestão do Hotel Turismo da Guarda foi concessionada por 50 anos ao consórcio formado pelas empresas MRG Property SA e MRG Construction SA.
O respetivo contrato foi assinado a 4 de maio de 2018 entre o Turismo de Portugal, dono do imóvel, e o grupo empresarial, estimando-se um investimento total de cerca de sete milhões de euros. O concessionário, que vai pagar uma renda anual de 63 mil euros, tem quatro anos para transformar o imóvel numa unidade de quatro estrelas com 50 quartos, SPA, restaurante e componente formativa. A reabilitação integra o Programa Revive, sendo que o futuro hotel terá que ocupar, «no mínimo, 55 por cento da área bruta de construção». O conceito é o de “boutique hotel” ligado ao tema da neve. Na área restante poderão surgir serviços e comércio, bem como uma residência sénior ou uma residência de estudantes, disse a O INTERIOR Carlos Chaves Monteiro. O Hotel Turismo, que está devoluto desde 2012, foi projetado em 1940 pelo arquiteto Vasco Regaleira e concluído em 1958, sendo um dos edifícios mais emblemáticos da cidade da Guarda.